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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Remorso, o modelo da mente segundo Freud e a Psicopatia.


A palavra remorso é de origem latina, vem de remorsus, particípio passado de remordere, que significa tornar a morder. Liga-se a satirizar, ferir, atormentar, torturar, atacar, dilacerar. Pela própria etimologia da palavra dá pra ter uma idéia, ainda que vaga, de como esse sentimento é – ou pode ser – doloroso e da angústia ou até mesmo vergonha que o acompanha. Isso vem da consciência de termos agido mal. Em outras palavras, o remorso é um sentimento sobre acontecimentos e atitudes do passado. É a sensação do que não era para ser dito, não era para ser feito. Mas, como esse sentimento nos invade? O que determina a “noção” do certo e do errado em nossa consciência e porque sentimos culpa e remorso?

Há inúmeras teorias sobre o assunto, desde as teorias freudianas até as recentes descobertas da neurologia sobre o processo de formação da personalidade, assimilação de conceitos sociais e morais de conduta, princípios éticos e comportamentais e, claro, seus desvios ou desequilíbrios. Uma em especial me encanta: a teoria do Id, do Ego e do Superego de Freud. Na verdade, esta teoria pretende ser um modelo de representação da mente humana. Acredito que a teoria pode ajudar na compreensão do fenômeno psíquico da manifestação do remorso. Em termos gerais trata-se do seguinte. O Id é a fonte de energia psíquica de uma pessoa, de origem orgânica e hereditária e que está ligada principalmente à libido, isto é, ao impulso sexual. O Id se apresenta na forma de instintos que impulsionam o organismo, estando relacionado a todos os impulsos não civilizados, de tipo animal. Em outras palavras, o Id é regido pelo princípio do prazer, ou seja, sua função é procurar o prazer e evitar o sofrimento. Localiza-se na zona inconsciente da mente, por isso não conhece a realidade objetiva, a “lei” ética e social. Por outro lado, temos o Superego. Este é o representante interno das normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigos e recompensas a nós impostos quando éramos crianças. Foi a partir deste sistema de castigos e recompensas que começamos a internalizar os valores e normas sociais. São nossos conceitos do que é certo e errado. O Superego nos controla e nos pune (através do remorso, do sentimento de culpa) quando fazemos algo errado, e também nos recompensa (sentimos satisfação, orgulho) quando fazemos algo meritório. O Superego é, portanto, o componente moral e social da personalidade. Na dimensão meso (intermediária) está o Ego, termo que significa “eu”, em latim. O Ego é o responsável pelo contato do psiquismo com a realidade, o mundo externo ao indivíduo. O Ego atua de acordo com o princípio da realidade, estabelecendo o equilíbrio entre as reivindicações do Id (inconsciente) e as exigências do Superego com relação ao mundo externo.

Estes conceitos acima podem parecer muito abstratos, mas podemos utilizar um exemplo prático para ilustrar como sentimos remorso a partir deles. Imaginemos a seguinte situação: hoje, segunda-feira, dia ensolarado. Se dependesse do Id eu deixaria de comparecer ao trabalho, dedicando-me a uma aprazível atividade de lazer como ir à praia ou ao parque. O Ego aconselharia ter mais prudência, talvez buscando uma oportunidade mais adequada para estas atividades. Já o Superego diria ser inaceitável faltar a um compromisso assumido com o chefe, os colegas de trabalho e outros empregados. Se deste conflito entre o que eu quero fazer e o que eu devo fazer prevalecer o “eu quero”, é muito provável que meu Superego me acusará, me fará sentir culpa, ou seja, a sensação de ter agido mal, remorso, vergonha.

É desta tensão, deste contínuo relacionamento entre as três forças da mente humana que surgem os conflitos e distúrbios psicológicos, pois o Superego é repressor e moral, enquanto o Id é movido pela busca incansável do prazer, e o Ego fica tentando arbitrar os inevitáveis conflitos entre o que a pessoa quer fazer e o que ela deve fazer.

Do ponto de vista social a culpa e o remorso são aceitáveis e necessários, desde que nas condições de “normalidade”. Em algum momento de nossas vidas sentimos remorso. Ele pode ser uma espécie de sinalizador de que nos preocupamos ou deveríamos nos preocupar com algo importante que temos a aprender. E assim servir de aprendizado para que possamos fazer melhores escolhas no futuro. Assim como os desejos sexuais, a vida em sociedade exige a repressão de alguns instintos. Portanto, se você nunca sentiu remorso em sua vida, das duas uma: ou você é um santo - o que significa que o Ego está sabendo equilibrar as reivindicações do Id com as exigências do Superego - ou é um psicopata, ou seja, você pode até saber que fez algo errado, mas não sentirá que fez algo errado, o que se explica como uma doença mental grave.

4 comentários:

Claude Bloc disse...

Bem vindo ao Cariricaturas.

Seu texto deixa muito bem delineada a questão do remorso e de quanto isto vem a se tornar doloroso para quem tem consciência de seus atos.

Claude

socorro moreira disse...

Prof. Júnior, tomei um susto de alegria , quando li a sua postagem. Assunto sério, reflexão e conhecimento necessário.
A casa é sua, viu ?
Na qualidade de voluntários nada nos é cobrado , mas é uma delícia trocar pensamentos.
Já apostei nos seus !


Um grande abraço.

Liduina Belchior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Liduina Belchior disse...

Professor Júnior,

Gostei muito de suas informações freudianas.
Existe outro fator preocupante na Psicopatia: a pessoa acometida por esta Patologia,também não experimenta
os sentimentos de:GRATIDÃO e de EMPATIA;dentre outros.Sentimentos tão
necessário á sanidade mental.
Parabéns pelo texto.
Abraços: Liduina.