Sr. Abidoral Rodrigues Jamacaru
Em 1905 nascia, na Vila de Jamacaru, hoje distrito do município de Missão Velha, no Ceará, o cidadão Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Mas foi somente em 1918, portanto aos treze anos de idade, que ele migrou desse modesto lugarejo para a cidade de Crato, também no sul do estado do Ceará. Era o começo de uma cumplicidade eterna entre um ilustre desconhecido e a cidade que ele escolhera para viver.
Cheio de amor e entusiasmo pela nova vida, o então rapazola Abidoral colocou em ação, não apenas seus planos de vida e força do trabalho, mas, principalmente, nas noites boêmias da nova terra, sua alma de artista regida pelos acordes mágicos de seu plangente bandolim.
A cidade e o comerciante...
Nessa sua nova fase de vida, Bidinha, como era chamado, deu início às suas atividades no comércio local na condição de empregado da Casa Mattos (comércio de miudezas), cujos proprietários eram os ilustres comerciantes Izaias e Joaquim Mattos.
Em 1927, em parceria com o Senhor João Ranulfo Pequeno, Abidoral instalou, na Rua Bárbara de Alencar, uma pequena loja de variedades.
Decorridos dois anos da sua fundação, João Ranulfo negociou sua parte com o seu parente José Horácio Pequeno (futuro Prefeito do Crato) que, por sua vez, ajustou venda de seu capital ao futuro e único proprietário Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Com um pequeno capital de Cr$1.200,00 (Um mil e duzentos cruzeiros), o novo dono transformou a firma na tradicional CASA ABIDORAL.
Na época, num pequeno trecho da Rua Bárbara de Alencar, centro da cidade, foram seus contemporâneos de comércio: Moacir Barreto Dantas, Expedito Barreto Dantas, Sá Barreto, Cícero Beija-Flor, José Vilar, José Eurico, Manoel Teixeira, Joaquim Patrício; Tarcísio Leitinho, Balduino Bezerra, Almir Carvalho, João Gualberto, José Honor; a família Belchior, Raimundo Oliveira, Alfredo Leite (Seu Alfredinho), Leonel; o padeiro português Acácio, o relojoeiro Nonato, o Barbeiro Zé de Zumba, o bodegueiro Ioiô, o courista Vela Branca, Mário Correia de Oliveira e tantos outros.
O Músico, o seresteiro o amigo...
Ao Crato, sua grande e inesquecível paixão, ele doou aquilo que mais amava na vida, que era a arte de encantar e embalar o povo com música. Para tanto compôs, entre outras melodias, a belíssima “Crato Querido”, a inesquecível “Céu Azul” (gravada pelo filho Pachelly Jamacaru); o eletrizante choro “Bagaceira” e o duplo sentido “Onde é que as muié do Piquitão...?”... Esta uma alusão às mulheres que catavam o fruto do pequi na Floresta da Chapada do Araripe.
Seu máximo, que levava ao delírio homens e mulheres sedentos de paixão, era, sob a luz do luar, nas frias e boêmias ruas dessa cidade, executar, dedilhando o seu mágico bandolim, inesquecíveis serenatas.
Esse espírito artístico e sonhador que o Crato conheceu, acompanhou o Sr. Abidoral até os últimos momentos de sua vida. No entanto foi um legado poeta que não morreu! Ele, endossado pelos caprichos literários de sua esposa, a Sra. Ana Aires de Aquino Jamacaru – Doninha - continua na genética de seus filhos e netos, espalhados pelo Crato e mundo a fora.
Epílogo...
O tempo, implacável, foi aos pouco procurando dar o descanso não só ao trabalhador, mas, também, ao artista Abidoral Rodrigues Jamacaru que, no ano de 1975, após cinquenta e dois anos de lida, resolveu aposentar-se.
Nos anos seguintes, talvez num ato inconsciente de despedida do Crato, ele passou a praticar costumeiras andanças pelas ruas e praças dessa cidade acalantando, com sua cítara quase mágica, o povo a quem tanto amara.
E assim continuou até que, no dia 20 de março de 1994, mais precisamente às 09h40m, o então menestrel, sentindo-se com o dever cumprido, resolveu, para tristeza nossa e alegria dos anjos boêmios da eternidade, nos deixar.
O Céu, que um dia, em uma determinada canção, recebera desse poeta musical uma profunda e singela homenagem, ficara, a partir de então, como os olhos do próprio autor... Intensamente mais azul!
