Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 27 de novembro de 2010

João Nicodemos

Carta a um amigo do Sul.

Meu Caro,

Não quis entrar no tema que ocupou a mídia há algum tempo (alguns dias significam muito tempo para a imprensa novidadeira e sua crônica falta de memória) nem acho que minha opinião tenha grande importância, mas vou dizer o que penso sobre uma história que andou circulando.

Não sei se perdi o gosto pela polêmica e, enquanto poeta, prefiro o silêncio ruidoso das contemplações, ou me conformei com a incapacidade humana de superar seus instintos mais baixos, que nos aproximam dos animais. Falo em segunda pessoa do plural, sabendo que muitos não se enquadram e, espero que eu também, nessa categoria de seres que sofrem da síndrome de Narciso, que “acha feio o que não é espelho”, e que rejeita como feio ou errado tudo o que não se pareça consigo mesmo. Levanto algumas hipóteses sobre o tema:

Desde a infância já exercitamos a xenofobia promovendo brigas com os meninos da rua de baixo, com a torcida adversária, com os alunos da outra escola, da outra classe e enfim, com os que consideramos diferentes.

A própria antropologia e suas ramificações, desenvolve suas pesquisas para identificar e classificar o “outro”, os povos exóticos, diferentes, com suas esquisitices de primitivos, e não pelas semelhanças, que nos aproximam.

Existe um comportamento interessante, creio que herdado de alguma cultura religiosa, de estar procurando saber de quem é a “culpa” em qualquer situação ou acontecimento indesejado. Seja em relacionamentos de casal ou que envolvam maior número de pessoas, é comum ouvir ou dizer: “não foi culpa minha”, “é culpa sua”, “precisamos encontrar os culpados”. Em nome disso a humanidade já cometeu incontáveis violências contra si mesmo, para encontrar os culpados, como se a culpa fosse inerente ao ser humano. Assim, Eva foi culpada por ceder à serpente, Adão foi culpado em ceder a Eva e sucessivamente a “culpa sempre é do outro”.

Já morei nos quatro cantos do Brasil (ainda falta uns tantos) e o que mais me admira neste belo país é sua diversidade cultural, seus sotaques, seus variados sabores.

Cada região, que abrange vários Estados, apresenta peculiaridades regionais tão importantes que é impossível classificar de “paraíbas”, de “baianos”, “nortistas” e generalizar jocosamente os brasileiros de origem do Norte ou Nordeste. Morei por dez anos no Ceará e conheço de perto pelo menos cinco estados da região nordeste, morei em Minas Gerais, Matogrosso do Sul, Rio de Janeiro e atualmente moro na Paraíba. Sei do que estou falando e posso dizer que uma das belezas deste país continental é sua diversidade cultural. Diversidade que anda ameaçada pelas redes nacionais de televisão que desrespeitam sistematicamente as peculiaridades regionais e, por vezes, querem interferir até no fuso horário de um lugar. Pretendem impor um “carioquês” como sotaque nacional padronizando comportamentos e opiniões.

Já ouvi algumas vezes, pessoas jovens falando que o Brasil é muito grande e deveria ser dividido. Isso me assusta muito e fico me perguntando que tipo de sentimento move uma idéia tão disparatada? Será que aprendem isso na escola? Será que é nas conversas pela internet?

Este tipo de opinião se deve à falta de conhecimento da grandeza e da beleza deste país que recebe e abriga imigrantes do mundo todo.

Foi muito infeliz o comentário daquela estudante de direito sobre os nordestinos e as eleições. Espero que ela receba a punição prevista em Lei, e ainda sirva de exemplo e reflexão para os demais que por desventura pensem da mesma forma.

Sustento a idéia de que somos, todos os serem humanos, diferentes uns dos outros, não havendo um só idêntico a mim, ou a você, ou a qualquer outro. Somos todos diferentes uns dos outros e, neste caso, somos todos iguais. Nossas diferenças nos tornam iguais... Parece ilógico, mas não é. Então o melhor é reconhecer e respeitar as diferenças, se quisermos viver em paz.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Devia trocar o silêncio mais vezes por tudo que a gente sabe , mas precisa recordar ou reacender.
Martelo nos egos. Nossos!

Hoje disse para uma amiga: curei-me dos ciúmes. Meu lugar é meu, enquanto humano. Depois não serei matéria. Matéria não ocupa lugar no espaço. Ficaremos todos num só vão...Misturados numa luz comum. Melhor pensar sobre isso, e resolver os desafetos, amando os que nos tornam amáveis.

Eu amo você,m sabia Nicodemos? E essa desnecessária declaração se expande, em muitos outros corações.
Às vezes não gostamos (porque fazemos restrições), mas podemos amar sem restrições.

Abraços fraternos e eternos.

Joaonicodemos disse...

Socorro,
Nossa amizade transcende o tempo...
é a segunda forma de amor que aprendemos, a amizade. A primeira é amor a si mesmo, que aprendemos no seio materno...
Uma bela e forte amizade, está isenta de ciúme, e é construída com dois pilares que se sustentam mutuamente... enfim... pra que tanta palavra pra dizer que eu também te amo...

Claude Bloc disse...

Nico,

Demos uma pausa. Pensemos. E diante desse ruído que o silêncio faz, e perante essa (in)quietude onde o pensamento jaz,possamos nos calar preenchendo de paz e verdade o vazio do nosso universo íntimo... A partir desse instante, possam, então, surgir as novas alvíssaras, novos rumos, novas soluções...

Abraço,

Claude