Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O narcisismo




Era uma vez Narciso, filho do deus-rio Césifo e da ninfa Leríope. E Narciso se distinguia dos outros seres por sua rara beleza...

Mas eis que a vantagem se torna maldição, pois ele, ao ver pela primeira vez sua imagem refletida nas águas de uma fonte, se apaixonoupor si mesmo e, como castigo, foi transformado em uma flor branco-dourada, da qual se extrai o narcótico, substância que embota a consciencia e reduz a sensibilidade.

Como os mitos retratam as paixões humanas, os estudiosos da mente logo chamaram de narcisismo a principal e mais característica enfermidade do ego: a incapacidade de dar afeto e praticar qualquer ato que não vise à própria gratificação. De fato, o auto-amor, quando exclusivo, causa a maioria dos desvios de comportamento, não só dificultando as relações interpessoais como também o relacionamento saudável consigo mesmo.

O narcisista enclausura-se no seu ego de tal maneira que não consegue ter nenhum interesse pelo que não é "ele" ou não é dele. Considera-se superior às pessoas, valoriza exageradamente as qualidades que possui ou julga possuir, e é, por isso, hipersensível à crítica, magoando-se por qualquer ninharia que possa ameaçar o pedestal ilusório em que supõe estar. Quando participa de atividades sociais, o portador dessa patologia não o faz pelo prazer de conviver, mas para ostentar-se. Daí, falar invariavelmente das próprias façanhas, numa insuportável egolalia à cata de elogios. Para a consciência narcísica, os outros são sempre admiradores.

Muito preocupado com as aparências, o narcisista cai em profunda depressão por causa do mais leve problema de saúde ou mesmo algum desalinho no aspecto pessoal. Mas, o pior é que jamais consegue ser espontâneo. Suas atitudes são estudadas com o fim de causar boa impressão, pois o reconhecimento e os aplausos lhe são imprescindíveis. Até numa relação amorosa, o narcisista ama, em verdade, a própria imagem projetada na pessoa do outro.

Na forma benigna, o narcisismo recai não no próprio indivíduo (o que ele é ou tem - beleza, força física, inteligência, riqueza, etc.), mas no que ele realiza - trabalho, atividade artística, científica ou literária -, e assim o narcisismo fica limitado pela necessidade de contar com a colaboração alheia.

O narcisista não tira nenhum proveito de seu modo de ser. Alguém o comparou com muito acerto àquele que, achando uma valiosa pepita de ouro, transforma-a em espelho só para contemplar-se no metal amarelo!

O narcisismo individual pode converter-se em coletivo, manifestando-se no ufanismo nacionalista, no racismo, no partidarismo político e religioso e, também, no fanatismo esportivo de que são exemplo as atuais torcidas organizadas de futebol, reponsáveis por atos de vandalismo e violência.

Todos nascemos narcisistas, dado que o auto-amor é necessário à conservação do ser. À medida, porém, que interagimos com o ambiente, nossa atenção e nosso afeto se dirigem naturalmente às pessoas de nosso convívio, de modo que o narcisismo primário, próprio do feto e do recém-nascido, se reduz a ponto de não impedir, na maturidade, o compartilhamento do amor. Quando tal não ocorre é porque não estamos prontos para a vida relacional, como a figura mítica de Narciso.

A educação e as religiões colaboram no processo de superação do narcisismo humano. Aquela com atividades socializantes, em fases precoces do desenvolvimento infantil, e estas, as religiões, com ensinamentos de fraternidade e altruísmo. O preceito levítico Amarás o teu próximo como a ti mesmo é regra milenar no combate ao narcisismo e, também, receita infalível para sanidade mental.

F.R.C. R+C

3 comentários:

socorro moreira disse...

Um texto de muita propriedade !Principalmente pela análise psicológica do Mito. Até lembrei a ninfa "Eco" , que era apaixonada por Narciso...( merece outra análise).

Aproveito, Jairo, para te desejar um Natal de Paz e alegrias.

Grande Abraço !

Jayro F. Starkey disse...

Muito obrigado, Socorro. Te desejo muita Saúde, Paz e Alegria!

Um Abraço

Jairo

Claude Bloc disse...

Gosto de passear pelo mito, pelo mitológico.

Faz-me sentir aquela curiosidade infantil de ler a "realidade".

Gostei dessa abordagem sobre o narcisismo. Muitos se perdem em si e não sabem mais o caminho de volta, onde pode encontrar o outro...

Have a nice and Happy Christmas!
And a very, very special 2010!

Claude