Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 1 de novembro de 2009

Morte em Venezan( Luchino Visconti, 1971)- Thiago Macêdo Correia


Gustav von Aschenbach é um músico determinado a fazer de sua obra a busca incessante pela perfeição. A criação da beleza é, não somente o objetivo, quanto todo caminho. Mas segundo um amigo de Aschenbach a beleza não pode ser criada, ela simplesmente existe. E assim sendo seria a busca de Aschenbach algo totalmente vão – e, por sua vez, sua vida. A visita com propósitos de descanso à Veneza revelará para Aschenbach a mais terrível das surpresas: a beleza personificada. E com ela a obsessão apaixonada, um amor impossível, a decadência gradativa e a finitude do ser.

Luchino Visconti realiza uma obra verdadeiramente irretocável. É possível notar o cuidado absoluto de Visconti em cada plano do filme, em cada movimento concebido exaustivamente (nos extras do DVD há um breve documentário sobre o trabalho do diretor), o que torna Visconti o maior esteta que já pisou na Terra e os planos de Morte em Veneza ainda mais impressionantes que de outro filme que prima pela tal beleza, Barry Lyndon. E com o filme de Kubrick este guarda uma semelhança feliz: o uso do zoom. Visconti não ousa aproximar sua câmera de seu personagem e ele nos coloca na posição de voyeur (mesma do personagem diante do mundo ao redor), quebrando a observação geral para nos aproximarmos relativamente de Aschenbach. Mas ao mesmo tempo que essa aproximação é incentivada, ela revela também um caráter de ironia daquele ser que Aschenbach se torna com o desenvolver do filme. Em determinado momento o músico expõe em palavras uma força interior que ele já não mais era capaz de guardar, mas sua figura só é capaz de causar um tristeza absoluta. Acompanhamos Aschenbach e entendemos seu possível estado interior por meio da música extraordinária que permeia todo o filme (poucas falas, longos silêncios), mas seu declínio é dificultado pela estruturação extraordinariamente complexa do filme. Visconti relativiza o tempo e o espaço e muitas vezes é difícil manter a convicção que antes havíamos sustentado, diante de alguma constatação. Até mesmo a paixão por Tadzio é algo inteiramente ambíguo, dentro da tênue limite entre a obsessão pela perfeição e a impossibilidade do alcance. Seguimos um caminho terrível com Aschenbach, sem nenhuma concessão possível; tudo é a desgraça da destruição. A cólera que invade decompõe com muito mais fervor o homem que ama do que corpos menos vorazes pela plenitude. Assim, a impossibilidade da última visão de Tadzio é, sem dúvida alguma, a cena mais bonita do cinema e numa proporção equivalente, uma das mais tristes também.

Morte em Veneza é o filme maior de um gênio, um filme absoluto sobre o amor e o filme definitivo sobre a beleza. Ainda que terrivelmente cruel.



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