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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A produção de contaminantes do solo - José do Vale Pinheiro Feitosa

A disputa política é a exposição de idéias, a conquista da sociedade pelo argumento. Nesta campanha usou-se muito a difamação, especialmente da candidata Dilma Rousseff. O uso foi tão extremado e o contéudo da difamação tão eticamente impróprio que muitos vêm o ovo da serpente do fascismo sendo gerado. A difamação não justifica nem a frase: "barrar este pessoal de qualquer jeito". É que barrar não diz nada, apenas impede. Não põe nada no lugar a não ser a violência e a intolerância.

Outro dia eu lia sobre os difamadores anônimos. Aqueles por trás de um método de campanha, que sem escrúpulos se escondem, especialmente na internet. Mas aí eu pensei. Espere aí, o conteúdo do que recebo pode ter sido elaborado nos porões, mas o e-mail de quem passou, os comentários de quem postou, os textos que postaram estão identificados (eu sei dos tais Troll, das páginas Fake). Não são anônimos: são pessoas da nossa convivência, que desejam nosso reconhecimento contínuo. E, então, pergunto: como te reconhecerás amanhã na calma dos dias comuns? Esperas que tudo seja simplesmente na cesta do esquecimento do vale tudo? Será que muito mais do que um material perecível estiveste dando repasse a um lixo tóxico que contaminará o ambiente por muitos anos?

Para dar mais argumentos a estes parágrafos, posto abaixo trechos de uma artigo de Maria Inês Nassif, publicado no Valor:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria colocar um outro item no rol "nunca antes na história desse país": nunca se usou tanta difamação num processo eleitoral como contra a candidata Dilma Rousseff, aproveitando-se dos preconceitos que já vêm embutidos no pacote mulher, petista, ex-militante da luta armada, ex-doente de um câncer, divorciada etc. Até que Dilma fosse candidata, sinceramente, eu achava que todo o estoque de preconceitos havia sido usado contra Lula nas campanhas de 1989, 1994, 1998 e 2002: operário, sem curso universitário, de origem nordestina. Os preconceitos da elite brasileira, no entanto, têm a insuperável capacidade de se superar.

Estoque parecia ter sido usado todo contra o operário Lula

Os excessos, todavia, têm limites. Existe uma linha muito tênue entre o medo que causa a difamação e a repulsa ao difamador. A artilharia pesada contra Dilma tende a torná-la vítima, daqui para 31 de outubro. Outra coisa é a maré. Dos dois candidatos, é Serra quem surfa contra a onda. O resultado nacional do primeiro turno não traz nenhum grande recado de desaprovação ao governo que Dilma representa. O presidente Lula, em nenhum momento da campanha eleitoral, teve reduzidos os seus índices de aprovação - e , ao que tudo indica, mantém uma capacidade de transferência inédita na história republicana brasileira.

O outro fator que pode favorecer Dilma, nessas duas últimas semanas antes do pleito, é que a agressividade da campanha do adversário tem produzido movimentos sólidos de unidade em torno da candidatura Dilma Rousseff, por parte de uma esquerda que estava dispersa desde 2002 e que à margem da militância partidária. O PT, que passou pelo processo de institucionalização e burocratização, tem vida partidária o ano todo mas perdeu capacidade de mobilizar massas, voltou a atrair contingentes que haviam se descolado do partido. Existe um óbvio receio do discurso pré-64 que foi a tônica da campanha tucana - e a reação é a unidade em torno de Dilma.

Esse é o movimento que detecto agora. Pode ser que não aconteça nada disso - a análise política, não raro, deixa escapar movimentos subterrâneos e súbitos. Pode ser que a nova classe média, que incha o meio da pirâmide social brasileira por conta da distribuição de renda ocorrida na última década, tenha se contaminado pelo conservadorismo próprio de classe, por medo da queda social. Mas, sinceramente, acho que, assim como milhões de brasileiros superaram a linha da pobreza, moveram-se também para fora de uma rigorosa linha de preconceito. O Brasil é conservador, mas não o foi quando decidiu eleger Lula, em 2002, e reeleger Lula, em 2006. O desejo de continuidade, se prevalecer nessas eleições e eleger Dilma, não terá nada de conservador, perto do discurso assumido pelo "candidato da mudança".

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras


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