Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 20 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS - Por Edilma Rocha


Eram chegadas as esperadas férias e a pequena viágem até elas, breve, pela pouca distância. Nos tempos de criança a simplicidade do lugar se completava com a companhia dos parentes mais próximos. Uma cidade com poucas casas em tôrno de uma só praça que já continha o próprio comércio. Um mercado exibindo as carcaças do gado penduradas pelos ganchos lá no alto e os vira-latas famintos, mas deitados pacientemente, `a espera das sobras. Em cima da mesa a matança era completa. Cabritos, leitões e uma fileira de de galinhas caipiras com porções de sangue em pequenas tigelas. O ritual da faca do açougueiro lambendo a pedra de fogo me fazia tremer de mêdo. A pequena loja de aviamentos, enfeitava nossos cabelos com laços de fita de cetim e tafetá de várias côres. Era o luxo das meninas que desfilam nas calçadas todas as tardes. Lembro de um armazém que vendia de tudo. Desde os pavios das lamparinas de querosene até alguns móveis. Ali em meio a pequena cidade, tinha tudo que os moradores locais podessem com a pouca ambição levar para casa.
Pela manhã, acordávamos com o cheiro forte do café da torrefação do lado e aquele aroma se misturava com a brisa fria do despertar de mais um dia de férias. Ao abrir a janela, já se encontravam os primeiros alimentos; o pão quentinho embrulhado em papel e a garrafa com leite puro, que ficavam ali somente para a disposição da freguesia matutina. O lugar mais importante era o Largo da Matriz de Nossa Senhora das Dores. E o respeito das pessoas pelo vigário era como se fosse o prefeito, delegado e que a tudo dava a palavra final.
Certa vez, no sermão da missa diaria às cinco horas da tarde, comentou o desaparecimento dos pães em algumas janelas, coisa que nunca havia acontecido na pequena cidade. Logo foi contratado um vigilante noturno que passaria a mudar o sossego de todos com um apito insistente nos despertando dos sonhos. Mas graças a Deus durou uma só noite, pois o ladrão dos pães era o um jumento que resolveu trocar o capim sêco da praça pelo pão do nosso desejum.
Na casa grande morava uma moça, cria da casa, como era chamada, que fazia os trabalhos domésticos. Acordava bem cedinho, antes de todos e a primeira tarefa era apanhar água para o consumo do dia. Decedi acompanha-la ao trabalho. Uma lata de querosene bem grande com um apóio de madeira e um pequeno pano torcido, era o que levava nas mãos. O caminho não era curto, mas íamos conversando e a minha companhia parecia que lhe enchia de orgulho na apreciação do seu trabalho. Entramos por um portão de madeira e encontramos uma mata verde protejendo um lago pequeno. Ficou de cócoras em cima de uma pedra plana e começou a fazer movimentos com a cuia afastando as pequenas plantinhas aquáticas que cobriam a água. E aos poucos enchia cuidadosamente a lata dágua. Eu observava aquele lugar lindo com tôdo o verde e a pureza da água que não podia ser poluida com o suor do nosso corpo. Era um lugar sagrado.
Descobri que todos da cidade dependiam da pequena lagoa. Por lá não existia água encanada e sem torneira ou chuveiro. A água era levada na cabeça da moça que não perdia a graça e se equilibrava rapidamente em tres caminhadas de casa até a pequena lagoa. Ao chegar, enchia primeiro os potes de barro da cozinha e depois uma tina no quartinho dos fundos que chamavam de banheiro. Aquele líquido precioso não poderia ser desperdiçado. Na lavagem da louça, serviam duas bacias enormes para o manuseio, e tôda a sobra iria para o pé de uma antiga laranjeira fincada entre as pedras do quintal.
Era um lugar de poucas chuvas e ao meio dia o calor do sol forte tornava quente o descanso do almoço, razão porque os telhados eram tão altos. Ao descobrirem as minhas façanhas no amanhecer do dia duranter o trajeto das águas, fui severamente repreendida. E no sermão fiquei sabendo de que não podia acompanhar a moça no serviço da casa, pois era visita da importante cidade vizinha, e não ficava bem...
_ O que iriam pensar ?
_ Dei com os ombros... Menina sapeca !
Eu é que fiquei a pensar daquele dia em diante, sempre que abria e fechava uma torneira, naquela moça bonita, de sorriso largo, simples e que em nenhum momento se queixou da vida que levava. Pensar na importância que seria para mim tomar uma chuveirada forte e deliciosa com as águas puras da nascente do Crato.
Edilma Rocha

7 comentários:

socorro moreira disse...

Eita, menina boa , no conto das histtórias !
Maravilhoso, o texto !

Tenho orgulho de vc, minha amiga !

Grande abraço.

Claude Bloc disse...

Eita, Edilma, viajei no tem conto. Identificação perfeita! Maravilha!

Agora me conta, quem são essas criaturinhas da foto... ?

Abraço,

Claude

Claude Bloc disse...

*no teu conto

Anônimo disse...

Edilma, gostei demais da sua história!
Que boas lembranças de infancia! Muito bem escrita.

Abraços

Magali

Edilma disse...

Socorro,

Orgulho tenho eu, querida.
Quem me dera escrever como você...

Beijo !

Edilma disse...

Claude,

Acho que já viajou a este lugar tambem.
As criaturinhas são uns priminhos do interior. Advinha de onde ?

KKKKKK

Beijo !

Edilma disse...

Magali,

Outro dia me deliciei com um texto seu sôbre a feira do Crato.
Sem fala...

Beijo !