Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ao primeiro dia da semana - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Ao abrir a porta da tua casa imaginei o segredo que nela havia. Os compartimentos que se conservam ocultos, ignorados, incógnitos. Tentei os armários dos insetos não divulgados, as dúvidas escondidas, os desejos encobertos, as reflexões não reveladas.

Mas em tua sala, mesmo no mais remoto banheiro em que sentas ao passo das formigas em marcha do futuro, tudo era aparente, visível ao primeiro lampejo d´olhos. Todos os compartimentos às claras, nada dissimulado, até mesmo o metabolismo orgânico se movia entre a ponta do filtro do cigarro e o pulmão “tossigoso”, manifesta-se íntimo como a fisiologia química dos glóbulos vermelhos digeridos até o ferro escorrer pelos ductos em biles intestinal.

Existem mistérios. Em tua casa o mistério é vocábulo ativo. Mas é um mistério sem reservas em virtude que tudo que te envolve, desde o mosquito da dengue, até aquela dúvida existencial das amebas, circula pelos corredores, sobe à cumeeira da casa e desce pelas ruas como uma enxurrada invernosa.

Há um significado substantivo para o teu ser. O teu existir. Que existe como conhecimento reservado, que certamente nunca se revelará, pois há simultaneamente nesta banda que tudo revela, um mistério que é, afinal, a fórmula infalível de ser singular na vida. Na vida como sofrem os poetas, todos os dias como aquele compartimento do órgão musical em que o ar é comprimido.

Mais do que esta beleza deslumbrada de patricinhas e mauricinhos, há nos poetas as asas longas do abutre que todos os dias lhes come o fígado e ao anoitecer se refaz só para o alimento posterior da ave a grasnar.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Que maravilha !
Eu fico babando...Queria ter escrito isso !

Domingos Barroso disse...

Almas, almas, almas:
o silêncio boquiaberto.

Secretamente.

José do Vale Pinheiro Feitosa,
areia colorida fora da garrafa:
pegou em cheio meus olhos...