Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

COMO FUGIR DE UM MITO ASSIM CONSTITUÍDO? - por José do Vale Pinheiro Feitosa

- Não é apenas saudade de mãe. A fala mansa ao pé do ouvido quando todos gritam comigo. É disso que tenho falta quando meus braços não são capazes de abraçá-la. É do abraço dela, dando um peteleco no mundo com tal poder que minha incompetência se iguala ao mundo. Nem sou menor e nem o mundo maior.

- Rapaz tenha o pulso da vida. Ela é só tua e apenas você pode dar conta dela.

- Mas a mãe me empresta saldo da conta corrente dela. Sempre que meu patrimônio líquido fica negativo, minha mãe chega com seu patrimônio intangível me ofertando materialidade com todo aquele poder imaterial do seu amor.

- E além do mais corres o risco de cair na subjetividade. Perder todas as linhas pragmáticas do necessário cotidiano da vida que corre nos pântanos encharcados igual desliza no asfalto.

- Mas é do primeiro momento da fala do mundo. Desde que a primeira criança disse “mater”, pensou em leite da mama, fez seu pacto com a vida material aqui neste mundo. Pois a palavra mãe ao se tornar a raiz da palavra matéria me compôs como parte viável do externo ao seu útero igual fora nidificação no interior deste.

- Mas uma vez realizado o pacto cá fora, todos se tornam gestor deste pacto. Cada um irá cuidar de si até para que outros pactos se realizem no futuro.

- Cuido deste pacto como parte da primeira mamada, do primeiro banho na água recolhida por ela, no ninho em que me pôs para o sono dos primeiros momentos. Sinto quando a dor é apenas minha e nem uma voz que se some a tão solitário evento. Quando algo esquecido e nem ela para lembrar-me. Apenas com aquele sentimento de incubar-me dentro e fora dela tive a certeza que o maior horror é menor do que a interpretação pavoneada que todo horror trás em si.

- Mas sempre chega a hora do adulto. Em que se perca a proteção que reduz a luta, mas nos oferta a plenitude de todas as nossas funções. Que nos cria em responsabilidade plena diante dos outros. Que ao avocar para si os problemas inerentes, os faça com sensatez, equilíbrio e racionalidade. Que possa atingir a sua perfeição relativa.

- Mesmo uma vez lá chegando à vida adulta, o maior mito condutor deste nosso mundo ocidental, teve até o último instante a dimensão do pacto com o mundo. Com ele pelas ruas de chibatadas, a mãe sustentando as pisadelas no cascalho da insanidade de vias coalhadas de algozes imperiais e gritos do próprio povo. Mesmo na cruz o elo entre o chão e os céus foi aquela Maria que não se deu por satisfeita com o estágio adulto da cria. Durante todo o período até a ascensão o pacto maior não foi aquele com os céus, mas o que ficou na terra igual toda mãe faz no primeiro instante que alimenta o filho na soleira do mundo.

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Nesta narrativa bíblica, não é sem igual que o Pater seja aquele que expulsa a cria do paraíso. Aquele que desde cedo desaloja o quente carinho do lar e aponta os campos de guerras e caças aos filhos. Afinal estamos no universo da Mesopatâmia e de todo o médio oriente, tanto a Indo-Europeus quanto semitas. Os mitos fundadores, contrapondo a expansão de caçadores e coletores ao sendentarismo agrícola. Daí este diálogo mitológico que se perpetua até hoje.

socorro moreira disse...

A tônica do dia de hoje foi o amor.
Estou comovida !