Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entritecidos
a pele assaltada de indecisão.
quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida!
Como a fecharei, se não for santa?
Um comentário:
Gosto de Adélia Prado, Socorro.
Penso nesses poetas tão seguros de si - será? - que pensam que o poeta tem que ser ateu. Oras, se a poesia é um ato de fé! A poesia é uma forma de oração. O poeta que se diz ateu vai acabar indo para o céu em que não acredita - sem saber, passou a vida em oração.
Um grande abraço.
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