Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um texto que não foi publicado - Por Edilma Rocha

MENINA DA RUA DA VALA - Por Edilma
O mundo se resumia apenas em uma rua na mente de uma criança. Os limites iam desde a casa do Sr. Antonio Alves até a oficina do Sr. Moreirinha. Sair mais adiante para a escola Pio X na praça da Sé, só acompanhada de Vilanir. E a alma de criança se deliciava com aquele imenso mundo de descobertas vividas em uma rua. A rua da vala.
Menina sapeca, só uma entre três irmãos. As brincadeiras eram de meninos, jogava bola no final da tarde enquanto todos trabalhavam na casa e depois de muito corre-corre e suja de barro, era hora de entrar para se tornar uma princesinha. Vestido rodado, grande laço na cintura, meias de crochê; os cabelos eram penteados com capricho, afinal, todas as tardes as menininhas passeavam na calçada. Ao entardecer a luz elétrica dava o sinal para apagar três vezes e tudo escurecia, era hora de dormir. Tudo começava outra vez com um outro dia cheio de novidades na rua da vala...
Tinha o homem que vendia maçãs todas as quintas aguardado por todos com o dinheirinho bem apertado entre os dedos da mão. Vermelhas, brilhantes, lindas como a história de Branca de Neve e estava ali mesmo, naquela rua. As duas da tarde, todos os dias, era do padeiro o caminho da calçada, pão dôce quentinho com a forma de jacaré. Coisas simples e deliciosas para a garotada. Sem deixar de falar do picolé de Bantim que os meninos traziam de uma audaciosa corrida atravessando o beco e chegando a praça Siqueira Campos. Os correios ficava na esquina para colecionar os sêlos. No prédio do palácio do comércio, a alta escadaria para a nossa felicidade e ainda o escritorio da Companhia Real que estampava nas paredes as fotos do lindos aviões, pilotos e aeromoças. Os bangalôs da rua pertenciam as familias ricas, como o Sr. Antonio Alves, Dr. Hermano Teles e Sr. Aderson Tavares. As outras casas eram simples e de paredes coladas, enfileiradas com calçadas que perdiamos de vista até o canal...
O dia mais festivo era de chuva. Todos nas janelas admirando aquele rio forte e perigoso, sair, era proibido. As águas turvas e barrentas que vinham dos dois lados da cidade desciam com uma velocidade tão grande que levavam tudo pelo caminho. Um espetáculo aguardado todos os anos e depois de tudo, a brincadeira dos barquinhos de papel que corriam pelas cochias e iam embora rapidamente... Ficava uma arreia fininha para o jôgo de triangulo e bila; hora dos carinhos e bonecas sairem de casa. Nas noites de São João podíamos ficar até a luz ir embora pois as fogueiras iluminavam a rua da infância. Cada um recebia uma caixinha cheia de traques, pixites e bombinhas compradas em Sr. Heleno. E tudo era festa ! Se ficasse dodói, os doutores estavam na rua; Dr. José Wlisses, Dr. Jéferson e Dr.Mauricio Teles; se precisasse estudar, Juracy Batista estava nos esperando com a terrivel palmatória. Não havia doenças graves, só olhinho com dordolho que amanheciam fechados, nada que uma água morna não resolvesse. Bebia leite com toddy e tomava Emulsão Escot que o papai dizia que era prá não ficar burra e raquítica.
Felizes lembranças que ficaram para sempre de uma rua tão pequena e tão grande no coração de criança... As amiguinhas ? Foram embora atrás dos seus sonhos... Mas reencontrei três preciosas delas, Zelia, Verônica e Socorro Moreira.

Edilma Rocha

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