Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 1 de junho de 2010

MARCAS DE UM SAPATO USADO - Por Jacques Bloc Boris

Quem já não teve um Vulcabrás?
Pois é, quem é do meu tempo sabe muito bem do que eu estou falando.
Do velho sapado Vulcabrás. Daí vem este meu conto.

Quando estudava no Grupo Escolar Teodorico Teles de Quental, que ficava em frente à minha casa, na Dr. Irineu Pinheiro, os nossos sapatos eram o velho Conga azul - É o Novo! – (dá para sair no programa do Neno).

Quando terminei o ano, fiquei sabendo que ia estudar no Pitágoras, que ficava bem em frente à Praça da Sé, e que era da minha querida professora Juraci Batista. Fiquei satisfeito porque ia começar a andar em outro bairro, além do Pimenta e ia sair do velho Conga, já que meu irmão Bertrand ia para o Colégio Diocesano de sapatos pretos e brilhosos.

Fiquei mais satisfeito ainda porque ia finalmente receber o meu. Mas que nada! Quando se deu o início das aulas, recebi o, também velho, Kichute preto (pessoal, não vão pensar que eu sou do tempo de Noé).

Bem, fui para o Pitágoras cabisbaixo, meio triste, e, no entanto, meus irmãos mais novos, François e Antoine (Tony) iam pra escola mortos de satisfeitos.

Passaram-se dois anos e chegou a vez de ir ao “majestoso” Diocesano. Não pensava em nada, a não ser num sapato preto e brilhoso Vulcabrás. Ah, meus amigos, que decepção: recebi o sapato já usado, mas conservado do meu irmão Bertrand.

Não disse nada, mas chorei como as carpideiras, fiquei irado, fulo da vida e disse para mim mesmo que ia dar cabo daquele sapato usado. Agora vejam só: o Bertrand de sapato novo, os meninos, François e Tony também de sapatos novos e eu com o sapato usado do Bertrand!

Então, fomos os quatro para o colégio. Eu ia de cabeça baixa, mas não era de vergonha nem nada, era só olhando os sapatos novos dos meninos. A raiva, acho que seria se um deles falasse qualquer coisa a respeito dos meus sapatos, ia sobrar mão de peia pra qualquer um.
.
Fixei na mente o fim do sapato. Quando voltava do colégio, os meus irmãos ficavam na Praça da Sé debaixo de um pé de oiti para pegar um “bigu” (carona) com seu Orestes do Café Ytaitera, que nessa época morava no Pimenta. Eu aproveitava e ia a pé, chutando pedras, latas e quando chovia, fazia questão de ir pela coxia da rua por dentro das levadas de água para ver se o sapato se acabava ou despregava... Mas que nada! O sapato ficava igual a um cururu inchado, e quando secava estava novo de novo.

Foi daí que resolvi nas minhas subidas para casa, ir arrastando e arranhando o danado do sapato nas laterais dos paralelepípedos da calçada. Cheguei em casa feliz e satisfeito com o meu feito. Corri para mostrar a minha saudosa mãe(Jeannine) os arranhões brancos nas laterais do sapato. Xiiiiii! outra decepção. Além de ficar uma semana de castigo, ela mandou engraxar o peste do sapato e ele ficou novo de novo. Não se fazem mais sapatos como antigamente, mas, para mim, Vulcabrás nunca mais.

Daniel Hubert Bloc Boris (Jacques)

12 comentários:

Edilma disse...

Jacques,

Não conhecia este seu lado nos escritos. Mas filho do Sr Hubert, irmão de Claude não poderia ser diferente.
Texto cheio de saudades envolto ao seu mal humor contra o sapato Vulcabrás e o bom humor da história que me arrancou umas boas gargalhadas.
Continue por aqui e trocaremos escritos das nossas lembranças do Crato.
Parabéns, adorei ! Conta mais...

Beijo !

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Caro Jacques

Você tem dois nomes, além do velho Vulcabrás? Mas falando sério, gostei muito dessa sua estréia com escritor do Cariricaturas. E também ri muito, pois eu era o mais novo de seis irmãos homens (+ 4 mulheres) e fui herdeiro não só dos vulcabrás, mas das galochas, dos fanabús, das fardas do diocesano e quando adolescente dos paletós do meu irmão Ailton. Meu primeiro paletó só vesti quando do meu casamento.
Parabéns! Gostei muito do que eu li. Diga a Claude para lhe mandar um convite para membro do Cariricaturas.
Abraços!

Anônimo disse...

Jacques,

Gostei muito das suas memórias, dei boas risadas. Lembrei que eu tinha vontade de ter umas galochas, mas nunca tive. Nunca herdei nada porque meus dois irmãos mais velho são homens.
Parabéns!

Heladio disse...

Prezado Jacques
Filho de gatinho, gatinho é. quanto mais irmão de Claude. Seu comentário , me fez lembrar bastante minha infância.
Muito obrigado,vá em frente.
Heladio

Daniel Boris (Jacques) disse...

Querida irmã Edilma, suas palavras são meigas como você,beijos.

Daniel Boris (Jacques) disse...

Querido Carlos,foi o seu conto,que encorajou-me a contar o meu,tenho que lhe agradecer pelo os elogíos e pela confiança em querer me cariricaturalizar,mas sou apenas um sonhador e artista plástico ou um artista plástico sonhador.Quem bom que gostou,me deixa muito feliz.Um forte abraço.

socorro moreira disse...

Beleza !
Lembro de você , no Grupo Escolar. Lembro porque fui tua professora por um mês, e a experiência foi marcante !
Você tinha no máximo 7 anos, e fazia o primeiro: ano do curso primário.
Abraços.

Daniel Boris (Jacques) disse...

Obrigado minha querida,escrevi encorajado por Carlos Eduardo,e foi pro isso mesmo que escrevi!Para sorrir,que é bom de mais,abraços.

Daniel Boris (Jacques) disse...

Heladio meu querido,são esses pequenos contos da nossa infância,que nos faz recordar,rir e voltar a ser criança.Quem tem de agradecer sou eu,e vou fazer três vezes,Obrigado,obrigado e muito obrigado,Abração.

Daniel Boris (Jacques) disse...

Querida e amada Socorro,uma vez professora,professora para sempre,ainda hoje você me ensina quando leio suas poesias,pensamentos e muito mais.Te agradeço do passado,te agradeço do presente e espero esta vivo para te agradecer do futuro, a não ser que você,Edilma e a Claude me conte como ficar novo assim como vocês,por que eu tou é véio,Beijos.

Carlos Rafael Dias disse...

Conheci o Jacques levado por Claude para conhecer seu belíssimo trabalho de artista plástico. O revi na noite em que o Fortaleza foi tetra-campeão, quando "bebemoramos", na companhia de Roberto Cangalha, nosso amigo em comum. E agora, o reeencontro através de algumas postagens, aqui, no Blog do Crato e do Cariri Encantado. Confesso que fiquei encantado (para aproveitar o necessário e oportuno eco).

Daniel Boris (Jacques) disse...

Carlos Rafael,eu é quem aproveito a sua honrosa companhia,para aprender,obrigado pelas palavras e amizade.Um forte abraço.