TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO!
Esta semana recebi e aceitei convite de uma Universidade para participar de uma banca em um concurso para Docentes. Fiquei observando os jovens candidatos em sua movimentação na sala. Todos apresentando perceptível ansiedade e nervosismo compreensível. Mas um fato me chamou a atenção e me reportou a algumas leituras sobre Globalização, Tecnologia e Educação. Cada um dos candidatos trazia uma parafernália de equipamento modernos para sua exposição. Fiquei pensando: o que teria mudado do ponto de vista do Mestre? A resposta, obviamente não é tão simples. Por outro lado não devemos nos esquecer dos velhos mestres, que pouco sabem e pouco ligam para a globalização, ainda atuando com sucesso nas salas de aula.. O que levaria um velho professor, acostumado ao quadro e ao giz, a exercer tanta atração sobre jovens mentes? Que efeitos teriam causados a globalização na pedagogia dos velhos mestres? Provavelmente nenhum.
Analisemos agora a postura pedagógica do jovem mestre, recém formado em curso de pós-graduação, que entra na sala de aula pela primeira vez. Este possivelmente dará um espetáculo de luzes e slides computadorizados e trará aos alunos os últimos números da glabalização. A qualidade altíssima do material desperta até mesmo o mais sonolento dos estudantes noturnos. Concluída a apresentação, acendem-se as luzes e começam os problemas. Não que o uso de recurso eletrônico seja o problema. Os problemas básicos que o professor enfrenta em sala de aula geralmente não são os de alunos mal educados. Estes existem, é verdade, mas geralmente são logo intimidados pelos próprios colegas quando o mestre sabe levar a isso. Alunos sonolentos não é também problema para o professor. Quem dorme, dorme. A velha jogadinha de giz na cabeça do dorminhoco já não existe mais, pois os quadros modernos utilizam pincel. Restam os acordados que não levam o material solicitado. Estes cabe ao mestre despertá-los para o novo e aí reside o maior problema da pedagogia dos novos professores. O maior problema que o jovem docente enfrenta em sala de aula é o confronto consigo mesmo dos gestos humanos mais complexos e que, geralmente ele dispensa tecnologia enquanto expõe o docente. Longos ensaios de pensamento e preparação meticulosa de cada frase e cada gesto muitas vezes preenchem o pensamento diário do professor jovem em dia de aula. Com o tempo ele descobre que o espetáculo em cima do palco pode valer pouco se o todo não for coeso. Para sua miséria emocional, ele descobre que o espetáculo é o conteúdo, e não ele é quem tem de ser o centro das atrações. Os gestos premeditados, as piadas selecionadas e treinadas, os jargões de efeito, todos perdem o sentido. O jovem professor, então, às vezes arrasado, mas a cada dia mais sábio, descobre o lado humano da pedagogia: ensinar é confrontar-se consigo mesmo perante os outros. Não há esconderijos e nem espaço para ocultar-se. É a partir desse confronto consigo mesmo que o mestre começa a perceber o desabrochar de um novo fenômeno o sentir-se mestre. Sentir-se mestre, no resumo de suas complexidades e sentir-se condutor de pessoas a um ponto de luz. É descortinar novos mundos aos olhos perplexos daqueles que até então viviam quase que nas trevas do desconhecimento. É uma caminhada de doação. É nesse ponto em que a pedagogia e teologia quase se encontram, não fossem as necessidades terrenas de se comer e morar. É em função dessas necessidades, e talvez só por isso, que professor não veste batina, sobretudo no mundo moderno em que a venda de mão-de-obra constituí-se na única propriedade desse tipo de elite pensante. Ao longo dos anos o mestre descobre que a transmissão do conteúdo precisa de sua presença iluminadora. O poder da presença iluminadora do docente é o elemento humano de maior penetração no processo de aprendizagem. Esse poder é hoje o maior enigma e o mais espetacular obstáculo ao crescimento e à legitimação do ensino a distância (EAD), uma nova forma de pedagogia trazida pelas novas tecnologias, alguns diriam: pela gobalização. A globalização com seu véu tecnológico e seu manto universalista, é um fenômeno interessante e que deveria ser estudado sob a ótica das vidas humanas e dos seus sentimentos, percepções, ambições e contradições, e não apenas sob a miragem, muitas vezes inocente, do orgulho pelos avanços tecnológicos. Na verdade, felicidade e tecnologia formam um dueto falso. O século mais tecnológico da história humana foi também o mais violento. O mundo com tanta tecnologia avançada, nunca produziu tantos milhões de famintos. A tecnologia só é boa quando é socializada, mas não apenas entre as classes medias dominante. Quando falamos do impacto da globalização na educação, não devemos esquecer que o processo de aprendizagem requer interação humana. O uso de meios eletrônicos na sala de aula pode acelerar a coleta de dados, mas não avança em nada a capacidade humana na análise de informações ou o entendimento de inter-relações. É interessante observar que o mundo de hoje, mais automatizado e tecnológico, ainda se debruça no íntimo de suas relações, sobre os sentimentos milenares de ansiedade e medo, de orgulho e contradição, de busca do entendimento das complexidades da existência humana. Não é a globalização e nem os computadores que tornarão os seres humanos mais inteligentes e hábeis na análise da vida. É o debate franco e a busca permanente da verdade que darão ao mundo futuro o que ele será. Não devemos nunca esquecer que os grandes filósofos e sociólogos não precisaram mais do que lápis, papel e giz para dizer ao mundo o que ele era, porque o era ou como o poderia ser.
Nilo Sérgio
2 comentários:
Nilo,
Parabéns pelo exelente texto !
Não nos deixe tanto tempo sem os seus escritos.
Queremos ter o prazer de ler você.
Abraço !
Edilma, só fiz UM ATO DE CONTRIÇÃO...dei pra ficar quieto, rezando no silêncio e aprendendo, me preparando pra voltar. Escreverei sim, se esta for a unica forma de continuar a ser lembrado. Vc é um PONTO DE LUZ...quem pode dizer não a uma baliza?
abraço
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