Homenagem de sua esposa Ana Ayres de Aquino Jamacaru (Em doce memória) e de seus filhos Hildeberto Jamacaru de Aquino, Ana Lúcia Jamacaru de Aquino, Abidoral Rodrigues Jamacaru Filho, Célia de Souza, Roberto Jamacaru de Aquino, Alberto Jamacaru de Aquino, Luciane Jamacaru de Aquino Schimidt, Pachelly Jamacaru de Aquino e Fátima Jamacaru de Aquino.
Texto e foto por Roberto Jamacaru
Em 1905 nascia, na Vila de Jamacaru, hoje distrito do município de Missão Velha, no Ceará, o cidadão Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Mas foi somente em 1918, portanto aos treze anos de idade, que ele migrou desse modesto lugarejo para a cidade de Crato, também no sul do estado do Ceará. Era o começo de uma cumplicidade eterna entre um ilustre desconhecido e a cidade que ele escolhera para viver.
Cheio de amor e entusiasmo pela nova vida, o então rapazola Abidoral colocou em ação, não apenas seus planos de vida e força do trabalho, mas, principalmente, nas noites boêmias da nova terra, sua alma de artista regida pelos acordes mágicos de seu plangente bandolim.
A cidade e o comerciante...
Nessa sua nova fase de vida, Bidinha, como era chamado, deu início às suas atividades no comércio local na condição de empregado da Casa Mattos (comércio de miudezas), cujos proprietários eram os ilustres comerciantes Izaias e Joaquim Mattos.
Em 1927, em parceria com o Senhor João Ranulfo Pequeno, Abidoral instalou, na Rua Bárbara de Alencar, uma pequena loja de variedades.
Decorridos dois anos da sua fundação, João Ranulfo negociou sua parte com o seu parente José Horácio Pequeno (futuro Prefeito do Crato) que, por sua vez, ajustou venda de seu capital ao futuro e único proprietário Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Com um pequeno capital de Cr$1.200,00 (Um mil e duzentos cruzeiros), o novo dono transformou a firma na tradicional CASA ABIDORAL.
Na época, num pequeno trecho da Rua Bárbara de Alencar, centro da cidade, foram seus contemporâneos de comércio: Moacir Barreto Dantas, Expedito Barreto Dantas, Sá Barreto, Cícero Beija-Flor, José Vilar, José Eurico, Manoel Teixeira, Joaquim Patrício; Tarcísio Leitinho, Balduino Bezerra, Almir Carvalho, João Gualberto, José Honor; a família Belchior, Raimundo Oliveira, Alfredo Leite (Seu Alfredinho), Leonel; o padeiro português Acácio, o relojoeiro Nonato, o Barbeiro Zé de Zumba, o bodegueiro Ioiô, o courista Vela Branca, Mário Correia de Oliveira e tantos outros.
O Músico, o seresteiro o amigo...
Ao Crato, sua grande e inesquecível paixão, ele doou aquilo que mais amava na vida, que era a arte de encantar e embalar o povo com música. Para tanto compôs, entre outras melodias, a belíssima “Crato Querido”, a inesquecível “Céu Azul” (gravada pelo filho Pachelly Jamacaru); o eletrizante choro “Bagaceira” e o duplo sentido “Onde é que as muié do Piquitão...?”... Esta uma alusão às mulheres que catavam o fruto do pequi na Floresta da Chapada do Araripe.
Seu máximo, que levava ao delírio homens e mulheres sedentos de paixão, era, sob a luz do luar, nas frias e boêmias ruas dessa cidade, executar, dedilhando o seu mágico bandolim, inesquecíveis serenatas.
Esse espírito artístico e sonhador que o Crato conheceu, acompanhou o Sr. Abidoral até os últimos momentos de sua vida. No entanto foi um legado poeta que não morreu! Ele, endossado pelos caprichos literários de sua esposa, a Sra. Ana Aires de Aquino Jamacaru – Doninha - continua na genética de seus filhos e netos, espalhados pelo Crato e mundo a fora.
Epílogo...
O tempo, implacável, foi aos pouco procurando dar o descanso não só ao trabalhador, mas, também, ao artista Abidoral Rodrigues Jamacaru que, no ano de 1975, após cinquenta e dois anos de lida, resolveu aposentar-se.
Nos anos seguintes, talvez num ato inconsciente de despedida do Crato, ele passou a praticar costumeiras andanças pelas ruas e praças dessa cidade acalantando, com sua cítara quase mágica, o povo a quem tanto amara.
E assim continuou até que, no dia 20 de março de 1994, mais precisamente às 09h40m, o então menestrel, sentindo-se com o dever cumprido, resolveu, para tristeza nossa e alegria dos anjos boêmios da eternidade, nos deixar.
O Céu, que um dia, em uma determinada canção, recebera desse poeta musical uma profunda e singela homenagem, ficara, a partir de então, como os olhos do próprio autor... Intensamente mais azul!
