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Estão paralisados, mas não há desespero,
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(Carlos Drummond de Andrade)

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domingo, 3 de outubro de 2010

Orlando Silva - Por Norma Hauer


O dia era 3 de outubro, o ano 1915 ; nessa data nasceu um dos maiores fenômenos da música popular de nossa terra: ORLANDO SILVA.
Desde suas primeiras gravações já deixou sua marca.
Estreou na extinta Rádio Cajuti, levado por Francisco Alves que, em 1934, tinha um programa na emissora. Chico Alves apoiou-o logo de saída para que ele "derrubasse" o prestígio de Silvio Caldas, por ter a voz semelhante à de Sílvio. Só que ele surpreeendeu: não só passou a ter mais prestígio que Sílvio, como até Chico Alves "balançou" com o fenômeno ORLANDO SILVA.

Suas primeiras gravações na RCA Victor foram duas composições de Cândido das Neves:"Lágrimas" e "Última Estrofe". Antes, gravara na Colúmbia um "gingle" para o lançamento do "Chope da Brahma", exatamente com esse título e da autoria de Ari Barroso. É... muito antes de Zeca Pagodinho, um cantor então iniciante fez apologia da Brahma .
Embora os tempos fossem outros (não havia televisão) o lançamento foi
um sucesso.
Estreando, em seguida, na Victor, Orlando gravou aquelas composições de Cândido das Neves e, em seguida, "No Quilômetro 2".
A Victor, como se tratava de um cantor novo, fez mais fé neste samba, lançando-o primeiro no mercado discográfico.Só que sua interpretação nas músicas de Cândido das Neves mostraram sua grande sensibilidade como cantor e apareceram mais do que "No Quilômetro 2".
Foi, porém, com "Lábios que Beijei", de J.Cascata e Leonel Azevedo" que ele ficou conhecido em todo o Brasil como "O Cantor das Multidões", cognome que lhe foi dado por Oduvaldo Cosi depois de uma apresentação sua no Largo da Concórdia, em São Paulo.
Quase tudo que Orlando Silva gravou foi sucesso, tanto no terreno romântico, como no carnaval.

Ele sempre contava, a respeito de "Carinhoso", uma história que não batia pela contada por Heloísa Helena, cantora e atriz de renome nos anos 40.

Orlando, em mais de uma entrevista, disse que seu pai teria feito parte do conjunto "Oito Batutas", dirigido por Pixinguinha e que grande sucesso fizera na Europa, sendo “Carinhoso” um dos choros que mais marcaram esse sucesso.

O pai de Orlando, entretanto, não acompanhou Pixinguinha nessa ocasião, por motivo de família e, poucos anos depois veio a falecer. Orlando era muito criança então.

O choro "Carinhoso" foi um dos que fizeram parte do repertório de "Os Oito Batutas", grupo somente musical; assim, as melodias por eles apresentadas não tinham letra.
E "Carinhoso" era uma delas, lançada em 1918.
Orlando em várias entrevistas, em rádio e já em televisão gostava de dizer que apreciava muito o chorinho e que gostaria de gravá-lo.
Para que isso acontecesse, Pixinguinha pediu a Braguinha (então mais conhecido como João de Barro) que fizesse uma letra para "Carinhoso", a fim de que Orlando o pudesse gravar, o que aconteceu para o carnaval de 1939. Até hoje, "Carinhoso" é um sucesso em todo canto do país.
Heloísa Helena contava uma história diferente: sempre dizia que ela, gostando da música, pedira a Pixinguinha que fizesse uma letra, para ela apresentar em um espetáculo que se realizaria no Theatro Municipal.Foi quando João de Barro fez a letra.

Já com "Rosa" aconteceu algo que só anos mais tarde chegou ao conhecimento do público. Essa também era uma música dos anos 20, que não tinha letra. Orlando, achando-a lindíssima, pediu a Pixinguinha para gravá-la. E o fez na outra face do disco de 78 rotações em que gravou "Carinhoso" (em 1939).
Ele o fez, aparecendo no disco somente o nome de Pixinguinha.

