Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

domingo, 7 de fevereiro de 2010

ZÉ MARCOLINO - Por Marcos Barreto



ZÉ MARCOLINO – UM POETA ESQUECIDO



Quando juntos lançaram o Baião, em 1946, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira promoveram uma verdadeira revolução na história da música popular brasileira, até então dividida entre o samba-canção e outros ritmos importados. E por um período de quase dez anos o Baião foi a dança da moda, sendo responsável por 80% das execuções nas maiores Rádios do Brasil, além de garantir a Luiz Gonzaga a coroa de Rei do Baião.
Não só o Baião, mas também os outros ritmos que lhe seguiram, tais como o forró, o xote, o xamego e o xaxado, tiveram a mesma aceitação quando lançados por Luiz Gonzaga naquele período fecundo de sua carreira.
Ainda que cientes do indiscutível talento e da invejável musicalidade de seu grande criador Luiz Gonzaga, não podemos deixar de mencionar a participação de grandes parceiros musicais, a exemplo de Humberto Teixeira, Zé Dantas, Hervê Cordovil, Rosil Cavalcanti e Luiz Guimarães, dentre outros, que também deram valiosa contribuição para o engrandecimento da música nordestina em diferentes fases do Baião.
Um outro nome da galeria de importantes parceiros do velho LUA é o paraibano José Marcolino, o “Poeta” como era carinhosamente chamado por seus amigos.
É lamentável que a morte o tenha impedido de prosseguir na sua carreira de poeta e cantador de uma forma tão brutal. Mas, lamentável também é o fato de que quase nenhum órgão da imprensa tenha dado o destaque merecido ao acontecimento, mesmo tratando-se de um poeta da extirpe de José Marcolino, autor de NUMA SALA DE REBOCO, PÁSSARO CARÃO, CACIMBA NOVA, SERROTE AGUDO entre outras canções genuinamente sertanejas
José Marcolino Alves, mais conhecido por Zé Marcolino, era um autêntico sertanejo, tendo nascido na pequena cidade de Sumé, na Paraíba, a 28 de junho de 1930. Depois que saiu de sua terra, morou por alguns anos em Petrolina, para finalmente fixar residência em Serra Talhada(PE), onde viveria até seus últimos dias.
Em maio de 1961, Luiz Gonzaga excursionava pelo Nordeste e, de passagem por Sumé, foi procurado pelo poeta Zé Marcolino, àquela época já grande fã e admirador do rei do baião. Na ocasião, Zé Marcolino mostrou-lhe algumas de suas composições, que deixaram Luiz Gonzaga entusiasmado ao ver em sua poesia a mesma linha melódica de Humberto Teixeira e de Zé Dantas
“......Quando terminou de apresentar todo o seu potencial artístico, Gonzaga riu satisfeito e interrogou com voz brejeira:
- E quantas músicas você vai me dar?
- Quatro, por enquanto.
- Pois agora escute: gostei de você, de suas músicas e de sua voz. Prepare os trens porque daqui a dois meses virei aqui para levá-lo para o Rio de Janeiro. Você é um grande artista e a música nordestina não pode lhe perder.
Como palavra de Rei não volta atrás, dois meses mais tarde, já o caboclo Zé Marcolino cruzava os caminhos nordestinos rumo ao Sul....”.
Em janeiro de 1962, Luiz Gonzaga lançou o seu novo LP, intitulado Ô VEIO MACHO, e junto com ele, o nome do poeta e compositor Zé Marcolino, parceiro em seis das doze músicas contidas neste disco: SERTÃO DE AÇO (xote), PÁSSARO CARÃO (baião), A DANÇA DO NICODEMOS (xote), NO PIANCÓ (xote), MATUTO APERREADO (baião), e SERROTE AGUDO (toada-baião).
No ano seguinte, em seu LP A FESTA DO MILHO, Luiz Gonzaga gravou mais duas músicas de autoria do poeta de Sumé: os baiões PEDIDO A SÃO JOÃO e CABOCLO NORDESTINO.
No ano de 1964, quando gravou o LP A TRISTE PARTIDA, mais quatro músicas de Zé Marcolino foram interpretadas pelo Rei do Baião: CACIMBA NOVA (toada-baião), MARIMBONDO (forró), CANTIGA DE VEM-VEM (baião) e uma de suas mais famosas composições em parceria com Luiz Gonzaga, o xote NUMA SALA DE REBOCO.
Um ano depois, Luiz Gonzaga lançou FOGO SEM FUZIL e QUERO CHÁ, duas polquinhas feitas em parceria com Zé Marcolino e que obtiveram grande aceitação.
Em 1978, uma nova versão da conhecida toada-baião SERROTE AGUDO foi gravada por Luiz Gonzaga. Em 1981 o mesmo ocorreu com CACIMBA NOVA, numa gravação que conta com a participação do próprio Zé Marcolino. Suas últimas parcerias com Luiz Gonzaga ocorreram em PROJETO ASA BRANCA (1983), BOCA DE CAIEIRA e EU E MEU FOLE, todas gravadas em 1986.
Além de Luiz Gonzaga, o seu intérprete mais assíduo, Zé Marcolino teve composições suas gravadas também por Dominguinhos, Quinteto Violado e Trio Nordestino, dentre outros.
Com produção do Quinteto Violado, Zé Marcolino chegou a gravar o disco NUMA SALA DE REBOCO, sem contudo ter obtido a atenção e a divulgação merecidas.
Poeta nordestino de indiscutível valor e de grande autenticidade, Zé Marcolino foi também violeiro e repentista. A sua poesia, que sempre teve o sertão como fonte maior de inspiração, retrata com muita riqueza o universo sertanejo, sua gente e seus hábitos. Suas músicas brejeiras, com temas telúricos e pregações naturalistas, têm o cheiro da terra molhada, da flor da catingueira e do mandacaru. Sua música é o próprio sertão, ora seco e triste, ora verde e alegre. Ouvindo os baiões e as toadas em composições suas ou em parceria com Luiz Gonzaga, somos transportados à nossa terra de origem, ao nosso saudoso e distante pé de serra.
Zé Marcolino foi um poeta que, dono de uma poesia rica e espontânea, soube como poucos, representar o sertão na sua forma mais pura e primitiva. Com o seu desaparecimento num acidente de carro no interior de Pernambuco em setembro de 1987, perdeu Luiz Gonzaga mais um de seus grandes parceiros, e a música nordestina, já tão desfalcada, ficou ainda mais pobre.
Sem Zé Marcolino, ficou mais triste a CANTIGA DE VEM-VEM. O PÁSSARO CARÃO, inconformado, já não canta nem faz adivinhação. E até o CABOCLO NORDESTINO, forte e introvertido, esqueceu o seu jeito rude de ser, para também chorar com saudades do “POETA”.


Marcos Barreto de Melo

Um comentário:

Aloísio disse...

Rapaz!!!... Você honra o nome do evangelista, porque enquanto Marcos nos legou as boas novas de Jesus, você nos traz as notícias de grandes nordestinos, não deixando que se perca a memória de nossa cultura. É isso aí, continue mandando textos iguais a este, pois nossa cultura tem que continuar. Valeu irmão!!!