Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A chuva destas mulheres - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando o sol amanhecer a umidade do solo levantará assim como caiu e aos céus retornará. Feito nuvem, para distrair as luz dos olhos, pois estará abraçada a todos os corpos na superfície. Se misturando aos suores das águas que vêm de dentro do corpo. Quando o sol clarear o solo sentirá saudades das chuvas que lhe banharam, dos prantos que os céus derramaram e do clamor que os trovões reboaram.

Com a mesma intensidade tal quais as rinites alérgicas ao pólen do caju virão, as abelhas, pensando em preencher os casulos de cera com mel, chegarão. E no pleno da rama que nasce, abrem-se os campos para a tropelia dos faunos com as ânforas de vinho.

Uma sopa quente numa esquina da cidade. Olhares saborosos, mãos cantantes, entre as mesas a costurar um comunitarismo milenar. E quando pensaste nisso, havia no sangue uma ancestralidade dos pés de fogão a manter vivos os corações no rigor do inverno ou a taberna entre viajantes do gelo e os que eram daqui mesmo e do gelo se abrigavam.

Pois o coração da donzela não se encontrava frio. Ao contrário, as chuvas transbordaram suas comportas vastas num alagado de amor. Tão intenso e reprodutor que os casulos se abriram em borboletas, os ovos em revoadas e a cada milímetro do espaço uma vida acordou.

Em cores como um pleno salão de pinturas em outubro. No finzinho da contagem dos dias, uma guerreira atravessou veloz o espaço de Vênus entre ser gestada e juntar todas as almas em torno da expressão do mais demorado sussurro da alma humana. Em formas e cores, em pintura para um povo como uma curadora de almas, uma restauradora dos nossos sonhos em frangalhos.

E lá do meio do caminho, onde os pingos da chuva já se anunciavam, avisou que chegava. Com seus sonhos a atravessar a jornada da insone vida. A juntar fragmentos sobre um tecido branco e ali brincar com nossas emoções só por que tanta atenção nos desperta.

As chuvas que caíram na cidade que se dizem do caju, foram transmudadas nestas quatro mulheres que tornam o cariri muito mais que suas máscaras. E como não se pode rebaixar tal demanda a meros elogios, apenas enuncio a palavra formada pelas primeiras letras dos nomes delas assim como uma Aleph de Borges não ordem de citação: SLEC

2 comentários:

socorro moreira disse...

E eu achando que a noite chegara ao fim. Que a poesia tinha ficado no meio do caminho, protegendo o mel do seu casulo.
Mas a noite contraria o cotidiano. Não importa o sonho... A palavra é azul!

Liduina Belchior disse...

José do vale,

Seu belo texto nos remete a essência do tema. E estas chuvas caindo de fininho no Cariri, abraça e banha todos os corpos ávidos por uma neblina que seja.
Até a próxima trovoada José.

Abraços: Liduina.