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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Gregório Barrios



Nos anos 40 e 50, a música popular brasileira viveu de forma indiscutível sua época de ouro.
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro cobria todo o território nacional com seus potentes transmissores espalhando músicas, notícias, rádio teatro para todo o Brasil.

Era um tempo de Chico Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas entre outros cantores. Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira entre as cantoras, além de um sem número de outros cartazes.
Foi nesta época que surgiu o bolero. Desde logo, este novo ritmo quente, sentimental, conquistou o seu espaço entre o nosso público, porque quando o momento pede romantismo, delicadeza de sentimentos, é o bolero um ritmo ideal até pelo seu envolvimento.
E quando lembramos do bolero, lembramos também de seus intérpretes, porque, através deste ritmo, grandes vultos latinos se fizeram projetar no cenário musical do nosso país. Gregório Barrios, juntamente com Afonso Oritz Tirado, Pedro Vargas, foram alguns dos grandes intérpretes.

Gregório Barrios nasceu a 31 de janeiro de 1911, no seio de uma família de poucos recursos financeiros. Nasceu em Bilbao na Espanha.

Teve 3 irmãos. Era ainda pequeno quando sua família emigrou para a Argentina porque seu pai, socialista convicto, vinha sofrendo perseguições políticas em sua terra natal.
Na Argentina, trabalharia em diversos empregos, até se fixar numa empresa pavimentadora de estradas, onde permaneceu por 12 anos. Nesta empresa, Gregório chegaria a um posto de chefia, sendo posteriormente promovido a gerente da mesma.

Mas foi no seu emprego anterior, quase menino que, ao cantarolar uma música, recebeu elogios de um colega de serviço. Os elogios foram tão calorosos que fizeram com que o rapaz passasse a pensar diariamente em se tornar cantor profissional.
Mas com temperamento determinado e perfeccionista, agora visando uma carreira com objetivo mais sério, iniciaria seus estudos de canto com professores do Teatro de Ópera de Buenos Aires.
Durante mais ou menos 15 anos Gregório Barrios dedicou-se ao estudo da música e do canto, antes de se sentir preparado para iniciar sua carreira.

E este longo estudo foi feito durante as horas de folga que o jovem Gregório conseguia após o trabalho.

Em 1938 fez sua estréia cantando em programas de rádio. Mas, contrariado com a qualidade destes programas, até um pouco envergonhado, adotou o pseudônimo de Alberto de Barrios. Nesta época, seu repertório era composto de trechos de óperas.

No final dos anos 30 começava o reinado mundial do bolero com imenso horizonte pela frente. Gregório Barrios, a esta altura, já estava desencantado com a música clássica e resolveu então se definir pela música popular.
A música em língua castelhana já tinha consagrado nomes famosos como Dr. Afonso Ortiz Tirado, que deixou a medicina para dedicar-se inteiramente à música, Pedro Vargas, também reconhecido e respeitado nos países de língua espano-americanos, Elvira Rios, fazendo sucesso enorme.

Estes acontecimentos fizeram com que Gregório Barrios se resolvesse em definitivo! Em 1940, Gregório deixa seu emprego na empresa de pavimentação de estradas, e assina contrato com a rádio "El Mundo de Buenos Aires" onde ficaria por longos anos, embora recebesse convites constantes de outras emissoras.
Em 1941 vem atuar pela primeira vez no Brasil. Foi uma passagem discreta pelo cassino de São Vicente, e pela "Rádio Cruzeiro do Sul" de São Paulo.
Três anos após estes acontecimentos, Gregório Barrios retorna ao Brasil, agora para atuar no Rio de Janeiro nos famosos cassinos "Atlântico" e "Quitandinha"! Suas vindas ao Brasil, daí por diante, foram cada vez mais freqüentes, e de tal modo, que em breve, seria considerado um artista brasileiro, querido e admirado pelo nosso público.
Nos clubes, nas emissoras, nas boates, mais tarde na televisão, em todo o rincão brasileiro, Gregório Barrios compareceria para levar seus sucessos e receber aplausos.

Em suas entrevistas ele sempre afirmava que amava muito o Brasil, e que um dia viria morar em nosso país.
O tempo iria confirmar que nestas entrevistas não estava apenas sendo gentil. De fato, em 1962, Gregório Barrios transfere a sua residência para o Brasil.
Em 1966, Gregório casa-se com uma brasileira, e com ela tem uma filha que se chama Carmem Patrícia.
Em 1978, mais precisamente no dia 17 de setembro de 1978 , Gregório Barrios veio a falecer subitamente na cidade de São Paulo.
Neste período estava em franca atividade artística, tinha formado sua própria orquestra, e fazia aproximadamente 80 a 90 apresentações por mês.
Gregório Barrios deixou para as pessoas que o conheceram a lembrança do homem alegre, extrovertido, extremamente modesto, profissional corretíssimo, ótimo esposo, excelente pai.

O seu corpo está sepultado em São Paulo no cemitério do Morumbi.

Beni Galter

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