Era uma princesa rodeada de cuidados e paparicos pelos irmãos e frequentava a pequena praça aos domingos de braços dados com as amigas. Aquela vidinha era tudo de bom no seu pequeno mundo que continha a cidade, a praça, os cinemas, os clubes, a escola, a família e os amigos. Ela tinha por lá o seu valor e se orgulhava disso. Desfilava com desenvoltura, jogava futebol de salão, nadava nos torneios da AABB e Ténis Clube, organizava eventos e era sempre requisitada para alguma coisa difenciada. Mas no seu íntimo queria ir em busca de um sonho, de uma carreira e de um espaço maior que desenvolvesse a energia e o potencial que sabia possuir. E chegou a hora de deixar para trás o conforto e os cuidados da família para caminhar com suas próprias pernas. O seu sonho dependia de um longo caminho que se fez em 3 dias e 3 noites a percorrer muitas estradas passando rapidamente por alguns Estados.
A cidade maravilhosa estava ali cheia de belezas naturais a se oferecer como um desafio assustador. Seria só, pela primeira vez na vida e não teria mais a protecção de que era acostumada. No pensionato das irmãs Carmelitanas o seu quarto não era exclusivo com móveis estufados em vermelho e dourados e sim uma cama comum entre outras com um pequeno armário que não coube tantos vestidos e sapatos da sua bagagem. Tinha horário para tudo e até passar e lavar suas próprias roupas, havia terminado o tempo das mordomias, mas precisava fazer valer todos os sacrifícios por um ideal. Ser uma artista. Morava em Niteroi e todos os dias da semana atravessava a Baía da Guanabara para conviver no Rio de Janeiro com os artistas e intelectuais da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Aulas de desenho, pintura à óleo e aquarela, história e a minuciosa restauração das obras de arte. E o tempo seguiu seu curso de aprendizado e diplomas exibidos com orgulho. Foi aos poucos fazendo amigos, visitando exposições e encontrando o seu espaço por ali.
Sempre que retornava em férias, somente uma vez no ano, reencontrava o azul da Chapada do Araripe que protegia o Vale do Cariri contendo seus maiores tesouros, a família, os amigos e a pequena cidade do interior. Foi aos poucos dando por falta de muitos amigos que também seguiram por um tempo o caminho do futuro como ela, mas que certamente um dia voltariam. A princesa se tornou mulher, vaidosa e cheia de truques para realçar a pouca beleza que possuía e o tempo em que viveu na Cidade Maravilhosa já se revelava nas roupas, cabelos, maqueagem numa bossa carioca, mas se orgulhava de ser cearense e era admirada por isso. A vida lhe ensinou o valor das coisas mais simples como uma praça guardada na lembrança que ficou no tempo, mas que tinha a certeza que ao voltar estaria sempre ali a lhe esperar como um carinho materno.
Esta é mais uma historia comum vivida por uma jovem em busca de um ideal igual a tantas outras dos seus conterrâneos da terra querida que um dia se foram para depois voltar. Voltar para a Chapada, a cidade, a família e os amigos... A princesa foi gata borralheira na luta para viver o seu ideal as custas de muito sacrifício, mas soube ganhar medalhas e troféus no seu palácio de sonhos... ficou rica de predicados e saberes que levou para sempre mas nunca deixou de ser a filha da terra das tribos Cariris. E em breve há de chegar o momento tão esperado do grande reencontro depois de tantos anos com amigos e professores no lançamento do livro Cariricauras. Este livro repesenta nossas caras e nossas criaturas do Cariri e no seu conteúdo nossas vidas em versos e prosas.
Edilma Rocha
4 comentários:
Parabéns Edilma! A sua história é contada com tanta naturalidade e emoção, que nos faz querer ler até o fim com muito interesse. Gostei!
Abraços
Magali
Magali,
Você faz parte dessa tribo que desejo encontrar nas comemorações do livro Cariricaturas.
Até lá !
Abraço!
Sua história é maravilhosa !
Precisamos celebrar a vida !
abraços.
Socorro,
A vida ha de ser celebrada com toda a alegria que merecemos.
Beijo !
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