Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 31 de julho de 2010

Uma quadra violenta - Emerson Monteiro

As rajadas frias desse vento de julho do sopé da Serra escorregam nos sonhos quais fitas de sons estridentes, segredando mistérios de um tempo violento. Impactos de automóveis. Assassinatos. Sequestros com desaparecimentos. Crianças mortas sem explicação, como se houvesse explicação para a maldade. Assaltos. Essas coisas que ninguém gosta de escutar. Reportagens com pessoas indignadas face aos acontecimentos perversos. Expectativas de mudança a qualquer custo, onde possíveis alentos de renovação nasçam das eleições que se aproximam, nos seus mesmos carros e cartazes espalhados pelas ruas.
Os números financeiros indicaram prejuízo astronômico dos bilhões de litros de petróleo derramados impunemente abandonados ao mar, destruindo vidas. Soldados jovens indo matar outros jovens no Afeganistão. Mesmos movimentos de tropas. Velhas opções do desassossego. Garantias do dia de amanhã internacional.
E o cinema deu de apresentar filmes com gente assustada, riscos de ameaça pelo ar e desastres fantasmagóricos, pessoas pálidas, dentuças.
Conquanto haja secura de esperança pelo ar, as loterias falam outras línguas. Gritam sustos, desfilam preocupação. Normas desfilam exigentes em cada curva de estrada; sinais apreensivos passando velozes pelas janelas do trem.
Mundo esquisito esse que herdamos ou fizemos... Tanta maturidade a fim de ganhar dinheiro e preservar história de dramas... Marcas ferinas de presas afiadas, no espetáculo de exagero das noites luminosas e luas intensas... Depois, um sol tão bonito de manhã...
Correr para onde, quer-se saber nos programas vespertinos do domingo, enquanto profetas antigos dormem aos roncos. Contenho palavras.
Às vezes penso nessa busca afanosa dos dias das gentes quererem viver mais, amansar a besta do medo da morte, e lembro de quando, bem criança, ao visitar com minha mãe amiga sua que ela tinha nas proximidades da Igreja de São Francisco, em Crato. Na viagem, demos de cara com um enterro. Era a primeira ocasião, que recordo, de olhar de frente o desfile da vida em sua última viagem, na experiência da morte. Com isso, fiquei assustando alguns dias. Quanta peleja e saber-se retornar ao desconhecido, sem apelação...
Grandes as perguntas seculares da filosofia: De onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde iremos depois?
Mediante as vivências deste mundo convulso, de tempos em tempos atualizo as indagações daquela tarde, nas emoções de menino inocente. Na verdade, reservo comigo algumas respostas ao observar a frieza destes tempos atuais, época de tecnologia em alta, largos dispositivos de viver muito, qual protagonista de um drama inacabado. Quantos, pois, perante os impasses e dissabores, gostariam de morrer bem, nos braços carinhosos de Nossa Senhora da Boa Morte, invés de jogados infames ao fim dos corredores escuros, junto de múmias preservadas com aparelhos, em forma de chagas abertas e corações feridos.
É isso, nem sempre as peças do tabuleiro obedecem para dançar a música alegre das comédias... E palavras duras tomam das nossas mãos da gente falando coisas assim desse jeito.

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