Em Presságios, sua terceira exposição em Fortaleza, o artista plástico Bruno Pedrosa
Presságios traz desenhos e pinturas
que formam uma espécie de jogo de ligar os pontos entre o passado e o
presente do artista (CAMILA CAMPOS)
Uma conversa mais demorada com Bruno
Pedrosa e é possível perceber uma inflexão italiana sobre o modo de
falar tipicamente nordestino. O sotaque único é resultado de 20 anos
morando em Bassano del Grappa, Itália, mas sempre com o coração voltado
para as raízes fincadas às margens do Riacho do Machado, em Lavras da
Mangabeira, no interior do Ceará. Artista plástico desde sempre, segundo
o próprio, é das muitas influências e andanças que ele tira o sumo que
usa para compor seu trabalho.
Isso pode ser comprovado na
exposição itinerante Presságios, aberta hoje no Espaço Cultural da
Universidade de Fortaleza (Unifor) e que fica em cartaz até o próximo 22
de dezembro, com visitação gratuita. Em seguida, parte para o Lucca
Center of Contemporary Art (LuCCA), na Itália, e o Museu do Ingá, Rio de
Janeiro. Aos 61 anos, Bruno Pedrosa já conta inúmeras exposições pelo
mundo, incluindo Estados Unidos, Portugal, Espanha e Alemanha. Em
Fortaleza, esta é sua terceira mostra e, segundo ele, a mais importante.
“Com o tempo que eu tenho de trabalho, digo que essa é a mais
importante porque é a mais madura”, explica ele, durante um passeio
entre as obras.
Entre-lugares
Presságios
traz desenhos e pinturas que formam uma espécie de jogo de ligar os
pontos entre o passado e o presente do artista. Segundo o curador da
mostra, o crítico de arte e museólogo italiano Maurizio Vanni, é
possível perceber o que existe de brasileiro e o que existe de italiano
nas obras de Bruno Pedrosa. “A forma, a luz, a superfície, tem algo bem
do italiano. Mas as cores fortes e a tinta espessa, isso é bem
brasileiro”. Para o artista, essas misturas são necessárias, desde que
venham naturalmente. “Você não nasce como um cogumelo. Tudo vem no
subconsciente. É como assoviar caminhando na chuva”.
Mesmo que
tenha se afastado há tantos anos de sua terra natal, Bruno procura
levá-la de alguma forma por onde vai. Tanto é que toda a exposição é
dedicada ao seu pai, Manoel Pinheiro Pedrosa. Da mesma forma, as
lembranças do interior nordestino também caminham entre as telas. Assim,
é possível ver parte de uma coleção de 70 peças batizadas com nomes de
praias cearenses, e seis bicos de pena (técnica de desenho) com os nomes
das seis fazendas do pai. “Até os 12 anos, eu queria ser vaqueiro.
Lembro bastante da minha convivência com os trabalhadores das fazendas
do meu avô. Não tenho dúvida que tenho alma de vaqueiro”.
Não
concordando com o termo “abstrato”, Bruno Pedrosa prefere usar
“neo-figurativo”, para explicar seu trabalho. “Eu poderia fazer
literatura sobre o meu trabalho, mas não quero. Eu vejo a tela no
cavalete e me boto ali”. Quanto às misturas de tantas culturas impressas
entre as cores, ele explica com uma filosofia dita pelo avô quando viu o
neto triste de saudade por saber que iria partir para o Rio de Janeiro
para estudar Artes Plásticas, e se afastar fisicamente da família. “Um
homem pode viver acima ou abaixo do Equador, mas o mundo é mundo em toda
a dimensão da sua bola”.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Nascido
em Lavras da Mangabeira, Ceará, o artista plástico Bruno Pedrosa
formou-se em Belas Artes, Arqueologia e Filosofia. Morando há 20 anos
na Itália, seus trabalhos fazem parte de acervos públicos e privados em
São Paulo, Nova York, Madri e outras cidades
Serviço
Presságios
O quê: exposição de obras do artista plástico cearense, radicado na Itália, Bruno Pedrosa.
Quando: de hoje (20) a 22 de dezembro, visitação de terça a sexta-feira, das 8h às 20h, e aos sábados e domingos das 10h às 18h.
Aberto ao público
Outras informações e agendamento de visitas: 3477 3319
Estacionamento próprio e gratuito no local
Marcos Sampaio
marcossamapaio@opovo.com.br
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