Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 1 de novembro de 2009

George Bernard Shaw


G. Bernard Shaw (ele detestava o "George" e nunca o assinava, nem pessoal nem profissionalmente) nasceu no ano de 1856 em Dublin, dentro de uma família de classe média, descendente de protestantes escoceses. Seu pai era um comerciante falido, com problemas de alcoolismo e de vesgueira (que o pai de Oscar Wilde, famosso cirurgião de Dublin, tentou corrigir sem êxito); sua mãe era cantora profissional, discípula particular de Vandeleur Lee, um professor muito conhecido pela originalidade de sua metodologia e abordagem no ensino do canto.

Quando Shaw completou dezesseis anos, sua mãe abandonou o marido e o filho, para viver com Vandeleur Lee em Londres, juntamente com a irmã mais velha de Shaw, Lucy (que posteriormente viria a ser uma grande cantora lírica). Shaw ficou em Dublin com seu pai, terminou seus estudos (que detestava profundamente) e foi trabalhar como funcionário público em uma repartição (que detestava tanto quanto a escola).

Assim, não era por acaso que as peças de Shaw, principalmente "Misalliance", estavam sempre
impregnadas de relações problemáticas entre pais e filhos: crianças que cresciam longe dos pais; filhos abandonados, órfãos, herdeiros adotados; pais que exigiam injustamente obediência e afeto dos filhos, etc.

Em 1876, Shaw deixa Dublin e seu pai, mudando-se para Londres, onde passa a viver com a família de sua mãe. Morou com a mãe e a irmã enquanto fazia carreira na área de Jornalismo e Letras. Seu primeiro trabalho criativo foram obras em prosa; escrevera cinco romances (o primeiro deles apropriadamente intitulado "Immaturity"), sem publicá-los. Lia vorazmente nas bibliotecas públicas e na sala de leitura do Museu Britânico. Envolveu-se com a política progressiva. Ao fazer comícios em praça pública na Hyde Park e nas reuniões socialistas, aprendeu a superar seu medo de falar em público e a não gaguejar. E, para atrair a atenção das massas, desenvolveu um estilo discursivo enérgico e agressivo, que é nitidamente percebido em todos os seus textos.

Fundou, com Beatrice e Sidney Webb, a Fabian Society, uma organização que visava transformar a Grã-Bretanha num estado socialista, sem revolução mas por uma legislação progressiva e sistemática, com base na persuasão e na educação das massas. A Fabian Society viria a contribuir mais tarde para a fundação da Escola de Economia de Londres e do Partido dos Trabalhadores. Shaw dava palestras na Fabian Society e escrevia panfletos sobre arte progressiva, que incluiam "The Perfect Wagnerite", uma interpretação do Anel de Nibelungo de Wagner, e "The Quintessence of Ibsenism", baseado em uma série de leituras sobre o teatrólogo progressivo norueguês Henrik Ibsen. Paralelamente, como jornalista, Shaw trabalhou como crítico de arte e crítico musical (assinando sob o pseudônimo "Corno di Bassetto") e, posteriormente, de 1895 a 1898, como crítico teatral para a "Saturday Review", onde seus artigos eram assinados com as iniciais "GBS".

Em 1891, a convite de J.T.Grein, empresário, crítico teatral e diretor de uma sociedade
progressiva para novas peças teatrais, The Independent Theatre, Shaw escreveu sua primeira
peça, "The Widower's Houses". Ao longo dos doze anos seguintes, produziu mais de uma dúzia de peças, embora quase sempre falhasse em persuadir os donos dos Teatros de Londres a produzi-las. Algumas foram encenadas em outros páises; uma delas (Arms and The Man) foi produzida sob os auspícios de um administrador experimental; outra (Mrs.Warren's Profession) foi censurada pelo examinador de peças de Lord Chamberlain (funcionário civil que, de 1767 a 1967, era encarregado da censura de todos os dramas encenados na Inglaterra); muitas de suas peças foram exibidas em apresentações únicas por sociedades privadas.

Em 1898, após uma enfermidade séria, Shaw se aposentou como crítico teatral e se mudou da casa de sua mãe (onde ainda vivia) para se casar com Charlotte Payne-Townsend, uma irlandesa financeiramente independente. O casamento (que possivelmente não chegou a ser sexualmente consumado) durou até a morte de Charlotte, em 1943.

