Se fores morrer pela ilusão
não te iludas com a morte.
Não a glorifiques
além do túmulo
ou das flores
um dia murchas.
Se fores morrer pelo sonho
não te percas do caminho.
Sempre haverá esse gosto acre.
Essa cor alaranjada.
Mesmo debaixo do solo
quando junto à terra
acordares minhoca.
Ou quem sabe
tuas cinzas
ao longe
ceguem viajantes
causem lágrimas
em donzelas.
Se fores morrer
e tiveres coragem
não grites
quando a luz do quarto
apagar-se e da escuridão dos cantos
os lamentos dos solitários.
Ouvirás tuas botas
como nunca.
Terás medo das sombras
das tuas camisas penduradas.
Se queres morrer aprende
a não ter dúvidas.
2 comentários:
Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom.
Pode a noite descer
(A noite com os seus sortilégios!)
Encontará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa no seu lugar.
Domingos, o seu poema lembrou a Consoda de Manuel Bandeira. Olha a ironia: um poema como esse, com esse tema, chamado Consoada!
Se queres morrer... Mas ninguém quer morrer, todo mundo vai contra a vontade!
E me lembro de outro poema, de Fernando Pessoa, sem título, que começa assim: "Se te queres matar, por que não te queres, matar? / Se te queres matar, mata-te. / Não farás falta nenhuma."
Às vezes a poesia é terrível.
Um grande abraço.
José Carlos Brandão,
bacana lembrar-me
Manuel Bandeira
e Fernando Pessoa:
meus anjos
quando a Poesia
faz-se terrível.
Empurram-me com maestria
abismo abaixo.
Um forte abraço,
Poeta.
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