A praia vazia naquele começo da manhã. Apenas os três andando na planície infinda do litoral do Ceará. Pela terra e mar a visão só termina na curvatura do planeta. Foi quando ela disse:
- Parecem grandes tartarugas.
As pedras dos recifes semi-descobertas pela maré baixa. Grandes animais marinhos, pré-históricos sob nossos passos no presente. Imediatamente surgiu um arco-íris de tempo, com as cores de todos os momentos vividos por cada um. Em seguida um deles pergunta ao terceiro:
- Achas que temos alma? Uma vida eterna?
Pergunta mais antiga. Resposta mais experimentada. Mas assim mesmo a deu:
- Não digo que sim e nem digo que não. Tudo pode.
- Quando assim respondes é que existe em ti a idéia de que sobrevirás ao tempo. Se não considerasses a possibilidade de uma vida eterna não colocarias esta dúvida. Apenas dirias que não. Mas ao assim responder consideras esta possibilidade e, efetivamente, crês na alma e na eternidade.
- Não sei. Acho que somos diferentes. Dos porcos e dos jumentos.
- É verdade e os porcos e jumentos também nos achariam diferentes. Nos termos deles. Assim a nossa diferença não nos diz de qualquer supremacia e nem de qualquer eternidade.
- Mas não posso afirmar que não exista alma. Mesmo que ninguém tenha vindo e me dito que vive a eternidade. Alguém que já tenha morrido.
- Mas se somos diferentes de porcos e jumentos, um elemento central se encontra na inteligência e no enorme impacto desta sobre a natureza do planeta. E a inteligência se exercita pela razão, na qual a existência se pontua pela evidência de sua própria existência.
- Mas posso imaginar que exista vida noutro planeta. Assim como posso considerar a existência da alma, mesmo sem que tenha qualquer evidência.
- Imaginar é bem humano. Mas não diz nada da eternidade. Há a possibilidade de vida em outros planetas desde que resguardadas as preliminares para que exista vida como a conhecemos. Mas até agora nenhuma evidência há de que exista vida noutro planeta.
- Então, mesmo não existindo evidência se admite a possibilidade, é o mesmo caso da alma.
- Só que não existem preliminares para se definir a eternidade de um ser vivo.
- Mas a alma não é vida. É algo permanente.
- Então que seja este algo permanente, que não existe no universo. Mas existe no teu desejo por acréscimo. Por merecimento de ser diferente. Como paga de tua boa conduta.
O mar, a planície, o vento e as nuvens que prometem as chuvas que não caem. Andávamos na praia vazia de gente, apenas nós e por isso nem se podia qualificar como vazia de gente.
2 comentários:
Sexta-feira passada, conversando com Dona Almina, perguntei-lhe : depois da morte, o que acontece com a gente ? O céu existe? Existem outras moradas, noutros planos, e outras formas de vida?
Apostamos nessa possibilidade ...De que a morte poode ser um nascimento.
Sendo assim , a morte é liberação: um privilégio !
Acho a vida na Terra tão breve, que tenho deixado alguns sonhos para mais adiante...Para daqui a mais de cem anos !
As vezes penso que, pra não violentar nosso destino, alimentamos a alegria do encontro, na busca contínua dos nossos afins.
Essa possibilidade me aquieta, e me faz esperar com paciência por tempos vindouros, e grandes reencontros !
Boa noite, meu caro amigo. Vou dormir pensando, nas tartarugas marinhas.
Sexta-feira passada, conversando com Dona Almina, perguntei-lhe : depois da morte, o que acontece com a gente ? O céu existe? Existem outras moradas, noutros planos, e outras formas de vida?
Apostamos nessa possibilidade ...De que a morte poode ser um nascimento.
Sendo assim , a morte é liberação: um privilégio !
Acho a vida na Terra tão breve, que tenho deixado alguns sonhos para mais adiante...Para daqui a mais de cem anos !
As vezes penso que, pra não violentar nosso destino, alimentamos a alegria do encontro, na busca contínua dos nossos afins.
Essa possibilidade me aquieta, e me faz esperar com paciência por tempos vindouros, e grandes reencontros !
Boa noite, meu caro amigo. Vou dormir pensando, nas tartarugas marinhas.
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