Algo não andava certo. Eu, sentada sobre a cama olhava para a janela e para a persiana fechada. Fechada como eu. Fechada em mim mesma e sobre mim. O silêncio fazia-me sentir o sangue latejar nas têmporas. Pulsava descompassado e inquietante.
A janela trazia-me o barulho da rua. Mas eu me oferecia ao silêncio Eu me habituara a essas noites silenciosas. Às noites sem fim. Sentia-me, pois, tão linear quanto o traço com que havia construído com minha vida. Tivera, sim, altos e baixos, mas agora tudo parecia liso e macio como essas madrugadas insones. Pelo menos como esta noite!
Andei pelo quarto descalça. Olhei para a noite opaca lá fora e pus-me a engolir as nuvens com pensamentos desvairados. Não havia estrelas. O vento estava mudo e parado. Não havia o que ver, mas eu estava agitada.
Desviei-me da janela. Olhei de volta para aquelas fotografias sobre a cama e percebi que nunca saíra de dentro do meu confinamento. As viagens que fiz talvez tivessem sido um erro. Parecia-me ter sempre saído de casa ficando presa aos fantasmas. Aqueles que se constituíam em perspectivas apenas do meu olhar interior. O olhar que resistia. Aquele que me segurava. Aquele que me fazia resistir ao medo. Aos meus medos. E eram tantos os meus medos! Tantos que tentei pintá-los todos em azul e branco numa tela como aquela que eu achava ser minha vida.
E em meus medos estava um olhar como aquele que nunca quis demonstrar para não parecer fragilizada aos olhos dos outros. Ao contato que eu temia. Por medo de envolver-me. Haveria, pois, de renunciar ao azul e branco de minha tela por medo de já não ser ou de nunca ter sido. De não poder ser o ser que eu sou. Apenas uma mulher em silêncio!
Texto e foto por Claude Bloc
A janela trazia-me o barulho da rua. Mas eu me oferecia ao silêncio Eu me habituara a essas noites silenciosas. Às noites sem fim. Sentia-me, pois, tão linear quanto o traço com que havia construído com minha vida. Tivera, sim, altos e baixos, mas agora tudo parecia liso e macio como essas madrugadas insones. Pelo menos como esta noite!
Andei pelo quarto descalça. Olhei para a noite opaca lá fora e pus-me a engolir as nuvens com pensamentos desvairados. Não havia estrelas. O vento estava mudo e parado. Não havia o que ver, mas eu estava agitada.
Desviei-me da janela. Olhei de volta para aquelas fotografias sobre a cama e percebi que nunca saíra de dentro do meu confinamento. As viagens que fiz talvez tivessem sido um erro. Parecia-me ter sempre saído de casa ficando presa aos fantasmas. Aqueles que se constituíam em perspectivas apenas do meu olhar interior. O olhar que resistia. Aquele que me segurava. Aquele que me fazia resistir ao medo. Aos meus medos. E eram tantos os meus medos! Tantos que tentei pintá-los todos em azul e branco numa tela como aquela que eu achava ser minha vida.
E em meus medos estava um olhar como aquele que nunca quis demonstrar para não parecer fragilizada aos olhos dos outros. Ao contato que eu temia. Por medo de envolver-me. Haveria, pois, de renunciar ao azul e branco de minha tela por medo de já não ser ou de nunca ter sido. De não poder ser o ser que eu sou. Apenas uma mulher em silêncio!
Texto e foto por Claude Bloc
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