Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Francisco José parece ser da Globo, mas na verdade é do Crato - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Existem nomes próprios adotados pela cultura. O mais interessante é que são nomes completos inclusive com sobrenome e este é o caso de Chico Brito (ou de). Por exemplo Wilson Batista e Afonso Teixeira compuseram um samba gravado entre outros por Chico Alves, Paulinho da Viola e até Lulu Santos: Lá vem o Chico Brito,/ Descendo o morro nas mãos do Peçanha, /É mais um processo! /É mais uma façanha! /Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte, / É valente no morro,/Dizem que fuma uma erva do norte./Quando menino teve na escola,/Era aplicado, tinha religião,/Quando jogava bola era escolhido para capitão,/Mas, a vida tem os seus revezes,/Diz sempre Chico defendendo teses,/ Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou, /A culpa é da sociedade que o transformou./ Lá vem o Chico Brito,Descendo o morro nas mãos do Peçanha,/ É mais um processo! /É mais uma façanha!/

Um samba que discute a culpa entre o indivíduo e a sociedade. Bem ao estilo do Wilson Batista que se envolveu em famosa disputa com Noel Rosa. O outro é um tipo baião composto por Chico Anísio e Dolores Duran gravado por Elis Regina e por grande número de cantoras: Sou filha de Chico Brito, pai de oito filho maior /Nascida em Baturité, criada a carne de sol / Sete home e eu mulher, oito filho pra criar /Sete home pra mexer e a mulher pra... /Dos oito filho do velho, tem sete que se casou /Os home fez casamento e cinco já procriou / Só eu e que to sobrando, na certa Deus se enganou /Acabo me abilolando, /porque o meu caso é casar /E caso de quarqué jeito, caso inté, uh... /De tanto pisca os olho, já tô ficando zarolha /De tanto chama com a mão, na mão já tenho inté bolha /Já fiz duzenta novena, já me cansei de rezá /Meus cutuvelo ta inchada, de no portão debruça / Mas caso de quarqué jeito, caso inté, uh... /

Mas aí vem o nosso Crato que não se deixa ficar prá trás e tem seu próprio Chico de Brito. O coronel Francisco José de Brito de cuja ação como intendente da cidade foi austera, destemida e “sem conversa fiada”. Andou fora da lei fosse pobre, remediado ou rico sentia os efeitos da lei. Dizia o Coronel: “a lei é dura, mas é lei”. Daí se criou a expressão que todos ainda hoje repetem: “a Lei de Chico de Brito”.

Então é o repórter da TV Globo, Francisco José, filho do coronel Chico de Brito. Do seu segundo casamento com uma senhora muito bonita da família Libório Cavalcanti do distrito de Baixio do Facundo em Potengi. Por faltar-me o nome próprio, usarei o nome íntimo da família que a chamava Morena. Casou-se com o Coronel ainda muito jovem, contam que tinha longos cabelos pretos e desfilava em vistoso cavalo, usando calças compridas pelas ruas do Crato. Mesmo aquela Valquíria Morena encantando todo coração volúvel dos homens, não havia quem ousasse qualquer galanteio.

Francisco José tem exatamente o nome do pai e na infância era muito católico. Logo foi estudar no seminário São José. Idelides Libório, prima da Morena, ouviu desta a frase: Idelides eu não vou deixar herdeiro, Francisco José quer ser padre. O jovem mesmo nas férias ajudava missa nas imediações de sua casa. Depois foi para Recife e hoje quase ninguém do Crato tem contato com ele. Aliás, salvo engano ele não se faz muito presente na cidade.

O professor José do Vale e Manoel Baptista Vieira eram sócio na Livraria Católica. Além de livros, tinha serviços de vidraçaria. Um dos fornecedores dos dois era o Sr. Fernando um Português que tinha uma fábrica em Recife. Acontece que o fornecer ficou viúvo com mais de seis filhos. A maior parte mulheres. A mulheres dos anos sessenta que estudaram no Santa Teresa devem lembrar da Clélia, Cleide e Cláudia. Como se deu esta trama?

O professor José do Vale era, por laços de família, ligado aos Libórios e com isso amigo da Morena então viúva do Coronel Chico de Brito. Seu Fernando tornara-se grande amigo do professor e aí este, homem de enorme poder de união, funcionou como cupido. Morena casou-se e a família mudou-se para Recife. A Cleide era afilhada da minha mãe e do meu pai. Esta menina encantou meu coração de menino de tal modo que até hoje o tem como doce lembrança. Mas, para meu azar, soube de outros tantos apaixonados por ela, só falta o Nilo Sérgio ter namorado-a.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Eita! Texto, deliciosamente "tramático"!
Primeiro porque gosto de saber as histórias da música e as curiosidades sobre o povo e suas origens.
Por coincidência, existia na Rua Santos Dumont , a residência de Seu Cesino(?) Brito.Ele tinha uma loja de tecidos , no mesmo ponto, além de ser proprietário de muitas casas de aluguel.Morávamos em uma delas , na Rua da Pedra lavrada.
Meus pais e avós tinham boas relações de amizade com essa família.As filhas (Célia e Nadir foram nossas queridas professoras , no curso primário , no Instituto S.Vicente Férrer).
Mas voltando à coincidência...
Seu "Cesino" tinha uma neta de nome Jaceilde (?),que andava à cavalo com todo garbo, inclusive às vezes, puxando uma charrete. Era o máximo vê-la passar ou chegar , na Rua da minha tia Ivone.Admiravamos-lhe o porte elegante , e os cabelos de índia.
(Tenho um primo que era apaixonado por ela.)
E, chegando nas meninas internas do Santa Teresa , vou sentar por aqui um bocadinho, e cuspir três vezes...
-Nilo Sérgio não tarda a chegar!

Joaquim Pinheiro disse...

Dedé,
Mundo pequeno. Cleide, que vc menciona, foi minha vizinha muitos anos. Mudou-se este ano para um prédio na mesma Rua. É casada com um endocrinologista de renome aqui, Dr. Luciano Teixeira. Conversei muito com ela sobre o Crato. Não sabia que era afilhada de Tia Gisélia. Entregarei uma cópia do seu texto a Cleide. Abraço

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Quincas: faça isso, mas não conte para Tereza. E nem para a Raquel. Mas me diga da reação dela.