Aceito minha carne.
Minha fome.
As enrugadas falanges
dos meus dedos beatos.
Minhas faces equivocadas
diante do espelho embaçado.
Aceito meu refúgio.
Meu fabuloso abismo.
A santa esquizofrenia
das palavras sussurradas.
Aceito minha mentira.
Minha maldição.
Ofereço-me o corpo
às chicotadas de bambu.
Aceito esse coração trepidante.
A falta de sangue no olho.
Os ancestrais que se contorcem
envergonhados da minha fraqueza.
Aceito minha fraqueza.
A haste do capim queimada
pela sombra de uma formiga.
Aceito meu aneurisma.
As axilas friorentas.
O hálito denso.
O dorso da língua áspero.
As unhas anêmicas.
Os cílios ínfimos.
Aceito minha alma -
a obscura mendicância.
As coisas invisíveis,
a porta aberta,
os calafrios.
Aceito meu fim.
O remorso.
O cinismo.
O medo.
O último cafezinho,
a cafeteira suspirando.
Um comentário:
Não aceito o teu fim. Como a cafeteira, suspiro pela tua poesia.
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