Acordar ausente de si.
Dormir fermentando sonhos.
O amor atemporal
sobre calçadas sujas
ainda remelentas da noitada.
Da loucura das mãos senhoras dos dedos
adentrando em territórios úmidos.
E era amor com todos os sentidos.
Atenta prontidão.
Exasperados uivos.
Quem disse que o amor
precisa ser manso.
Em um cantinho da sala
junto às plantinhas
e aos anjinhos
de porcelana.
O amor na verdade
eufórico.
Tapar os olhos.
Empurrar a vítima
ao inferno da memória.
Em chamas.
O amor é tudo o que dizem
aqueles que nunca amaram.
Na loucura deles
reina a fantasia.
Própria do amor.
Mas é na carne dos que amam
que o amor se exubera.
Se faz justo
e palpável.
Das quimeras
da moça à janela
mais toda a volúpia
dos beijos na escada
brilha então o amor
com a pompa necessária
do engano e do suicídio.
E não me venham suplicar
juízo diante da taça de vinho.
Os danados do coração
já aperfeiçoam o laço
no altar e na guilhotina.
Porque quem ama
deseja vinho
como pede morte
no cadafalso.
Juntas as almas.
Próximos os corpos.
Até que o milagre floresça
bem mais que os sonhos
e cada qual não se veja
perca de vez e para sempre
a total compreensão do outro.
2 comentários:
UAU! adorei! e li de um fôlego só, depois é que fui ler devarinho. Muito bonito falar de amor assim... com poesia e com tesão.
Stela, é verdade:
também foi escrito o poema
de uma só largueza, depois
fui percebendo nuances
ao sussurrar bem baixinho.
Então se encaixam palavras
e imagens.
Carinhoso abraço.
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