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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mário Lago - Por Norma Hauer


AI, QUE SAUDADE DA AMÉLIA

Era um bonito dia de primavera, quando ele nasceu na Rua do Rezende, em pleno bairro da Lapa, no dia 26 de novembro de 1911. Parece ter vindo ao mundo para proporcionar prazer a todos que admiraram seu trabalho, nos vários setores em que atuou. Seu nome MÁRIO LAGO.

Como sua vida foi intensa, e sei que muitos a conheceram bastante, prefiro lembrar duas facetas de sua arte: como escritor e como compositor.
Como foi, também, autor de peças teatrais ( como se iniciou), de programas radiofônicos, ator de teatro, cinema e televisão,escritor e compositor, teria muito a falar, por isso, prefiro explorar o seu lado de escritor e de compositor.

Seus livros, que conheço e li mais de uma vez são "Na Rolança do Tempo"; "Bagaço à Beira de Estrada"; "Meia Porção de Sarapatel" e "1º de Abril".

Nos três primeiros ele relata fatos pitorescos de sua vida particular e profissional e das dificuldades que encontrou no início, embora filho de um músico (Antônio Lago).

Já em "1º de Abril", ele relata as vicissitudes por que passou em uma das vezes em que foi preso, por sua condição de simpatizante do comunismo.
Como o próprio nome indica, ele faz comentários sobre o que se passou no dia primeiro de abril de 1964, e nos dias em que esteve preso no DOPS e em outros
locais.

Sua prisão, ele descreve de modo humorístico, dizendo que os "tiras" chegaram a sua casa e foram se "espalhando"e perguntando onde se encontravam os objetos subversivos. Que objetos?, perguntou.
Sem obter qualquer resposta, viu um "elemento da lei" dirigir-se a um velho piano dizendo:"é aqui, onde deve existir algo subversivo" e vieram todos abrir e revirar o pobre piano. Que encontraram? Apenas o que todo piano possui. Notas e teclas.

"Que caneta é esta?", perguntou outro grande "herói" do primeiro de abril. Isto deve ser uma arma disfarçada. Pobre caneta! toda revirada mostrou ser apenas uma caneta.

Vamos, embora; você é subversivo e nós vamos provar.

Depois... podemos (ou não) imaginar o que ocorre em uma prisão de presos políticos. Sua narração é pungente. Não em relação a ele, mas a seus colegas, alguns do quais nem sabiam porque estavam presos.

Vamos ao MÁRIO LAGO compositor:

Sua primeira composição (gravada por Mário Reis) "Menina, eu Sei de Uma Coisa" mais tarde o deixou arrependido por ter sido um "dedo-duro", embora de "mentirinha". Isso porque ele sofreu na pele o fato de ter sido "dedurado" por colegas da Rádio Nacional, no famoso primeiro de abril.

Mas vamos a seu lado alegre:

Tendo conhecido o compositor e pianista Custódio Mesquita, ambos passaram a compor e produzir para peças apresentadas no Teatro Recreio.

Foi ali que lançaram duas de suas composições: " Nada Além" e "Enquanto Houver Saudades". Convidaram o cantor Orlando Silva, que estava no início de sua carreira, mas já fazendo sucesso, para que assistisse à peça. O objetivo era que Orlando gravasse essas composições.

Orlando adorou as músicas, levou-as para Radamés fazer o arranjo e as gravou. Ambas "estouraram", mas foi "Nada Além" que projetou o nome de MÁRIO LAGO' como compositor de inúmeros outros sucessos.

"Nada além, nada além de uma ilusão.
Chega bem, é demais para o meu coração...

Acreditando em tudo que o amor, mentindo, sempre diz,

Eu vou vivendo assim feliz,

Na ilusão de ser feliz... "

Muito além foi MÁRIO LAGO como compositor.

Vieram: "Devolve", "Não Quero Saber", "Que Importa?, gravadas por Carlos Galhardo; "Ai Que Saudades da Amélia" e "Atire a Primeira`Pedra", com Ataúlfo Alves, gravadas pelo próprio Ataúlfo e por Orlando Silva; "Aurora", em parceria com Roberto Roberti, gravada por Joel e Gaúcho; "Fracasso", grande suceso na voz de Francisco Alves; "Número Um", com Benedito Lacerda, gravado por Orlando Silva....

NÚMERO UM
A|utores Benedito Lacerda e MÁRIO LAGO
Gravação de Orlando Silva

"Passaste hoje ao meu lado
Garbosa, de braços dado,
Com outro que te encontrou.
E eu pobre, com sacrifício,
Pus um céu no teu suplício,
Pus lírios ne tua dor.

Mostrei-te um novo caminho,
Onde com muito carinho,
Levei-te numa ilusão.
Tudo, porém, fo inútil,
Eras no fundo uma fútil
Que foste de mão em mão.
Satizfaz tua vaidade,
Muda de dono à vontade,
Que isso em mulher é comum.
Não guardo frios rancores,
Pois entre teus mil amores
Eu sou o número um".

Sobre "Fracasso", ele gostava de brincar dizendo que um de seus maiores sucessos era um "Fracasso". E sobre "Ai, que Saudades da Amélia" e "Aurora", ele dizia que "explorava" duas mulheres.

MÁRIO LAGO chegou a completar 90 anos no dia 26 de novembro de 2001. Nessa data, em entrevista a jornalistas disse que viveria 100 anos.


Mas não completou nem 91.

No ano seguinte, no dia 30 de maio, veio a falecer, em sua residência.

Norma

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