Homenagem de sua esposa Ana Ayres de Aquino Jamacaru (Em doce memória) e de seus filhos Hildeberto Jamacaru de Aquino, Ana Lúcia Jamacaru de Aquino, Abidoral Rodrigues Jamacaru Filho, Célia de Souza, Roberto Jamacaru de Aquino, Alberto Jamacaru de Aquino, Luciane Jamacaru de Aquino Schimidt, Pachelly Jamacaru de Aquino e Fátima Jamacaru de Aquino.
Texto e foto por Roberto Jamacaru
7 comentários:
Emocionante !
Ontem foi o dia da seresta, e eu esperei , e quase ouvi, o bandolim do nosso menestrel.
O que nos foi contado por você, Roberto, nos foi remomorado.
E a gente agradece , porque participamos dessa história de formas diversas.
Mas ninguém teria feito melhor do que você !
Um abraço grande .
Posso acrescentar duas figuras do comércio da Bárbara de Alencar?
No quarteirão depois da Pasteur , e perto de Seu Sá ( que vendia passa-raivas): Seu Esmerindo Tavares e Antonio Caçula.
Lembra também de Seu Nequinho , que vendia redes, alumínios ?
Se a gente parar um pouco, começa a lembrar...
A Farmácia Teodorico, A Cratense, A Casa dos Parafusos ( Cícero Coló), e a primeira "Babilônia" de Wilson Alves de Sousa ...
Lembro de todos vocês , ajudando ao pai. Lá, diariamente, a gente comprava a folha de papel almaço, pra fazer provas, o papel crepon e de sedas , nos tempos de festa ; bolas de assopro, coisas pra aniversário, presentes, brinquedos ...!
O espaço era pequeno, mas abarrotado de mercadorias diversas.
O Armarinho de Seu Abidoral tem o cheiro da nossa infância, assim como em João Gualberto, Joaquim Patrício e Cícero Beijaflor, a gente achava o gosto !
Nas farmácias era a injeção da dor, no bumbum...
Você me fez passear nas lembranças , e eu tive a sensação de agarrar outra vez, na saia da minha mãe, e fazer umas comprinhas naquela rua.
Ah!
Essa história é repetida por mim, mas vale:
Minha mãe tocava bandolim. Quando o seu avô faleceu, minha bisa ordenou que ela passasse um ano sem tocar , respeitando o luto. Ela ficou tão desolada, que vendeu o bandolim para o Seu Abidoral.
Ainda bem, que ele ficou em boas mãos. Tinha sido um presente do seu pai.
Eu sinto tanta ternura pela história das nossas vidas , e mais ainda, quando elas se entrelaçam !
Claude,
Lembro demais dessa pesoa ESPECIAL,eu era pequena quando soube do falecimento de sua esposa;Dona Doninha,desastre de Rural,se não me engano.
A familia toda é muito querida.
Gostei demais de vir a foto de "Seu"Abidoral.
Abraços:Liduina.
Roberto, com uma "árvore" dessa, so podia ter dado tantos "frutos"bons...
abraços
Roberto,
As lembranças do Crato e das pessoas que povoaram nossa vida, nossos intantes vividos são marcas indeléveis.
Lembro-me de teu pai. Lembro-me também de passar frente à loja e ouvir lá de dentro a música e os acordes nas cordas do aprendiz - Bida.Lembro-me de como eu namorava aqueles violões ali expostos ansiando em ter um daqueles algum dia...
Certo dia resolvi estudar violão com Nélio. Papai foi ao centro e me trouxe um bem simples e pequeno - que se adequasse à envergadura de meus dedos -(comprado na CASA ABIDORAL). Depois, ainda fui comprar cordas para repor aquelas que eu arrebentava com minha imperícia no afinamento. Tentei enveredar pela música assim. Mas hoje sou apenas uma aficionada que nada toca.
Gosto de ouvir.
Mas sempre que se fala em violão revejo a loja e a imagem pacata e tranquila de Seu Abidoral, teu pai.
Um abraço pelas boas lembranças que nos trouxe com sua homenagem.
Claude
Meus parabens Roberto por fazer agente lembrar da CASA ABIDORAL, daquela casa que vendia todo tipo de miudeza, eu mesmo ia compra ponteira para o meu pião que zê matos fazia ali perto da insinuante e muitas outras coisas que meu pai mandava agente comprar.
Sou neta de Abidoral e posso confirmar, assim como a paixão pela fotografia, a paixão pela música está no nosso sangue. A minha pequena de 8 anos já sonha em ter seu violão ... maravilhosa herança!
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