Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 27 de novembro de 2010

Mundo Acalentado
- Claude Bloc -

Claude Bloc, Célia Ribeiro, Ismênia Brilhante, Gracinha Pinheiro, Simone Brilhante

Há dias em que toco a vida transcendendo meus propósitos. Tento me prender à racionalidade, mas acabo descambando para sentimentos pardos, nostálgicos. Sei, tenho consciência disso, simulo realidades. Perambulo pelo tempo como se pudesse domá-lo. Uma hora, sinto-me presa a ele, outra me sinto livre... De repente, tudo aparece como num sonho mesclado de cheiros, gostos, sons, sentimentos antigos, empoeirados... aí, então, percebo em que se transformou o meu mundo. Aí então, desperto.

Esse meu mundinho acalentado, atualmente, não passa das paredes de meu quarto (que nem é meu). Ele foi se estreitando, se delimitando, pois já não cabe tanta coisa.
Pela estante e prateleiras muitos livros, alguns CD´s, computador, notebook e uma parafernália de fios e telefones portáteis... enfim, minhas coisas mescladas a tanta tecnologia quanto nostalgia. Certas vezes, essas lembranças me fazem chorar de saudade dos (meus) tempos de gravador , da vitrolinha de mamãe que tocava, com o auto-falante na própria tampa, os discos de vinil estampando aos meus ouvidos a bossa-nova, as canções francesas, as italianas, as baladas americanas, o violão de Dilermando, as músicas clássicas... Um pouco de tudo.

Recebi outro dia um e-mail de uma amiga que falava sobre as lembranças que temos de determinadas coisas... Lá estavam fotos de gente sorrindo, gente com as roupas do meu tempo, cabelinhos cortados com franja, brincadeiras de amigos pela rua, pela casa... Minha nossa, foi um chororô danado... Inclusive porque me lembrei das brincadeiras no Pio X, o jogo do ”mata” que fez com que nossa farda de educação física mudasse, para que os meninos não conseguissem ver as nossas pernas adolescentes...

 Lembrei-me também dos problemas que atravessava, próprios da idade, como a minha incorrigível timidez, a insegurança que sentia quando meu corpo de menina se transformava provocando, agora, olhares... e aquela palavra que me fazia encolher-me de vergonha: francesinha!

Tinha também problemas de adaptação com os modos de algumas pessoas como a implicância de D. Chiquinha Piancó. Beliscões nos braços se ela me encontrasse sem mangas. O acintoso observar dos meus pés com o objetivo de saber se o pé que ia pra escola sem sapato, estava machucado de fato... Como eu era bobinha e inocente!

Pensando bem, como o tempo voa! Ainda ontem eu saia para as festas de 15 anos. Ainda ontem, eu dei o primeiro beijo (já bem tardio)... Ainda ontem, passei no vestibular, e não é que até hoje estou lá na URCA presa no passado - que queria que passasse, mas que teima em não sair de minha vida.

Pois então, com um passado tão doce, como eu poderia me preparar para o futuro? Enganaram-me dizendo que tudo ia ser lindo, que eu ia dar certo e que tudo ia ser florido e lindo em meus lindos e sorridentes dias.

Esqueceram-se de me mostrar e me preparar para esse mundo sem fronteiras, esse mundo que me engole na primeira mordida e me prende pelas grades de meu quarto a um passado lindo, cheio de sonhos, mas sem perdão...

Claude Bloc

3 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

É que o passado como evento em movimento não é o importante. O movimento é isso mesmo: dinâmica de transformação. Enquanto nós somos. E sendo, sabemos compreender as mudanças e o que muda. Permanecemos, embora transformados, com a integridade do mesmo. E quanto a isso não lute. Vá longe, que D. Chiquinha Piancó, talvez nem mais exista, mas a integridade se mantém. Não como culpa ou apenas perda, mas sobretudo como conquista de uma vida. A tua vida que é esta janela especial quando aberta aos ares do mundo e dos outros.

Claude Bloc disse...

Zé do Vale,

Vale a pena ressaltar que meu quarto não guarda amargura nem mágoa, nem ressentimentos. Essas coisas escoam pelo ralo...

O que preservo aqui e ali são as boas lições que a vida me proporcionou. Trago aqui, porém, o relato e a lembrança das coisas que não cabiam na minha compreensão, na minha apreciação do mundo, na minha mente ainda tão despreparada para a vida...

Dona Chiquinha realmente já se foi. Eu a admirava e não entendia o porquê do rigor... Depois me disseram que devia ser porque ela não entendia a civilização européia, a maneira como meus pais me criaram. Sem tabus, sem preconceitos, munidos de sensibilidade e apreço pelo povo caririense e vestidos de dignidade diante do mundo novo que abraçaram ao chegar no Brasil.

Ainda hoje me deparo com pessoas que me imaginam ou me julgam com o "olhar pequeno", sem procurar ler minha alma. Me vejo diferente (não melhor, nem pior).

Abraço,

Claude

Edilma disse...

Claude,

Continue sua luta pois as verdadeiras razões para a felicidade ainda continuam a brotar a cada amanhecer.
Não importa se o tempo é outro pois tambem é outro o tempo. Viva cada minuto que ainda resiste a todos os preconceitosn que ao meu ver ainda continuam por aí...
E daí ?
Deixa que digam, que pensem, que falem...
A última garota não é Simone, sou euzinha. Detestava esse vestido feito pela minha avó. Era um saco de batatas...
Horrivel !
Não tinha esta foto, mas lembro que foi lá no Pimenta.
Beijos !