Anos mais tarde (no início dos 70) Paulo Tapajós, um dos maiores pesquisadores de música popular que este país já teve, dirigiu o " Museu da Imagem e do Som". Foi quando entrevistou os artistas de então para um depoimento naquele Museu.

Paulo, entrevistando Pixinguinha, perguntou-lhe:"Pixinga, você não faz letra; quem fez a letra de "Rosa"? Respondendo, Pixinguinha confessou que foi um rapaz modesto (Octavio de Souza), que já falecera e que trabalhara nas oficinas da Central do Brasil, ali, onde hoje é o "Engenhão".

Só a partir daí ficou-se sabendo o nome do letrista de um dos mais bonitos versos
que fizeram parte de nossa música. E isso graças a Paulo Tapajós.
Não sei se esses casos constam de algum site sobre ORLANDO SILVA ou sobre Pixinguinha, mas o caso de "Rosa" ouvi-o do próprio Paulo Tapajós. Isso já nos anos 80. Somente a partir daí, novas gravações de "Rosa" trouxeram o nome de Octavio de Souza. Só que Orlando e Pixinguinha já haviam falecido.

Ainda sobre a música "Rosa", gostaria de informar que essa era a que mais sua mãe gostava. Depois de seu falecimento, Orlando não podia cantar essa melodia sem chorar. Ele era muito sentimental e adorava sua mãe. Assim era difícil, para ele, cantar "Rosa".
Só para citar, algumas gravações de Orlando que marcaram muito sua carreira:"Nada Além" e "Enquanto Houver Saudades", ambas de Mário Lago e Custódio Mesquita (as primeiras da parceria);"Súplica"(aquela, cuja letra não tem rima);"Caprichos do Destino";"Por quanto Tempo ainda";"Dá-me tuas Mãos";"Por Ti"; "Uma Lágrima, uma Dor, uma Saudade":"Lágrimas de Rosa";"Página de Dor";"Apoteose do Amor"...."A Jardineira";"O Pranto Meu Ninguém Vê";"Cidade Brinquedo" e "Cidade Mulher"(ambas exaltando o Corcovado):"O Meu Pranto Ninguém Vê"... estas últimas para os carnavais nos quais ele era sempre o mais ouvido.

A data de seu falecimento (7 de agosto) foi seguida à do Papa Paulo VI (dia 6). Assim, a cidade amanheceu de luto, como é comum acontecer quando morre um chefe de estado. Que aconteceu?

O féretro de Orlando deixou a sede do Flamengo, no Morro da Viúva, onde foi velado, seguido de um séquito de fãs, admiradores e jornalistas, para o Cemitério de São João Batista. Do alto do Morro do Pasmado, a bandeira a tremular a meio pau, mais parecia uma homenagem a ORLANDO SILVA.
Hoje seu corpo encontra-se no Cemitério de São Francisco Xavier, para onde foi trasladado por ordem de sua esposa Lourdes, que por sinal morreu pouco tempo depois.

Só para lembrar, a letra de

LÁBIOS QUE BEIJEI

Lábios que eu beijei,
Mãos que eu afaguei
Numa noite de luar assim.
O mar na solidão bramia
E o vento a solicitar pedia,
Que fosses sincera para mim.

Nada tu ouviste
E logo partiste
Para os braços de outro amor.
Eu fiquei chorando,
Minha mágoa cantando
Com a estátua perenal da dor.

Passo os dias soluçando com meu pinho
Carpindo a sua dor sozinho,
Sem esperança de vê-la jamais.
Deus, tem compaixão deste infeliz
Po que sofrer assim?
Compadecei-vos de maeus ais.

Sua imagem permanece imaculada,
Em minha retina cansada
A chorar por seu amor...
Lábios que beijei,
Mãos que eu afaguei,
Volta, dá lenitivo a minha dor.

Norma

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