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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 20 de novembro de 2010

A cólera no Haiti e nos Haitianos - José do Vale Pinheiro Feitosa

A cólera, que praticamente desaparecera das Américas entre o final do século XIX e início do século XX, retornou ao continente pelo Sul, no meio de uma grande crise de crescimento e desenvolvimento. Chegou pelo Pacífico, aportou a costa do Peru, foi exuberante nos comedores de ceviche, atravessou os Andes e caiu na calha do Rio Maranon. Acontece que este é o nosso Solimões e logo explodia em Tabatinga, na tríplice fronteira, Brasil, Peru e Colômbia.

Pela calha do Amazonas ela desceu, logo atingiu São Luis do Maranhão e nos caminhões de compradores de roupa da malha costureira de Pernambuco se espalhou no Nordeste. Aí vimos a expressão clara de que uma epidemia não é um fenômeno de um micróbio, ela é um fenômeno histórico, cultural, econômico e profundamente social.

Naquela época estava na Comissão Nacional que cuidava do assunto e conversei com muitos governadores da região. Joaquim Francisco de Pernambuco havia proibido comer peixe e tomar banho de mar. Resultado, matou uma das fontes de renda do Estado: o turismo. Fomos lá e mostramos que aquilo não tinha fundamento científico, que para pegar cólera num mar diluído, era preciso beber tanta água salgada que adoecia do volume e não da cólera. Que o peixe era apenas questão de higiene. Joaquim tomou banho em Boa Viagem para a imprensa filmar e fotografar e comeu uma boa peixada pernambucana.

Na Paraíba Cunha Lima passava por algo igual. Fizemos um plano para recuperar não apenas a cólera, mas a cólera que atacava o turismo da Paraíba. E mais ainda, não adiantaria se vangloriar que meu Estado não tem cólera para atrair os turistas amedrontados, o problema era de todos. Enfim a cólera é um problema de todos.

Esta situação do Haiti é muito mais do que um Terremoto, a desgraça política de um povo e a miséria de suas vidas. A cólera no Haiti é um crime da humanidade nestes tempos de salve-se quem puder. Tanto tempo e as verbas não chegam. Tanta desgraça e não tem efetivamente uma grande mobilização para ajudar o país. Tanta gente desempregada e os governos não têm a capacidade de estimular a esperança. Deixaram tudo abaixo da mão pesada e morta e dizem que invisível do mercado.

Olhem que a maior desgraça da cólera no Brasil, ali onde se viu a face terrível, igual a esta do Haiti, ocorreu em Fortaleza. Aliás, esta capital entre os anos 90 e esta primeira dezena dos anos dois mil, já sofreu dois grandes dramas inigualáveis: uma Epidemia de Cólera e uma de Dengue. Ambas sob a égide de Tasso Jereissati e sua grei. A Epidemia de Cólera apenas cessou quando os susceptíveis à doença se esgotaram, ou seja, quando todos os expostos à falta de água adquiriram a doença. O canal do trabalhador talvez tenha salvo o futuro da cidade e o Ceará tem uma proteção.

Só para se ter uma idéia: a cólera não atingiu o sudeste e o sul e a diferença foi água limpa para beber. O mundo é incapaz de dar água boa aos haitianos. Os haitianos têm razão de atacar o mundo. Dirão que é terrorismo, e alguém, com razão dirá: um terrorismo limitado e o outro, do resto da humanidade, provoca um genocídio em larga escala. E este genocídio no Mar do Caribe, tem o dedo infectados do EUA e ainda tem gente com antolhos e um espelho retrovisor olhando para as desgraças do comunismo soviético.

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