Não sinto falta
nem saudades.
Sozinho me espera
a morte desdentada
com belo sorriso.
Puros românticos:
julgam a lua
senhora decente
sonham com estrelas
morrem de palpitações.
Doçura ser um tolo
(cínico, fingido)
qualquer gripinha à toa
xarope, chá, travesseiro quente.
Não penses que morro agora
ou que após o feriado
amanheço de ressaca.
Não, tolinha.
Sou um bruxo.
Ouviste?
Bruxo de causar espanto.
Bruxo por manter o equilíbrio
entre as duas pontas do cadarço.
Difícil é fazer o laço
(do tênis sujo)
com o olhar virado.
Vendo a lua.
Admirando as estrelas.
O coração apertado.
As muriçocas me beijando a canela.
Não sinto medo do escuro.
Quando criança minha diversão
adivinhar as sombras no teto.
Tolinha.
Tu me renegas porque sou bruxo.
Sei, sei
pois já lancei
sobre a toalha branca
os ossinhos de galinha
e as sementes de mucuna.
De fato sou um bruxo.
Bruxo de pisar calçada molhada.
Bruxo de abraçar poste e levar choques.
Queres me dar a mão?
Passo para tua alma o barato.
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