Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Olhem eles aí de novo! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um final de tarde num escritório de uma Agência Estatal. Aqui no Rio. Uma amiga da velha luta democrática, com cargo no governo, declara que votará nulo, advoga a derrota da Dilma, abomina o Serra, mas não vê na sua atitude nenhuma aliança com ele. Na cabeça dela. Na prática ela faz parte de um amplo movimento de classe média para derrotar o PT e dar passagem ao PSDB. Depois farão oposição ao PSDB? Entre um chope e outro.

Qual a questão desta mulher professora universitária com pós-doutorado? Algo impressionantemente banal: ela imagina que a classe média é quem financia os impostos do país e quem paga toda a conta dos pobres e não leva nada. Isso nela, imagina no resto todo pagando plano de saúde caro, escola privada caríssima, seguro contra roubo do seu carro, símbolo de progresso pessoal e assim por diante.

Outra cena. Uma cidade da periferia de San Francisco, visito uma família de classe média naquele típico subúrbio americano: jardins sem muro e quintal para fazer churrasco. O dono da casa com a corda no pescoço, ficou desempregado meses, acabou com as reservas para a aposentadoria digna, teve que receber ajuda do pai, deve uma montanha da casa própria, apavora-se com a incapacidade de não ter plano de saúde, o pagamento da faculdade da filha toma-lhe a margem de segurança, não existe qualquer alternativa e tudo lá funciona na base da grana.

A questão deste americano é a mesma dos brasileiros lá de cima. O “sonho americano” para a classe média morreu. Eles agora precisam de proteção, de algo que substitua o “sonho” por um lastro de segurança como previdência social, garantia de emprego, renda e saúde pública. Acontece que os sócios do “sonho” que se tornaram fortes com o Estado, os grandes capitalistas, se bandearam para o Global, abandonaram os patriotas e foram montar suas fábricas e gerar empregos na China e em toda a Ásia. O americano dizia: aqui não se produz mais nada. Tudo vem de fora. Viramos um país do setor terciário.

Abrindo as páginas de notícia, as manifestações correm soltas na Europa. Por lá, em crise, desmontam o “estado de bem estar social”. Diminuem subsídios sociais, acabam os sistemas previdenciários, diminuem direitos, cortam o dinheiro que ia para o bolso do aposentando e para o salário das pessoas. Na França a rebeldia é tão ampla que os defensores ideológicos do “fim dos direitos sociais” estão temerosos que as “medidas” não vinguem. Os que estes advogam é o mesmo que a professora lá de cima se revolta: direitos sociais só para gente muito pobre. A classe média que se mantenha com as próprias pernas.

Um artigo de um economista francês anda nesta linha. É o fim da picada até a revolução francesa e o advento da universalidade do direito, um tapa olhos sobre a visão da res publica e o que mais temiam: a retorno do fragmento da comunidade. Só que comunitarismo algum sobrevive por si mesmo, tende à fusão e o caminho histórico é o retorno à unidade em torno de “feudos”.

Por incrível que parece, até nas eleições brasileiras o norte aponta para o retorno da época medieval. Feudalismo restabelecido dos retalhos da urbanidade fragmentada. Quem viver verá.

Abaixando o discurso teremos de volta os “neobobos”; os “vagabundos”; os “dinossauros” a semântica de cortar salários, a demissão incentivada e deixar o funcionalismo oito anos sem reajuste da inflação com o artifício fácil de vender estatais e o patrimônio nacional.

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