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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 7 de novembro de 2009

Torquato Neto - Por Márcio Pinheiro



"Pra mim, chega" foi uma das últimas frases escritas por Torquato Neto. Estava no bilhete de despedida encontrado ao lado do seu corpo quando ele se suicidou na madrugada de 9 de novembro de 1972. Pra mim chega (Casa Amarela, 234 páginas, R$ 36) é também o nome da biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz, um curitibano de 57 anos que em 2002 havia publicado O bandido que sabia latim, a biografia de outro poeta, Paulo Leminski.

Resultado de anos de pesquisa, que incluem a realização de 73 entrevistas com pessoas próximas a Torquato – apenas Gal Costa, Maria Bethânia, Waly Salomão, Gilberto Gil e Dedé Gadelha (ex-mulher de Caetano) se negaram a falar –, Pra mim chega teve uma trajetória polêmica, trocando de editora (começou na Record e acabou na Casa Amarela, que publica a revista Caros amigos) e sendo desaprovado pela viúva de Torquato, Ana Maria Duarte. O motivo pode ter sido a revelação do relacionamento de Torquato com Caetano Veloso, que é desmentido pelo músico. "Se você me perguntar se nós éramos namorados, amantes ou coisa assim, eu posso garantir: não!"

De resto, o Torquato que emerge do livro é o personagem atormentado que já era conhecido através dos relatos dos amigos, parceiros e parentes. O garoto tímido, filho único de uma família piauíense, que desde cedo gostava de ler os poetas Castro Alves, Olavo Bilac, Fagundes Varela e Gonçalves Dias e que aos 15 anos pede ao pai que o transfira para uma escola de Salvador, onde se aproxima de Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Com eles, se muda para o Rio. Trabalha em jornais e revistas, produz letras de música, dirige e atua em filmes.

Quando a barra começou a pesar, com a decretação do AI-5 em dezembro de 1968, Torquato estava em um cargueiro dos correios britânicos, a caminho de Londres. "Vou embora porque alguma coisa vai explodir por aqui", profetizou ele aos amigos que o levaram ao porto. Na temporada européia, dividiu-se entre a Inglaterra e a França, mas quando retornou ao Brasil no começo dos anos 70 não estava muito melhor: havia rompido com os amigos tropicalistas e do cinema novo, declarava se sentir mais deprimido e – por vontade própria – se internou no sanatório do Engenho de Dentro, sendo tratado com doses fortes do calmante Mutabon D. Numa de suas últimas colunas falava de Luiz Melodia e elogiava a música Farrapo humano. Que diz: "Eu choro tanto escondo e não digo / Viro farrapo tento suicídio".

Por Márcio Pinheiro

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