As lembranças vez por outra entram em ebulição na minha cabeça. Agora relembro que nos primeiros meses de 1961, Mãe Zarena, a minha bisavó torta, bastante idosa, adoeceu. Ela era a segunda mulher do meu bisavô e irmã de Santana, sua primeira mulher, minha bisavó pelo lado paterno, que faleceu no inicio de 1900. A vigília em torno do leito da enferma era constante. Os seus descendentes diretos e indiretos se revezavam nas orações pela recuperação da sua saúde. Como era de se esperar, ela faleceu. Foi numa manhã de uma segunda feira. Aguardávamos seus dois filhos, que residiam no Rio de Janeiro.
Enquanto o velório ocorria na sala de jantar no interior da casa, eu e o primo José Esmeraldo Gonçalves sentávamos no peitoril da janela da fachada e apreciávamos o movimento das pessoas que passavam pela Rua Dom Quintino. De repente chegou uma vendedora de laranjas, postou-se na soleira da porta e com voz aguda e cortante, gritou a todo pulmão: “Quer comprar laranjas? Olhe a laranja de primeira!” Como ninguém lá de dentro da casa respondia e nem nós, a vendedora insistia: “Quer comprar laranja?...” Repetiu essa cantilena várias vezes, até que uma das minhas primas, bastante autoritária, veio até a porta recriminar a vendedora: “Fale baixo! Respeite o sentimento das pessoas dessa casa. Aqui morreu a dona da casa. Não está vendo que é um velório?” Ao ouvir a reprimenda, a vendedora gritou mais forte ainda: “Morreu, morreu, quer comprar laranjas? Estou vendendo minhas laranjas. Quer comprar laranjas?” E saiu Rua Dom Quintino acima, resmungando e descompondo minha prima. Até hoje a frase dessa vendedora de laranja virou para mim um refrão que eu sempre repito, quando alguma coisa não dá certo ou não têm mais jeito: “Morreu, morreu quer comprar laranjas?”
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Enquanto o velório ocorria na sala de jantar no interior da casa, eu e o primo José Esmeraldo Gonçalves sentávamos no peitoril da janela da fachada e apreciávamos o movimento das pessoas que passavam pela Rua Dom Quintino. De repente chegou uma vendedora de laranjas, postou-se na soleira da porta e com voz aguda e cortante, gritou a todo pulmão: “Quer comprar laranjas? Olhe a laranja de primeira!” Como ninguém lá de dentro da casa respondia e nem nós, a vendedora insistia: “Quer comprar laranja?...” Repetiu essa cantilena várias vezes, até que uma das minhas primas, bastante autoritária, veio até a porta recriminar a vendedora: “Fale baixo! Respeite o sentimento das pessoas dessa casa. Aqui morreu a dona da casa. Não está vendo que é um velório?” Ao ouvir a reprimenda, a vendedora gritou mais forte ainda: “Morreu, morreu, quer comprar laranjas? Estou vendendo minhas laranjas. Quer comprar laranjas?” E saiu Rua Dom Quintino acima, resmungando e descompondo minha prima. Até hoje a frase dessa vendedora de laranja virou para mim um refrão que eu sempre repito, quando alguma coisa não dá certo ou não têm mais jeito: “Morreu, morreu quer comprar laranjas?”
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
6 comentários:
Foi boa !!
Quando alguém telefonar pra oferecer cartão de crédito ,assinatura de revistas , dou uma de doida e pergunto : quer comprar laranjas?
Execelente ideia minha cara Socorro. O Carlos é um exímio contista, por sinal tenho um livro seu,presenteado pelo meu dileto amigo Pedrinho. Morreu, morreu...
Heladio
Socorro e Heládio
Muito obrigado pelas palavras de incentivo de vocês.
Abraços e votos de Boas Festas
Como ando com vontade estes dias de gritar...
QUER COMPRAR LARANJASSSSSSSSSSSSS ?
Morreu ? Morreu!!!!
"Compra laranja,doutor
Que ainda dou uma de quebra pro senhor !!!!"
Agradeço a Edilma e a Corujinha Baiana.
Pois é amigas, a vida continua, mesmo com sofrimentos, nas dores e nas alegrias.
Votos de Boas Festas para vocês!
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