O mundo se resumia apenas em uma rua na mente de uma criança. Os limites iam desde a casa do Sr. Antonio Alves até a oficina do Sr. Moreirinha. Sair mais adiante para a escola Pio X na praça da Sé, só acompanhada de Vilanir. E a alma de criança se deliciava com aquele imenso mundo de descobertas vividas apenas em uma rua. A rua da vala...
Menina sapeca, só uma entre três irmãos. As brincadeiras eram de meninos. Jogava bola no final da tarde enquanto todos trabalhavam na casa e depois de muito corre- corre e suja de barro, era hora de mudar para se tornar a princesinha . Vestido rodado, grande laço na cintura, meias de crochê, os cabelos eram penteados com capricho, afinal, todas as tardes as menininhas passeavam na calçada. Ao anoitecer a luz elétrica dava o sinal para apagar três vezes e tudo escurecia, era horade dormir. Tudo começava com um outro dia cheio de novidades na rua da vala...
Tinha o homem que vendia maçãs todas as quintas aguardado por todos com o dinheirinho bem apertado entre os dedos da mão. Vermelhas, brilhantes, lindas como a lembrança da história da Branca de Neve e estava ali mesmo , naquela rua. As duas da tarde, todos os dias, era do padeiro o caminho da calçada, pão dôce quentinho com a forma de jacaré. Coisas simples e deliciosas para a garotada. Sem deixar de falar do picolé de Bantim que os meninos traziam de uma audaciosa corrida atravesando o beco e chegando a praça Siqueira Campos. Os correios ficava na esquina para colecionar os selos. No prédio do palácio do comércio, a alta escadaria para a nossa felicidade, e ainda o escritório da Companhia Real que estampava nas paredes as fotos dos lindos aviões, pilotos e aeromoças. Os bangalôs da rua pertenciam as familias ricas, como Sr. Antonio Alves, Dr, Hermano Teles, Sr. Aderson Tavares. As outras eram simples e de paredes coladas , enfileiradas e todas com calçadas que perdiamos de vista até o canal...
O dia mais festivo era de chuva. Todos nas janelas admirando aquele rio forte e perigoso, sair , era proibido. As águas turvas e barrentas que vinhas dois dois lados da cidade, desciam com uma velocidade tão grande que levavam tudo pelo caminho. Um espetáculo agurdado todos os anos, e depois de tudo, a brincadeira dos barquinhos de papel de corriam pelas cochias e iam embora rapidadente... ficava uma arreia fininha para o jôgo de triangulo e bila, hora dos carrinhos e bonecas sairem de casa. Nas noites de São João podiamos ficar até a luz ir embora pois as fogueiras iluminam a rua da infãncia. Cada um recebia uma caixinha cheia de traque, pixites e bombinhas compradas em Sr Heleno. E tudo era festa !
Se ficasse dodói, os doutores estavam na rua, Dr. José Wlisses, Dr. Jéferson e Dr. Mauricio Teles, se precisasse estudar Juraci Batista estava nos esperando com a terrivel palmatória. Não havia doenças graves, só olhinho com dordolho que amanheciam fechados, nada que uma água morna não resolvesse. Bebia leite com toddy e tomava Emulsão Escot que o papai dizia que era pra não ficar burra e raquítica .
Felizes lembranças que ficaram para sempre de uma rua tão pequena e tão grande no coração de criança... As amiguinhas ? Foram embora atrás dos seus sonhos...
Mas reencontrei três preciosas delas, Zélia,Verônica e Socorro Moreira.
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Edilma Rocha
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Edilma Rocha
3 comentários:
Edilma ,
Texto rico de lembranças. Retrato fiel da nossa infância.
Obrigada pelo carinho.
Vc ainda tem endereço naquela rua. Na casa alugada aonde morei , existe um prédio comercial, sem chaminé, sem o canto da minha avó,sem o cheiro dos bolos de Eunice.
Ainda passo devagar naquela rua, procurando o carteiro ou alguma amiga, na janela de alguma casa.
Ainda posso visitar os seus pais ,e viver o calor da amizade que o tempo não esfriou.
Abraços, amiga !
O quadro "repentes" é a tua cara. Vc é boa de rima ! Entre na roda .pegue o mote , e deixe o desafio.
Sim amiga, a rua da vala foi ponto de referência pra nossa geração.
Bom te encontar, temos ainda muitas figurinhas para trocar.
Beijos!
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