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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Novamente o aborto - José do Vale Pinheiro Feitosa

O fato do aborto ter sido usado como arma de campanha eleitoral numa sociedade complexa como a brasileira leva e grandes contradições. Uma grande é o comportamento dos próprios casais. Nas classes economicamente mais desprovidas normalmente implica em mortes e danos à mulher e por isso o ex-Ministro da Saúde José Serra regulamentou o que estava em Lei para proteger estas mulheres. Nas classes com mais dinheiro existem médicos e clínicas "clandestinas" com algum apuro técnico e risco menor de complicações.

Antes que me entendam mal: falo no comportamento atual dos casais, mas não estou querendo dizer que isso é a grande maioria. Não é, mas acontece com uma frequência do ponto de vista epidemiológico muito relevante. O assunto é importante por que hoje mesmo tem a notícia de um panfleto ilegal, supostamente editado sob encomenda do bispo de Guarulho, contra a candidata Dilma e, portanto, favorável à candidatura Serra, cujo mote é o aborto. Então o assunto se mantém e continua mote da campanha, pelo menos de modo clandestino.

No sábado a Folha de São Paulo revela a confissão de uma ex-aluna de Mônica Serra, mulher do candidato, relatando que Mônica teria feito aborto numa situação de perigo, na ditadura militar quando eram jovens. A revelação da Folha deu uma revirada no assunto: se voltou contra a tática eleitoral do candidato Serra. Vejam neste insuspeito (não é um amigo do PT) artigo da Folha de São Paulo:

Folha de S.Paulo
FERNANDO DE BARROS E SILVA

Serra em transe

SÃO PAULO - Não resisto a uma provocação inicial: a blogosfera estaria em polvorosa e os serviços da ombudsman da Folha amanheceriam entupidos de mensagens indignadas contra o jornal se a notícia não dissesse respeito a Monica Serra, mas a Dilma Rousseff.

Isso dito, é claro que é polêmica a publicação do relato de uma ex-aluna da mulher de Serra dando conta de que ela (Monica), em sala de aula, revelou já ter praticado um aborto. Não se trata de uma notícia qualquer. Ela coloca em conflito o direito à informação, de um lado, e o direito à privacidade, de outro.

Haverá, neste caso, bons argumentos a favor e contra a publicação. Penso que a Folha acertou, por duas razões principais: com o aborto alçado a tópico da disputa eleitoral (e por obra de Serra), o episódio passou a envolver evidente interesse público. E, tão importante quanto isso: Monica Serra havia dito, há um mês, em campanha pelo marido no Rio, que Dilma era a favor de "matar criancinhas", numa clara alusão à posição da petista sobre o aborto. Ao assumir como sua, e nos termos que fez, a campanha do marido, Monica fixou para si as regras do jogo que estaria disposta a jogar.

O caso (tão desconfortável, tão cheio de implicações desagradáveis a quem o aborda) permite, ou exige, uma reflexão de ordem mais geral. O PT tem sido acusado, quase sempre com razão, de ser capaz de qualquer coisa para se manter no poder. Isso virou um mantra, a despeito da sua veracidade. Mas Serra não está se revelando, já faz tempo, alguém disposto a pagar qualquer preço para chegar ao poder?

Essa pantomima de devoção e carolice que se apossou da campanha tucana (e que nada tem a ver, como parece óbvio, com respeito efetivo pela religiosidade do povo) é a expressão patética de que tudo (biografia, valores, familiares) está sendo sacrificado em nome de uma ideia fixa. Serra sonha ser presidente. Mas se parece, cada vez mais, com o personagem de Paulo Autran em "Terra em Transe".

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