Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Que avancem as alas. José do Vale Pinheiro Feitosa

O filme do Brasil tem os seguintes atores e enredo: uma ala formada por três grupos: a) rentistas, agronegócios, indústria e serviços; b) abrangendo a classe média tradicional, c) um terceiro grupo formado pela cultura compondo mídia e diversão e a outra ala formada por: a) operários e prestadores de serviço; b) camponeses; c) uma camada dispersa no limite da pobreza. A primeira ala corresponde a mais ou menos 20 a 30% da população e outra ao restante. O país criou um enredo político em que a primeira ala tem progresso e se reproduz na linha familiar de uma geração a outra, enquanto a segunda estagnou, migrou para as cidades e vive num caldeirão de violência, sobrevivência, sem proteção política, sem esperança, especialmente, no país e nos políticos e por tabela nas autoridades e governantes.

O golpe militar de 1964 está na raiz da manutenção deste enredo ao não barrar o progresso desta ala maior da população. O modelo é tão autônomo que mesmo com as eventuais boas intenções dos planos de desenvolvimento do período militar, os investimentos só melhoraram e sustentaram a vida da primeira ala e nada modificava da segunda ala. E, no entanto, a sociedade se endividou para isso, mas o Milagre Econômico só o foi para os que tradicionalmente já estavam no projeto de nação na primeira.

Mesmo com esta direita mais raivosa e que tem ódio de classe, que junta toda a segunda ala num só momento de crítica, a política e a sociedade sempre tomou consciência de que era preciso superar a dicotomia deste enredo. Que era preciso criar um projeto nacional que desse progresso à maior parcela do país, até para que ele se tornasse um entre político de atuação mundial. Aliás, com a insensibilidade do “meu pirão primeiro” não se dava conta, não era incomum que a classe média tradicional ao viajar ao exterior percebesse como mal vistos éramos em termos de justiça social. O lema é: o Brasil é um dos países mais injusto do mundo. Ali existe uma concentração de renda absurda e uma pobreza descomunal.

O Mobral, as frentes de fronteira agrícola, alguma coisa de reforma agrária, bancos de desenvolvimento, entre outras coisas foram tentativas contínuas, desde os anos trinta que não cessaram com o militares a tentar superar este enredo. Acontece que era preciso cessar o enredo, descomprimir o progresso da segunda ala e ajustar a primeira ala sem desorganizá-la, mas igualmente migrando da “preguiça” de viver às custas da sociedade como um todo e passar a ser protagonista de outro jeito.

A migração da preguiça para grupo “a” da primeira ala é acabar com vício de viver de juros, ser mais ousado em investimento produto, aceitar um jogo mais democrático no campo dos investimentos públicos o que significa, afastar o jogo familiar e partidário dos bancos de investimento, dar mais ênfase ao investimento em desenvolvimento social, quebrar o jogo do extra em obras públicas e principalmente pagar mais impostos.

Ao grupo composto pela classe média tradicional é brigar pela melhoria do sistema de saúde pública universal, pelo ensino público de qualidade, por segurança pública, por sistemas previdenciários de remuneração mais alto ao invés de tentar uma porta de saída pelos Planos de Saúde, pela escola privada, pelas “milícias” privadas e previdência privada (o que não exclui necessariamente a existência destas instituições, mas não como norte político). O resto é tomar consciência que numa sociedade de massa é preciso mais infra-estrutura do que a existente para as dimensões de apenas 30%: transporte urbano, trens, portos, aeroportos etc.

Ao grupo da cultura, especialmente esta meia dúzia que controla a mídia e as diversões entender: que o Estado não pode continuar a sustentá-los com verbas e empréstimos subsidiados, que é preciso democratizar a comunicação, é preciso descentralizar os meios e as escolhas para as cidades do interior. Não é possível que a sociedade continue financiando os Chateaubriand, Marinhos, Civitas, Frias e Mesquita para que estes apenas se perpetuem no seu negócio sem compromisso com todos.

Este é o drama do país desde o golpe militar e mesmo após a redemocratização, mas após esta tem um veneno acelerar o processo: a própria constituição a dar liberdade, garantir saúde e educação tem forçado sucessivos governos a destravar o progresso da ala mais pobre da sociedade. O Collor adotou até prédios emblemáticos da escola de tempo integral. Mesmo Fernando Henrique Cardoso tendo sido assolado por um neoliberalismo açodado, teve que considerar isso e o CPMF, apesar de irritar muita gente, foi uma manifestação disso, além do lado brilhante de Ruth Cardoso, que se diga foi muito mais aguda nesta questão que o Presidente.

O “Lula Paz e Amor” vai deixar muita saudade. Ele tentou ampliar o progresso dos pobres e conseguiu muitos tentos, muito mais que os governos passados, tentou sem passar o rodo na primeira ala, mas tem sido alvo de um ódio de classe crescente, oriundo de setores da classe média tradicional, da área da cultura, especialmente a mídia tradicional e nichos do grupo “a” da primeira ala, especialmente localizados em alguns estados, que vêm que o futuro estar a exigir novas práticas no grupo.

O José Serra, que vem da tradição política progressista, adotou de vez este ódio de classe. Tornou-se o grande e poluído Tietê de todas as mágoas, pensamentos irracionais e um ódio que todos os dias se manifestam nas ruas de São Paulo contra os nordestinos que “ergueram tantas coisas mágicas” naquela cidade e naquele estado. A idéia que é o “Paz e Amor” foi destroçado: que agora é ir para o pau.

Isso é tão verdade que os blogs mais progressistas hoje amanheceram com tremendas apreensões sobre esta “onda fascista”. Quadros do PT estão fazendo uma análise nervosa, frustrada, com um medo tremendo de tudo degringolar. Não raro surgem pensamentos mágicos, os pitaqueiros quase gritam sobre a qualidade do programa da Dilma. Monitoram imagens do programa, têm uma análise para a manhã e para a tarde.

E a política onde se encontra? O Lula moveu a regra do enredo, abriu uma brecha por onde a segunda ala tem esperança no progresso. Então, é aí que o curso da história, este que aos trancos e barrancos vem sendo superado, às vezes a passos miúdos tem que ter voz na campanha. É preciso afastar os golpistas, os nervosos, os atordoados dar a voz das ruas, voz ao povo que pretende um futuro melhor: seu filho na faculdade, seu neto andando de avião, sua neta podendo brilhar na platéia do mundo. Pense em que ter uma previdência universal para quem tem ou não carteira assinada. Tenha ou não contribuído, pois a riqueza ao final é a mesma e só haverá o que comer no futuro se no futuro tenha alguém comprometido a alimentar quem já não tem mais força para plantar.

Agora o jogo político não é de esperar que a primeira ala ceda algo para alguém. Especialmente não ficando batendo boca com quem destila veneno. As glândulas peçonhentas irão secar após o pleito, seja qual for o resultado. Se não cessarem levarão pau. O jogo é manter o desfile, que a segunda ala avance na avenida. Faça o seu desfile. Mostre que igual àquela bazófia americana da classe média do voto em Bush não vive sem os “mexicanos”. Vejam o filme: o dia que os mexicanos desapareceram. A avenida está ocupada, é apitar para que a bateria toque e que o passo da dança da verdadeira apoteose siga.

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