Domingo! Parece que tudo pára. A vida desacelera. O tempo, porém, é paradoxo. Se enfeita para girar a vida e a nova semana que chega.
No domingo, fecho-me. Sonho-te. Penso-nos. Calo-me. Olho para as fotos ali, paradas e silenciosas. Angustio-me ao lembrar-me do enorme prazer que senti ao picotá-las quando me olhavam torto. Olhos, braços, boca e pernas agora fragmentadas, na agenda, caladas e coladas. Momento desconstruído, virou arte. Arte que me faz reflexiva quando percebo que tive que me reconstruir do nada, quando me fragmentei por nada. Mas fui além. Superei a fratura de minh’alma. Remendei-a.
Na verdade, até hoje não sei se é isso tudo que me faz ou fez silente, sobretudo aos domingos. O que me faz soturna. O que me faz buscar a mim mesma assim tão intensivamente nesses retalhos, nesses pedaços de tempo espalhados que vez por outra se aglomeram e se recompõem como esta foto que observo. O certo é que ao menos aprendi a conviver com minha própria imagem. Percebo que hoje sou uma mulher que já sabe se olhar no espelho, mesmo tendo ainda espelhos em que não me reconheça.
Mas isso tudo são apenas minhas coisas de domingo. Quando minha voz fala mais baixo, devagar e às vezes até cala. Quando procuro me reconhecer nesse novelo de vozes que me acossam. Quando procuro falar pouco. Para rever velhas e novas imagens de mim, em mim, pois que agora não preciso mais picotá-las.
Confio na hora certa de compreender o que a vida escolhe para mim, aceitar e fazer disso o melhor.
Hoje, aprendi que sou como um rio, às vezes lento, às vezes nem tanto, mas sempre fluindo. E, assim, lá se vai mais um domingo. Escorrendo, desfiando as horas. Sei que a fala e o silêncio vêm na hora exata. É uma questão de tempo.
Texto e foto por Claude Bloc
4 comentários:
Eita mulher que sabe fazer arte !
Adorei esse efeito especial, na foto.
Beijo
Claude, desejo um domingo tranquilo e de muita paz de espírito para você e para meus amigos do Crato.
beijos,
Cesar Augusto.
que belo texto, Claude!
bom domingo!
Claude, concordo que você possa ser um rio, mas na minha visão és um Nilo.
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