Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 30 de agosto de 2009

Solitude - Por Claude Bloc


De repente me senti só. Olhei pro Blog e nada se movia. O contador mostrava insistentemente que eu estava sozinha, que a hora passava, que a rádio tocava. Mas não havia ali um sinal sequer de alguma alma vivente. Senti o frio da noite entrando pela janela e um arrepio me percorreu inteira. A sensação de estar ali (ou aqui) em plena e letárgica solitude, me assustou. Sabe-se lá quantas vezes isso possa ter ocorrido antes, mas nunca me havia dado conta, nem sentido tão agudamente a falta de meus amigos. Desta vez, porém, subitamente senti o peso do silêncio e o vazio das palavras.

Fixei o olhar na copa das arvores lá fora. Mal dava para adivinhar o seu contorno, mas sabia que o vento fazia festa na folhagem. Olhei para o mundo, só vi escuridão. No céu, as estrelas me insultavam piscando desaforadamente. Tentei despistar a sensação de desconforto, mas nada dava certo. Televisão pra quê? Por acaso alguém agüenta assistir a esses programas sem sentido num dia de sábado? Virei o rosto para a lua. De longe ela parecia escarnecer-se de minha aflição. Logo ela, que tanto me inspira e que sempre é minha amiga!

E fui afundando em lembranças. Mexendo nuns textos. Busquei muita coisa, mas nada me pereceu oportuno ou prático. Fiquei atenta aos sons da noite. De longe parecia ouvir o marejar das águas e a cantiga irritante de um grilo me fez perceber que a vida lá fora está em pleno curso: o mar esbravejando nas areias, os cachorros anunciando os mistérios da noite. E eu aqui cismando com esta minha sensação de desamparo.

Pensei comigo: hoje é sábado. Todos saem no sábado, menos você, Dona Claude. Mas lembrei-me de que hoje eu saí: fui à praia. Molhei os pés no mar. Deixei-me beijar pelas espumas. Senti a energia das águas escoando em mim com a força da maré crescente. Mas de que isso me adiantou se não tem um só texto novo por aqui? Se ninguém comenta, se nada acontece? Onde vou pôr este sorriso que quer ancorar em alguma palavra bonita da Socorro, em algum pensamento do Bernardo, em alguma crônica do Zé Flávio, Zé do Vale, Roberto Jamacaru, Emerson, Ana Cecília, Maria Amélia e tantos outros colaboradores nossos? Onde no domingo, posso ler à poesia do Domingos, as presepadas do Nilo, as histórias da Stela, a arte de Edilma, a placidez de Joaquim? Onde vou ver cores mais bonitas e cenas mais inspiradas que nas fotos do Pachelly? E os causos de Carlos Eduardo, e o sorriso bondoso de Magali onde posso encontrar? Enfim, os Rafaéis e todos os que nos prestam ajuda, como posso ficar sem toda essa gente que compõe essa tessitura que é o Cariricaturas?

Aos poucos e só então, entendi que estou atada aos meus amigos. Que me faz bem esse movimento, esse carinho, essa alegria que nos toca de uma forma tão simples quão intensa. Que é bom ter este espaço. Esta praça onde todos se sentam em roda pra papear. Onde o passado se emenda com o presente para reescrevermos a história de nós todos.

Pois é, e vejo que já deu meia-noite. Fico tentando empurrar alguma música dentro de mim para apascentar a inquietude. Vou dormir, tenham bons sonhos.

Boa noite, amigos. Ou seria BOM DIA?
.

4 comentários:

socorro moreira disse...

Claude é insaciável, em termos de vida.Na hora que ela acorda, a gente sonha. Agora é de manhã , o sol está alto , e aposto que ela dorme.Nessa alternância de presenças , no pingo do meio dia o povo se encontra !
O blogue espera as chegadas , e protege a solitude de cada um, porque a hora do silêncio solitário é sagrada .

Um abraço , minha amiga !
Bom dia !

Stela disse...

Ah, Claude não vou comentar, aliás vou só dizer que tive vontade de pedir a Bisaflor pra ir contar uma história pra te fazer dormir. Amanhã, segunda feira, dia regido pela Lua, Bisaflor vai contar história no blog. Hoje, pra gente bater um papinho poético, vou te falar da primeira vez que vi o mar.
"A primeira vez que vi um mar
Foi quando o rio Carás deu uma grande enchente
Emendou com o riacho Correntinho
Cobriu as cacimbas da vazante
Veio beijar os pés da ladeira
(Escada para a casa do meu avô)
E veio pedir a benção do velho Zé Valdevino da Cruz.

Vovô amava a terra a e a água
Mesmo nas madrugadinhas mais frias
Ele descia a ladeira e ia tomar seu banho na cacimba
Água fria, água pura
Batismo, benção."

beijão querida amiga

Claude Bloc disse...

Socorro,

Não tenho dormido assim tão tarde, assim tão cedo. Mas domingo é dia do Victor (meu neto). Dia de acordar com ele. Dia de bagunçar com ele até chegar a hora de ir pra Sobral, sobrar as horas e descansar o cansaço.
Ontem fui dormir depois da postagem,mas senti fundo a solitude.

Abraço,

Claude

Claude Bloc disse...

Stela,

preciso mesmo do colo de Bisaflor.
Quando me faltam palavras para encontrar os amigos.

Esse teu mar do Correntinho (Correntim) aos Carás eu o atravessei tantas vezes na minha infância, que acho que muitas vezes, sem saber, cheguei à soleira de tua casa e me fartei da água pura e fresca que oferecias.
Minha vida também foi feita de travessias. De ladeiras, de estradas de terra, de poeira, da águas sempre bem vinda e da solidão das serras.
Por isso, sinto de vez em quando a falta dessa troca, desses ares, dessa gente tão nossa.

Obrigada e um abraço saudoso.

Claude