Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Alma noturna - por Claude Bloc
(para Camila Arrais)


Noite passada remexi novamente nos meus cadernos e agendas. Encontrei guardado numa delas um lírio ressecado pelo tempo, marcando uma página, com nomes escritos ainda legíveis. O lírio marcava um momento, uma tarde roubada do cotidiano, quem sabe uma tarde de versos sussurrados, de sorrisos, de segredos...

Fiquei recostada ao travesseiro buscando esses registros da minha memória, pois o que é eterno sobrevive. Os sentimentos a gente guarda em algum espaço, não os joga fora simplesmente.

Sempre digo que minhas noites são eternidades. Nessas horas tardias o tempo me leva em suas asas. Viajo sem medo, sem vontade de recusar nada, nem de me arrepender pela ausência de mim nessa alegria latente, ou pela presença em mim de um silêncio emergente. Sinto nessas horas que viver tornou-se simples e urgente! Passo a viver nesses momentos de corpo inteiro. Assim, posso sentir a vida pulsar, o pulso marcando o instante em vibrações por segundo, fazendo o sangue jorrar o tempo presente nas veias, mar abrindo caminhos para o infinito do espírito.

Aguardei, então, segundos decisivos. No meu quarto, o som de violinos me envolvia como se anunciassem um encontro... Encontro com o que mesmo? Com meus fantasmas? Mesmo que fosse, teria que arriscar... Uma lembrança me atendeu: era ele, eu tinha certeza, sua voz estava impregnada em meus sentidos. Primeiro nos comunicamos pela respiração, foram uns alguns segundos assim de um silêncio ofegante... Para minha surpresa, ele pronunciou meu nome como antes, no mesmo tom, no momento exato em que o música vibrava em sustenidos em fás, em sóis, em sons agudos como esse instante do reencontro!

Convidei-o para um café ali no meio da noite. Ele era insone como eu, gostava de mergulhar em devaneios em torno de uma xícara fumegante, alterando em musicalidade as vibrações mais antigas! Isso era tudo que eu desejava. Precisava gastar aquele resto de noite, precisava inventar segundos de puro delírio...

A noite se escoava. Eu estava vestida de azul e perfumada de estrelas por acumulados verões hibernados. Ouvia noturnos, eu era noturna. Dancei com a noite, envolta em seus véus. Deixei-me envolver pela sede e pelo calor. Depois me pus à mesa, xícaras dispostas sobre a toalha natalina, cheiro de café no ar. O tempo parecia não ter passado, parecíamos ser os mesmos, o mesmo cheiro, o mesmo beijo. Mas, a noite era densa e os sonhos foram despertados...

Depois dessa noite, a vida, que andava meio sem sentido, pereceu-me mais leve, descomplicada, sem a angústia que todo futuro contém. Senti-me livre! Minha alma gótica se acalmou. Consegui ver a luz e enxotei as sombras que em mim habitavam e me impediam de senti-la... Senti que ao mínimo contato com essa energia cósmica, a minha própria luz seria revelada. Foi o momento mais luminoso que já tive, êxtase total! Senti-me protegida nesse meu novo mundo interior e que essa descoberta mudaria todos os meus planos...

O dia seguinte se dissolveu, o encontro marcado com o destino é sempre muito tenso, mas saí ganhando. Minha alma passou a vibrar mais do que antes. O café esfriou na xícara, o destino beijou-me a fronte e a noite se diluiu nos vapores dessa espera.
Descobri o eterno, a vida .


Texto (reformulado): Claude Bloc

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