Para o primo Chagas, eterno Cival
Vou sangrar até a última gota deste cálice que transborda o peito
Tingir de tinto o vinho branco que bebo
Ouvir a melodia extraída das bordas da taça pelo ágil dedo
E depois quebrar vidraças e louças
Pois sou apenas um plebeu convidado
Minha mulher sabe valorizar os dotes que tenho
E eu adoro, sobretudo, os seus sagrados seios
Ofereço em holocausto o meu humor cáustico
Quem sabe, um dia, alcançarei o paraíso?
Ou a temporada no inferno esteja apenas começando?
Enxergo no meio-fio da estrada a lâmina fria da espada
Deito no leito de pedras tão macio quanto travesseiro
De cima, o plenilúnio observa com suas potentes lunetas
Fazendo brilhar o contorno sinuoso do vale em noites cheias
Tenho uma carta na manga que até mesmo desconheço
Sei que a tenho e isso é o que importa
Mas preferiria uma carta daquela que se posta nos Correios
Remetida lá de casa com as boas novas
Aproxima-se agora a hora perigosa
Onde as coisas acontecem ou simplesmente cessam
Ainda bem que carrego no bolso um canivete suíço
A garrafa da minha cerveja não tem tampa de rosca
Como o tempo passa rápido quando se estar tranquilo!
Tão rápido quanto um gatilho nervoso
Até mais rápido do que o supermosquito
Carlos Rafael Dias
Crato, 19 de fevereiro de 2011
Um comentário:
Carlos,
Chagas é o máximo, pura poesia.
Abraço,
Claude
Postar um comentário