Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 17 de agosto de 2010

VIDA ITINERANTE DE UMA BANCÁRIA(XIII)- por Socorro Moreira

Ferira de Barra do Mendes - Ba
Igreja de Valente-Ba
Bairro da Pituba - Salvador Ba


Setembro de 1988

Voltando para o Nordeste, mas novamente para um ninho estranho. Nem sabia que Barra do Mendes existia. Encontrei uma casa para administradores à minha disposição. Pela primeira vez, gozaria do conforto de um ar condicionado, no quarto de dormir. Não faltavam pessoas pra ajudar na luta de casa, e era muito gostoso fazer a feira livre, e comprar as coisas da terra. A Bahia é festiva por excelência, e a gente sem querer, entra no ritmo. E haja dança, e pequenas viagens turísticas. Lençóis, Salvador, e até uma esticada no Rio, em feriados prolongados. O salário aumentara consideravelmente. Deu pra comprar um carro novo, e presentear o Caio, com um outro, no seu aniversário de 18 anos. Deu também pra comprar um Gradiente, última geração, com aparelho de CD (coisa rara, naqueles tempos).
Por problemas familiares, houve uma inadaptação social, e, depois de um ano fui removida, a pedido, no mesmo cargo, para a cidade de Valente, região do sisal. E começou um tempo negro, no funcionalismo. Meu cargo era desejado por todos, e acharam razões, para que eu fosse destituída da comissão. Os motivos, os mais absurdos: excesso de bebida alcoólica, comprometimento com agiotas. Provada a ausência de culpa, ofereceram-me reparação. Eu poderia escolher uma outra Gerência, a meu critério de escolha. Mas, naquelas alturas, eu já estava morando em Salvador. E, gostando! Havia comprado um apartamento na Pituba, carro na garagem, e marido nas cobertas. André cursava o pré-vestibular, Victor fazia Medicina e Caio estava vivendo o seu primeiro emprego, depois de concluir o ensino médio.
Trabalhava no Caixa da Metropolitana Brotas, e tinha um bom relacionamento interno. Quando me ofereceram um cargo de Gerente Especial (aquele que negocia diretamente com os grandes clientes), resolvi fazer nova escolha. Candidatei-me a agências impossíveis, como : Gramado, Ouro Preto, Maceió, Friburgo, Curitiba. E de imediato, chegou minha nomeação como Gerex de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
Dessa feita eu deixava para trás uma vida confortável, mas ainda tinha missões especiais a cumprir. Novamente, o caminhão de mudanças parou na minha porta, e eu peguei um avião para o novo destino. Agora conheceria a região serrana do Estado do Rio. Friburgo era o meu destino!

Mas, Jair tem razão ...!
Passados uns 5 anos na Bahia, eu fiz por lá, meu aniversário de 40 anos. Ainda cheia de sonhos e com algumas esperanças. Gostava de viver a vida , mas sentia já um certo cansaço  das rodas de violão , ganhando as madrugadas.
Em Salvador tinha como compromisso de paz, visitar  a família da minha prima Gracinha, em Itacimirim. Final de semana  com guloseimas e aconchego da amizade. Meu companheiro  sabia tocar bem violão, tinha voz belíssima, e um repertório fantástico. Todo mundo gostava, e cantava junto. Mas, nem só de pão vive o mundo !
Naqueles anos, meus filhos perderam o pai, e minha dor foi tripla.Já sabia o que era enfrentar as alegrias do mundo, com uma ferida aberta das saudades.
Mas Salvador  era minha senhora. Devia-lhe os luares, o mar, as comidinhas apimentadas, o astral do carnaval, e a poesia ambulante dos baianos. Nunca esqueci aquela cidade... Cheguei em Friburgo cantando : "Eu vim da Bahia/ mas eu volto pra lá..." 
João Gilberto tinha sido , de certa forma, uma presença real !







Eu Vim da Bahia

Composição: Gilberto Gil

Eu vim
Eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem
Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver
Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
De outro lado o Senhor do Bonfim
Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar
Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia

Era  agosto de 1992 

4 comentários:

Edilma disse...

Esta novela em capitulos encanta a todos. Nem todo mundo abre as portas da vida como voce.
Parabéns !

Liduina Belchior disse...

Socorro,

Já lhe encontrei novamente e na Bahia.Até agora, na minha opinião, este Estado foi o que acrescentou a você maior magia! estou fazendo este percurso com sua estimada pessoa, passo a passo.
Estou no aguardo do próximo capítulo.

Abraços de sol: Liduina,

socorro moreira disse...

Edilma e Lidu, vamos comer um acarajé? Tô com água na boca de saudades !
Abraços, e gracias pela paciência das duas.

Claude Bloc disse...

Eita, esta parte está mais vibrante... As palavras brincam e o entusiasmo é contagiante...

Muito bom mesmo!