Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Craterdã

Que tal, esta noite, ouvir uma jam session,
Com Normando e Nico, no Batente, sob o luar?
Antes, porém, vamos tomar uns tragos
Na Praça da Sé, no Silvanir Bar.
Lupeu, com certeza, estará lá,
Vindo de uma cansativa semana de trabalho,
Depois de cumprir exemplarmente
O seu digno ofício de carteiro.

Quem sabe, ele trará Catarina!
E eu darei a ela um bottom de Elvis Presley,
Feito por Jerry, aquele que tem um pai
dono de uma deliciosa aguardente envelhecida
numa ancoreta de pau-vermelho.

Iremos direto para o Xá-de-Flor
Encontrar toda a rapaziada,
Celebrando a noite ao som de um repertório
Quase tão antigo quanto o velho casarão
Que abriga uma antiga rapaziada.

Amanhecendo, na minha Yamaha TT amarela,
Vamos amenizar a ressaca, com um terapêutico banho
Na fonte da Pedra da Batateira,
Reviver um ritual de ancestralidade cariri
Para recuperar as forças e o sono perdido.
Dormiremos um pouco, ainda, aturdidos,
Equilibrando-nos nas ruínas do Tancão,
lugar sagrado para os guerreiros da tribo.

Vamos tomar um sonrisal
No Bar do Wilson, no sítio Rosto.
E não tendo mais para onde ir, sempre resta um lugar:
A casa de Luís Cláudio e Ana Rosa,
Jogar umas partidas de xadrez, com cerveja e tira-gosto.
Eles estarão sempre lá, hospitaleiros,
Esperando os comensais costumeiros .

Mas não há tempo para cochilos. A tarde avança.
Estamos novamente ébrios e um compromisso nos chama:
Ensaio da banda Lerfa Mu,
No fim-da-tarde, na Oca de sala e banheiro,
Praça da Sé, Altos, defronte a praça
decorada com uma bandeira verde com o v no meio.

Tragos iniciais, riffs de guitarras,
Tambores incessantes marcando
O ritmo de Lupeu escrachando:
cassetetes elétricos, quebrando
lombras, ossos e sonhos!

(Intervalo).

Descem todos para o Silvanir Bar. Molhar a garganta.
Espiar a paisagem urbana e ouvir outras músicas urbanas.

Mais uma noite mergulha no vale.
Mais uma noite tranqüila de sábado.
O melhor, talvez, é ir
Descansar.  De preferência em braços
Companheiros que nos abraçam
Sorrateiros.

(Lerfa Mu)

Nesses dias tortos, frios ou mornos
Quando a cama vira uma nave
E o olho abre sonolento
Sem o bote daqueles dias decisivos
Numa praia da Normandia
No cume do Tibete
Ou no telhado da vizinha

Lembro daquelas noites quentes
Em teto de concreto
Um saxofone solitário ou em duelo
Dos solitários homens do norte

Não existe mais o Bar de Silvanir nem o Xá-de-Flor
Onde molhávamos goelas com goles homéricos.
Mas a praça bicentenária
Com seus oitizeiros decanos
Permanece impávida que nem Ali
Fazendo sombra para os profanos
Casais namorando em frente à Igreja da Sé

Sim todos aqueles anos se foram
Escoaram pelo ralo e entraram no cano
No túnel no liquidificador
Do tempo que tritura a nossa dor

Lupeu escarra e não lamenta
Tão pouco pede licença
Mas canta a violência
das telas de tv

4 comentários:

socorro moreira disse...

Rafael,

Esse texto é um presente pra vida toda.

Agradeço a delícia da leitura com um abraço bem grande !

Meirinha disse...

Rafael,
Que sintonia é essa? hoje acordei lembrando de tudo que vc escreveu nesse texto, já visitei os blogs de todos os amigos pra matar a saudade; está nas vésperas do meu niver, lembra? minha senssibilidade está à flôr da pele...obrigada por compartilhar os momentos maravilhosos que passamos. Um abraço bem apertado. bjs

Joaonicodemos disse...

acordaremos a floresta
com nossos acordes di-sonantes
com novos sabores e cores
faremos esculpir a rocha
do batente...
e inventaremos novas canções
de gozo e saudade...

Zé NIlton disse...

Não participei, mas, meninos, eu vi! Vi e ouvi os gritos de uma geração. Um cheiro desse tempo passou pelas minhas narinas. O tempo da felicidade, da delicadeza. Só o poeta pra despertar meus sentidos do que vi e ouvi.