Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cordas de Aço - Cartola e uma Bengala - José do Vale Pinheiro Feitosa

O compositor Zé Nilton toda semana reboca a nossa alma com os sons mais belos da música popular brasileira. É um esforço certamente prazeroso para ele, mas tem uma dimensão de luta pessoal apenas comparável àqueles sertanejos que levam até cinco meses entre encoivarar, queimar, plantar, limpar e colher. É que ele planta sobre uma cultura consumista e fugaz, na qual as próprias pessoas perderam a noção de sua própria permanência.

Quando peguei esta bengala para me postar ereto ao lado desta Cartola, tudo me pareceu sem sentido. Não havia um motivo para publicá-la. Até que pensei no Zé Nilton e agora tranquilamente o faço.
















Quem sabe como o mundo se assenta em nós. Porque esta batida de samba canção fluindo pelo Alto do Seminário e serpenteando no vale pelas ruas da cidade até o Barro Vermelho. Bem no alto o céu estrelado acima da igreja de São Francisco, a cidade e sua mulher desejada. Aquela que trava um gosto amargo, nem precisou da penumbra das ruas mal iluminadas, simplesmente dobrou a esquina, deixando minha alma espichada no curtume.

E sobre os arcos da ilusão acaricio meu violão e a voz solta:

Ah, essas cordas de aço
Este minúsculo braço

E dentro de mim, pelas cordas vocais como um verbo divino, ela ressurge com seu corpo de tecer futuro. As curvas da acústica vida que faz dela um calcanhar que Aquiles tão bem resguardava:

Do violão que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito

E nestas cordas de aço, travas e notas, encurtando meus momentos desafinados, agravando minha solidão de tempos já vividos e daqueles que teimam ecoar como toda caixa que repercute:

Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria

E por me ausentar das multidões e contigo sussurrar as esperanças que ela levou pela esquina quando a dobrou:

E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho

Quando dobrou a esquina e sua presença nos deixou, levou com ela a nossa ausência e, agora, meu pinho, eis que:

Aquela mulher
Até hoje está nos esperando

De pronto em pé e agora que a esquina se desfará nos passos destas notas a subir novamente o Alto do Seminário:


Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira

Na madrugada iremos pra casa
Cantando...

6 comentários:

socorro moreira disse...

Confesso-me cativa da MPB.Confesso-me amante de vários compositores , incluindo Cartola.Confesso-me encantada pelos textos, que discutem e criam música e poesia.
Parece até que já nasci embalada pelas cordas de aço, pressentindo as mãos do artista que acariciam , qualquer instrumento .
A madeira acariciada ...Q!uisera ser !
Quem sabe ser !
Cordas de Aço trata dessa delicadeza , e é melodicamente perfeita !
Claro que compreendo a alma boêmia, e por ela , inclino-me !
As mulheres dos boêmios aprendem logo a preparar o caldo da espera. É insone , inquieto , descompassado coração...Mas consegue ser fiel !
Quanto ao sentimento do escritor... Que belo !
Existe a sinuosa comparação. É assim que a gente vive um samba canção !
Pelas tuas lembranças/imagens, reverencio o VALE !
-Aquele menino, que vadiava com o pensamento e pernas , no coração da cidade !
Quem sabe ser sensível tem nervos de aço e cordas também para alimentar com canções , as esperas que se eternizam !

Também considero relevante o trabalho de Zé Nilton Figueiredo. Sobretudo , o incontestável bom gosto !
Também estou comovida, nestes dias, com o meu amigo Nicodemos, que empresta alma de um Gepetto , na criação de uma RABECA, a partir da matéria prima : a madeira !
Mais adiante, falaremos pormenores, a respeito.
Valeu, Zé do Vale, por lembrar com propriedade, um samba tão lindo !

socorro moreira disse...

* as mãos dos artistas

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Socorro,

Este teu amor pelo mundo, a alegria frente à transcendência, tem o poder de nos acordar e sair fazendo coisas. Adoro uma preguiça, mas com uma energia desta, não tem como ser passivo. Tem: ser contemplativo (que não é o mesmo que passividade) com este objeto maravilhoso do fluir que é a vida.

Nem sempre respondo aos teus carinhos. Fico sentido esta proteção cósmica como todos sentem com que lhes cuida do frágil.

Ps. antigamente logo que abríamos o blog, entrava o nosso perfil. Agora não consigo mais. Tenho que digitar a senha a cada comentário. Só consigo entrar no perfil quando vou postar.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Socorro,

Este teu amor pelo mundo, a alegria frente à transcendência, tem o poder de nos acordar e sair fazendo coisas. Adoro uma preguiça, mas com uma energia desta, não tem como ser passivo. Tem: ser contemplativo (que não é o mesmo que passividade) com este objeto maravilhoso do fluir que é a vida.

Nem sempre respondo aos teus carinhos. Fico sentido esta proteção cósmica como todos sentem com que lhes cuida do frágil.

Ps. antigamente logo que abríamos o blog, entrava o nosso perfil. Agora não consigo mais. Tenho que digitar a senha a cada comentário. Só consigo entrar no perfil quando vou postar.

socorro moreira disse...

Recebemos sempre o carinho da sua presença . Pra que mais?

Abraço.

Zé NIlton disse...

Bravo! Simplemente uma nota de peso na decifração do velho Angenor.
Arquivei para comentar em futuro programa sobre o mestre.