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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Agostino Balmes Odísio, um civilizador no Cariri – por Armando Lopes Rafael

(1ª Parte)

   Tempos tranquilos e difíceis, aqueles do final da década 30 do século XX... Os dias corriam devagar, A inexistência dos meios de comunicação, como os existentes hoje, aliada à precariedade das estradas carroçáveis, contribuía para que as populações do hinterland cearense só tomar conhecimento dos acontecimentos, ocorridos alhures, vários dias depois da ocorrência.

   Os jornais de Fortaleza, por exemplo, chegavam ao Cariri com um atraso de dois dias, pois eram transportados nos barulhentos trens da Rede de Viação Cearense – puxados pela Maria Fumaça (assim denominado, por nossa população, o vagão da caldeira a vapor, alimentada por carvão ou lenha) – que faziam o percurso Fortaleza–Crato, e vice- versa, em dias alternados da semana.

   A edição do jornal “O Nordeste”, órgão oficial da Arquidiocese de Fortaleza, edição da terça-feira, 28 de novembro de 1939, chegou, certamente, atrasado a Crato. E desta veio trouxe um longa e pouco elucidativa manchete: “Imitando o Cardeal de Paris, no seu programa de “estaleiros” para Igrejas”. Logo abaixo da manchete, em letras menores, o complemento explicativo: “O grande surto renovador das matrizes da Diocese de Crato”. Ilustraram a matéria da primeira página, duas fotos: uma de Dom Francisco de Assis Pires, bispo diocesano de Crato, a outra, a fachada do novo Palácio Episcopal, recém-construído. Perdido na vasta matéria este pequeno trecho: “Graças ao espírito iluminado do virtuoso prelado que governa os destinos da Diocese de Crato, as velhas matrizes vêm se remodelado em belos e majestosos templos”. E depois de citar as igrejas dotadas de “embelezamento”, descrevendo as melhorias nela introduzidas, “O Nordeste” esclareceu: “Sua Excia. Revdma. o Sr. Dom Francisco e os Revdmos. Vigários encontraram na pessoa do professor Agostinho Balmes Odisio, o complexo de aptidões para a realização dos trabalhos acima descritos”.

   Tempos tranquilos, aqueles...

    Mas, quem seria esse Agostino Balmes Odísio, no qual os vigários encontraram um “complexo de aptidões"? Tratava-se, na verdade, de talentoso artista, nascido na Itália, escultor, arquiteto, autor de peças teatrais e que, nas horas vagas, gostava de escrever e fotografar. Agostino Balmes Odísio viveu apenas seis anos no Cariri, entre 1934 e 1940. Neste curto espaço de tempo produziu bom número de obras de arte, fincadas no Sul do Ceará, sendo a mais conhecida a Coluna da Hora, -- foto ao lado -- com 29 metros de altura, encimada pela estátua do Cristo Redentor, esta com 6 metros – totalizando 35 metros – localizados na Praça Francisco Sá (também projetada pelo escultor italiano), em Crato, ainda hoje considerado o ícone daquela cidade e o cartão-postal mais conhecido da Princesa do Cariri.

O Cariri da década 30

   Quando chegou ao Cariri, Agostino encontrou uma região promissora, embora atrasada “ano-luz” em relação ao Sudeste brasileiro, onde ele vivera os últimos vinte anos. Em Juazeiro do Norte, onde se fixou, a quase totalidade das casas não dispunha de energia elétrica, e a iluminação noturna, nas residências, era proporcionada por candeeiros com pavios, alimentados por querosene. Não havia água encanada nas casas. As famílias utilizavam grandes potes de barro para armazenar o líquido, que era transportado no lombo de jumentos. A maioria das residências era de taipa e chão batido. E mesmo as construídas com tijolo possuíam cômodos escuros, com pouca ventilação. Além disso, as residências eram destituídas de instalações sanitárias. As mais aquinhoadas possuíam, no quintal, uma “sentina”, a latrina, com um buraco aberto no chão para as necessidades fisiológicas dos seus habitantes. O mau cheiro dali exalado, vez por outra, invadia o ambiente domiciliar. Banhos? Só os “de cuia”, como eram conhecidos os asseios corporais, feitos com água contida numa lata de flandre, cujo líquido era tirado por meio de pequeno caneco de alumínio.

   Não existiam hospitais no Cariri. Além do mais, a região possuía um dos maiores focos de “tracoma” do Brasil, a doença da inflamação da conjuntiva (o revestimento delgado e resistente que reveste a parte posterior da pálpebra) causada por vírus e bactérias, penalizando com a cegueira a muita gente do Cariri.

    Tempos difíceis, aqueles...
(continua abaixo)


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