Necessidade urgente do crescimento humano, a paciência, hoje mais do que nunca, se torna em instrumento social a toda prova. Com isso, vimos compreender o valor estimável das palavras de Jesus quando indica o perdão e a resignação diante dos obstáculos da jornada. Quando te bateram numa face oferece a outra, ensina o Evangelho.
No mundo de estradas e ruas, nos dias presentes, aquilo que antes figurava apenas pessoas em movimento, no volume individual que ocupava o espaço relativo dos corpos físicos, com a introdução da massa dos carros, o um se multiplicou por vários. O automóvel passou a lotar o chão dos pedestres, e agora os ameaça pela velocidade e transtornos diversos. Cada carro preenche território de oito a dez, doze, pessoas. Banheiras enormes em deslocamento, expulsam para zonas de periferia e campos habitantes de lugares, invade áreas e ameaça a paz de muitos.
O drama desse enxame nas cidades impõe atenção redobrada, sobretudo pelas surpresas que acarretam cruzar as avenidas, atravessar preferenciais e acessar vias expressas. Ninguém mais se sente em absoluta segurança no confronto das bólides luminosas dos tais veículos acelerados.
Os atores do drama, condutores ao modo de salve-se que puder, buscam responder ao desafio desta hora. Cursam autoescolas, prestam exames, desenvolvem habilidades e cumprem as regras do jogo agitado, nessa epopéia de sair para trabalhar, estudar e fazer compras que a aventura representa. Restritos pelos cintos de segurança, apuram a vista e a concentração essenciais à sobrevivência.
Um fator, no entanto, aponta o imprevisível dos volantes. No furor das batalhas, seres humanos de carne e osso, submetidos aos impasses e às falhas do inesperado, se sujeitam a reações nervosas, e gelam. O temperamento psicológico de todo motorista atinge as barreiras do controle, algumas vezes raiando a impulsos bárbaros e criminais.
Aquele pai de família exemplar, cidadão modelo, religioso abnegado, de um momento a outro muda sua costumeira tranquilidade e a calma ocasional, demonstrando comportamentos jamais considerados em iguais situações. De quem agressividade não se esperava, partem gestos e xingamentos dos menos civilizados. O doutor respeitado e educado corre, nessas condições, o risco de responder a homicídios e lesões fora de quaisquer propósitos normais. São os delitos de circulação no trânsito, praga que expoõe os urbanóides modernos.
Praticar ao máximo o domínio de si a humildade, eis só o que guarnece os heróicos paladinos dessa pressa e dos metais. Erguer pensamentos aos céus, no meio da ciranda agressiva e lembrar do amor ao semelhante, que, ali do lado, numa outra nave, também exercita conter a fera solta na arena do asfalto, dentro e fora das couraças brilhantes dessa atualidade inevitável.
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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010
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Um comentário:
Durante a leitura do texto,deixei-me transportar para um filme de ficção, onde inexiste o amor na sua essência e onde reina impaciência na sua inexorabilidade. Que susto! Bati com a face no para-brisa da minha incapacidade de frear a minha iquietude. Obrigada por acordar-me.
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