Em 1904, Harley Granville Barker, ator, diretor e teatrólogo, vinte anos mais novo que Shaw, que apareceu numa produção privada de "Candid", de Shaw, foi nomeado para dirigir o Teatro da Corte de Sloane Square, em Chelsea (longe da "Teatrolândia" no movimentado West End), transformando o local num teatro experimental, especializado em dramas atuais e progressivos. Durante quase um ano, Barker produziu três peças de Shaw (que levavam oficialmente o nome de Barker como diretor, mas eram efetivamente dirigidas por Shaw). Shaw começou a escrever novas peças, levando especialmente em consideração a interferência de Barker. Nos dez anos seguintes, apenas uma das peças de Shaw (Pigmalião, em 1914) foi produzida por Barker, ou por seus amigos e colegas de outras organizações de teatro experimental na Inglaterra. Com os direitos autorais, Shaw, que se tornara independente financeiramente através do casamento, ficou rico. Ao longo da década, permaneceu atuante na Fabian Society, no governo da cidade (era membro do sociedade de St. Pancras em Londres) e nos comitês encarregados de eliminar o rigor da censuara na dramaturgia e de fundar um Teatro Nacional subsidiado.

A eclosão da guerra em 1914 mudou a vida de Shaw. Para ele, a guerra representava a queda
do sistema capitalista, o último suspiro dos impérios do século XIX e um trágico desperdício
de jovens, tudo sob a égide do patriotismo. Expressava suas opiniões em uma coluna jornalística, intitulada "Consenso sobre a Guerra". Esses artigos se transformaram em um desastre para a imagem pública de Shaw: ele passou a ser tratado como um despatriado num país que adotara como seu, falava-se até em traição. Parou de produzir suas peças e só conseguiu escrever uma única grande peça durante os tempos da guerra, "Heartbrake House", onde projetava sua amargura e desesperanças sobre a política e a sociedade britânica.

Após a guerra, Shaw recuperou sua força e reputação como dramaturgo, produzindo uma série de cinco peças sobre a "evolução criativa", "Back to Methuselah" e "Saint Joan", em 1923. Em 1925, ganhou o prêmio Nobel de Literatura. (Como não precisava do dinheiro, doou o prêmio para a produção inglesa do dramaturgo suíço August Strindberg, que nunca recebera um Nobel pela Academia Suíça). As peças de Shaw eram produzidas e reencenadas regularmente em Londres. Várias companhias teatrais nos Estados Unidos também começaram a produzir com freqüência suas peças, antigas e recentes (especialmente o Guild Theatre de Nova Iorque e o Hedgerow Theatre, em Rose Valley, PA, que se tornou internacionalmente conhecido por promover as peças de Shaw e do dramaturgo irlandês Sean O'Casey). No final de 1920, foi lançado um festival de Shaw na Inglaterra (em uma cidade chamada Malvern, por coincidência).

Shaw viveu o resto de sua vida como celebridade internacional, viajando pelo mundo e sempre envolvido com política externa e interna. (Visitou a União Soviética, a convite de Stalin, e esteve rapidamente nos EUA, a convite de William Randolph Hearst, pisando em terra firme por duas únicas vezes, uma para a palestra no Metropolitan Opera House, em Nova Iorque, e outra para almoçar no castelo de Hearst, em San Simeon, California). E continuou a escrever milhares de cartas várias peças.

Em 1950, Shaw caiu de uma escada, quando enfeitava uma árvore em sua propriedade em Ayot St. Lawrence, na cidade de Hertfordshire, arredores de Londres, vindo a falecer poucos dias depois das complicações do acidente, com 94 anos de idade. Ele estava trabalhando em uma nova peça (Why she Would Not). Em seu testamento, legou boa parte de seus bens a um projeto voltado para a reforma do alfabeto inglês. (Apenas um volume foi publicado com o novo "Alfabeto de Shaw": uma edição paralela de seu "Androcles and the "Lion"). Após o fracasso do projeto, os bens foram repartidos entre outros beneficiários de seu testamento: a Galeria Nacional da Irlanda, o Museu Britânico e a Academia Real de Artes Dramáticas. Os direitos autorais das peças de Shaw (e do musical My Fair Lady, baseado em "Pigmalião") contribuíram para estabilizar os orçamentos dessas instituições a partir de então.

O corpo de Shaw foi cremado. Desejava que suas cinzas fossem misturadas com as de sua esposa, Charlotte, que falecera sete anos antes, e espalhadas em vários cantos de seu jardim. Durante sua longa carreira, Shaw escreveu mais de 50 peças.
traduzido de: http://www.english.upenn.edu/~cmazer/mis1.html

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