Os cortes saram ...
- Claude Bloc -
Chegaste animado. A sala estava recém encerada e eu te falei para teres cuidado pra não escorregares. Querias me contar. Era urgente falar, dizer tudo, contar os pormenores: os beijos escondidos que davas nas meninas da cidade. Só porque elas olhavam para a tua boca, com a força perfeita, necessária...
Depois houve aquela menina que tinha estrelas nos olhos e sardas no rosto. "Ela é diferente, mana, não sei explicar; é diferente”. Era a menina que balançou teu coração quando deixou a cidade. Mas... te faltou a força pra chorar.
Ela tinha cor de cal na pele e unhas bem redondas pintadas a toda a hora. Partiu de olhos ausentes sem aviso de regresso. E tu te mantiveste numa janela que embaciavas todas as tardes, porque tinhas a impressão de que ela havia lá digitado o sol, antes de vocês se conhecerem.
Fico aqui imaginando todos esses teus eventos de cada dia e hoje, depois de tanto tempo parei pra pensar no primeiro corte que fizeste no rosto só por insistires e jurares de pés juntos, que tinhas barba, que já eras um adulto, afinal. Lembro-me que foi mamãe que te mimou as cicatrizes, enquanto dizias : "Os cortes saram, a saudade, não".
Hoje nós vivemos longe um do outro. Em nosso destino foram escritas histórias e trajetórias bem diferentes. No decorrer desse tempo, nós dois recebemos muitos cortes da vida, mas só hoje eu repetiria tua frase tão sábia nos lábios de um menino que já se sentia um homem: "Os cortes saram, a saudade, não".
Claude
Um comentário:
Mana, pois a palavra continua viva,e mesmo você presente ou distante, sempre tenho saudades de Ocê.Obrigado
por te-la,pelo conto poesia,e principalmente pelo o seu amor.Beijos, te amo muito de montão.
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