Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Águas nascentes - Para o menino Roberto Jamacaru - Por Claude Bloc


O que há por trás dessas águas? Perguntava-se o menino olhando com curiosidade para a nascente. Olhava para aquelas águas desconfiado com os olhos mais abertos e menos cotidianos. Olhos açucarados tentando enxergar as nervuras do chão através da lenta e silenciosa correnteza. Observava aquela água minando das pedras, pelas brechas, pelos vãos. Eram as nascentes da Serra que brotavam do chão como numa mágica...

Sempre tivera a curiosidade de ver o que havia lá dentro daquele mundo transparente das águas. Mas sonhava além. Peixes, areias claras arrastadas pelo aluvião. Enxurradas no tempo das chuvas. Tudo num ciclo sem fim de finais e recomeços.

Morava pelas redondezas, em outras encostas, perto das águas. Da janela via as subidas e descidas da serra e o infinito azul do céu... E a água ia jorrando espumas, cuspindo peixinhos. Vez por outra o menino punha seus pés nas águas para sentir-lhe a frescura enquanto o sol seguia pelo arco celeste curtindo-lhe a pele.

Por um longo tempo ficava absorto. Ouvia o canto sutil das águas. A música que viajava em seus ouvidos. Queria apenas continuar molhando seus pés na nascente, sentindo seu cheiro molhando a terra, o mormaço ardendo em suas narinas. Queria só ficar olhando os minutos passarem além da nascente, do sol, da coreografia das águas.

Sabia que não podia viver longe da serra, nem daquelas águas cristalinas. As águas eram seu destino. Olhava para a serra ofegante e para as águas frescas e queria dar-lhes vida em seus sonhos.

E dentro de si, no encalço da atitude mais silenciosa queria ouvir a voz do universo naquelas águas benditas. Águas da nascente.

Texto e formatação da imagem por Claude Bloc

3 comentários:

Pachelly Jamacaru disse...

Eita amiga, hoje apresentaremos noss parceria, da qual fiquei imensamente feliz com resultado! Espero que goste!

Belo presente ao menino Roberto!

Abração
Pachelly

socorro moreira disse...

A foto, absurdamente linda. O texto, um primor !


Viva !!!

Roberto Jamacaru disse...

Amiga Cloude

Passei uns dias com problemas no meu micro, razão pela qual não li este primor.
Ser parte integrante desse imaginário, deixa-me em êxtase!
Pois, coincidentemente, sou peixe nascido em março numa noite de temporal.Grande parte da infância foi junto às nascentes da encosta.
Tudo bem, à poetisa nada é impossível, tudo vem do seu sexto, sétimo e oitavo sentidos!
Mesmo assim pergunto: como foi que adivinhaste, de forma clara,essa minha relação com as águas das nascente do Crato?

Muita honra, cara! Valeu. Obrigado.

Roberto Jamacaru