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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Raimundo Silvestre, meu Padrinho - por Edmar Lima Cordeiro



Tandor, o encantador de cobras, cinturão largo, cheio de apliques de metal, facão de folha larga e sempre afiado para corte de capim e bredo que me parece ser a tarefa daquele homem que me assustava e ao mesmo tempo o admirava pelo jeito manso e sorriso fácil que era dotado. Diziam que ele comia fígado de criança por isso o medo. Tandor ficou como mito e meu padrinho Raimundo Silvestre exerceu com mestria esse sentido mitológico que o encantador de serpentes povoava a mente da garotada da época, contando estórias desse homem misterioso que convivia no espaço de nossa infância. Raimundo Silvestre era especialmente nesse modo de passar às pessoas em particular à ameninada suas estórias e “causo” da vida sertaneja.

A Vazante era um sítio próximo a cidade no qual vivia a família do meu padrinho, casado com Zaré, sobrinha da mamãe e pai de meus primos Eldon, Armando, Edson e a flor sertaneja Aldenir (Deninha), um sítio que economicamente me parece tinha peso na manutenção da família, uma clara economia de agricultura familiar; tudo tinha, tudo brotava naquele canto maravilhoso de minha infância. Foi ali que tive meu primeiro e único contato com a natureza agrícola porque depois fui viver no Sul do País em Paranavaí, Paraná, tive então nova experiência agrícola como Secretário Municipal da Agricultura, e quanta admiração por esta atividade econômica, atuei no setor de revenda de máquinas agrícolas.

Mas os Silvestres estes todos, meus primos inclusive, fora da lida agrícola, formação básica da agricultura familiar.

O cenário da Vazante foi marcante para mim, lembro-me desde da cancela da entrada, das árvores (pés de paus), do jenipapeiro, dos pés de umbu, de seriguela, cajazeiros, da cerca de avelós, da qual me mantinha afastado com medo de cegar por causa do seu líquido leitoso, da cacimba, da olaria, da casa gostosa dentro daquela mata que me parecia frondosa.Um mundo especial que me foi emprestado por meu padrinho naquele recanto verde e solidário no qual também passeava meus irmãos ganhando vida e experiências no recanto da família Silvestre e Lima.

Raimundo Silvestre era esguio, sem barriga, um homem saudável, usava camisa solta, sério, sisudo, acho que tímido, leitor assíduo lembro das revistas Seleções e do seu encanto pela botânica não sei se só dele ou da Zaré, eles eram craques neste assunto e herdado pela Deninha me atrevo a dizer!

Merendava em casa e Zaré cuidava dele com especial delicadeza não lhe faltava mastruz com leite, suco de tomate era um cuidado especial fora os deliciosos bolos, doces, cocadas de gergelim, e iguarias que só ela sabe fazer.

Com a família morava a Félix que gostava de jogo de bicho, certa vez sonhou com um alicate e pediu para fazer uma aposta no macaco, suas interpretações era uma comédia e ganhava, padrinho Raimundo ria dessa natureza profética e analítica da inesquecível Félix.

Trabalhei com Eunício Dantas, um armarinho varejista e atacadista, onde aprendi atender pessoas, a vender renda para roupas femininas, botões, aviamentos, perfumes, aprendi também as medidas métricas, o que é dúzia, groza, unidade e a conhecer produtos desse negócio, um que me chamava atenção era o riri, ou seja, o zíper que achava uma invenção fantástica, certa vez atendi uma cliente , emiti a nota fiscal do balcão e escrevi “1 riri”, qual não foi a bronca que recebi do patrão sobrou-me uma ponta de chateação, ele corrigiu ensinando-me que a mercadoria chamava-se “zíper”, bem aqui eu tinha 12, 13 anos e ganhava meus trocos e, isso me credenciava a comprar na bodega do meu padrinho, tinha lá uma conta-corrente para anotar meus fiados, adorava comprar doce de leite em tijolo, uma loucura de gostoso, ele me vendia e anotava na minha conta ora acho que pagava, ora acho que mamãe acertava com ele. Essa relação comercial tive na aurora da minha vida com o patrocínio do Raimundo Silvestre.

Aprofundar essas experiências seria uma bela aventura da memória, a Aldenir pela Internet me pediu para escrever reminiscência minhas com meu padrinho. Ele foi um dos que me moldou para o mundo com seu exemplo de seriedade e de honra, foi um protetor de muitas necessidades de minha família e acho que o vínculo de amizade, amor, respeito que mantemos até hoje com essas pessoas são na verdade obra da convivência excepcional que tem minha família com esses amigos tão fraternais eternamente.

Minha saudação a Zaré, Edson , Armando, Eldon (em memória), Deninha pela aventura que tivemos na nossa infância moldada com a presença de mamãe Rosália, meu pai Vicente, meus queridos irmãos Ribamar, Flávio, Humberto, Ronaldo e destacadamente minha encantadora irmã Almery que amo de montão e, numa referência especial a uma pessoa que amalgamava todos nós em seu entorno Bazinha, a tia Amália.

Raimundo Silvestre é um totem, uma pessoa que pouco conheci sua natureza mas que teve até agora uma extraordinária vitalidade na vida desse afilhado, orgulho-me disso e com certeza todos os parentes reconhecem a personalidade dele que marcou a aurora de minha vida.

Parabéns por reconhecerem os atributos dele e pela homenagem dos 100 anos de seu nascimento.


Edmar Lima Cordeiro

3 comentários:

socorro moreira disse...

Que linda homenagem, Edmar !

Vou ler para minha mãe, nem que ela se emocione mais do que vc conseguiu emocionar-me !

Um grande abraço.

Aldenir disse...

Socorro, este opúsculo eu fiz em 2007, quando do centenário de nascimento do meu pai. Na epoca eu solicitei à alguns familiares que transcrevessem para o papel, alguma lembrança sobre o meu pai,e, Edmar foi um dos que prontamente atendeu ao meu pedido.
Sua mãe tem um livrinho desses, vou levar um prá voce também.

Beijos!

Aldenir.

Aldenir disse...

Edmar, meu primo amigo.
Beijo no seu coração.