Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 13 de dezembro de 2009

O Convite - por Roberto Jamacaru



Correio!!!

O grito do carteiro ecoou casa adentro!
Ao abrir o envelope Marcos viu que se tratava de um convite para uma “Festa de Arromba” destinada aos amantes da Jovem Guarda de sua cidade.
Sacudindo a memória pensou com seus botões: “Eu Daria a Minha Vida” para participar desse acontecimento. Afinal, “Eu sou Terrível”, não tenho um “Coração de Papel”, mas amo meu passado com muita “Ternura”!
De imediato procurou reunir novamente a turma dos cinquentões/sessentões, pois, assim como ele, essa gente também amava Roberto Carlos, Erasmo, Wanderléa, Renato e seus Blue Caps, Leno e Lilian, Os Vips e tantos outros ídolos musicais dessa época.
No rápido diálogo ao telefone com um desses componentes, o “Papo Firme” foi o seguinte:

- Olha, bicho, prepare-se para reviver os embalos do “iê, iê, iê”... E pode vir quente que eu já estou fervendo, pois o baile vai ser uma brasa, mora!

Só que, nessa festa dos “Velhinhos Transviados”, havia uma exigência básica: todos os convidados deveriam se apresentar à caráter. Isto obrigou Marcos a tirar do velho baú, o sonho que adormecia. Estava lá, quase intacto, o kit da Jovem Guarda composto de: medalhão, camisa brilhosa, jaquetão preto, cinto de fivela larga, calça boca-de-sino; alguns anéis e um par de botas com saltos ligeiramente altos.
Pronto! Era tudo que ele precisava para reincorporar o “Negro Gato!”.
Porém, ao tentar se travestir, percebeu, apavorado, que suas medidas estavam desajustadas dentro do velho kit. Olhou para o topete, para a pança, para os músculos, para o traseiro e viu que a quilometragem e a Lei da Gravidade haviam alterado seu leiaut, ou seja, ficou careca, barrigudo, flácido e com a bunda reta que nem uma tábua.
Mas pensou: tudo bem, corpo meu, “Tu não presta, mas eu te amo...”.
E foi com esse apelo à auto-estima que o “Lobo Mau” ressurgiu das cinzas!
Até porque, examinando bem, segundo ele mesmo, nem tudo ali estava perdido. O “Gatão” ainda dispunha de outras armas secretas para conquistar os “Babys” do lugar. A primeira era que, embora coroa, ele ainda tinha molho. A segunda era o seu olhar que julgava ser estonteante. Na falha dessas duas primeiras estratégias, com certeza ninguém iria resistir à sua voz... Ela tinha o tom aveludado! Finalizando a tática, ele ainda apostava no seu “Estúpido Cupido” que, mesmo estando sem muita alegria nas últimas décadas, pelos cálculos, à base de duas doses de cuba-libre e tira gosto de amendoim, ele ainda conseguiria dar u-m-a... d-u-... Bom, essa era uma “Prova de Fogo!”, “Tremendão” é que ele não poderia deixar de ser!
Na garagem, o “Carango” (um zelado Carmanguia), já estava “Barra Limpa”. O aceso ao local do baile era o mesmo das tertúlias anteriores: iniciava com a descida pela “Rua Augusta”, de preferência a 120 km por hora. Em seguida, avançava o sinal, parava na contra mão e com isso deixava de ser mais um “Alguém na Multidão”.
Finalmente ele chegou ao local do baile!
Na entrada estavam presentes “O rádio e a televisão; cinema, mil jornais, muita gente, confusão!”. As “Gatinhas Manhosas e as Coisinhas Estúpidas”, enlouquecidas, o assediavam chamando de Pão, ao mesmo tempo em que tentavam roubar-lhe um beijo.
Com o ego nas alturas, Marcos subiu ao palco e, assumindo o microfone, rasgou com o conjunto os sucessos da época: Menina linda, Doce de Coco, A Primeira Lágrima, Até o Fim, Namoradinha de Um Amigo Meu, Pobre Menina, entre tantos outros.
No retorno ao dancing encontrou-se com seu “Tijolinho”, Rose, que ainda hoje se mantém como o seu “Primeiro Amor”.
Isolados, no centro da roda que se formara, os dois passaram a exibir tudo que sabiam em termos de passes do iê, iê, iê! O público foi ao delírio e pediu bis!
A festa rompeu a madrugada e o sonho parecia não acabar!
Em determinado momento, porém, os sons e as imagens começaram a ficar cada vez mais inaudíveis... Desaparecendo... Nebulosas... Quase sumindo... Sumindo... Su...
De repente...

- Hei, Painho, acorde, já é tarde!
Eu tenho um trabalho da faculdade para ser feito e preciso acessar a internet no seu computador!

- Hã? O quê? Onde? O que está acontecendo? E a música? Filha, cadê o baile?

- Baile? Pirou de vez, velho? Sei lá dessa história de baile!
O que eu vi mesmo foi o senhor dormindo e delirando nessa cama. Dizia também umas palavras meio doidas como “É uma brasa! Bicho! Meu tijolinho, Amapola...” e outras mais. O que significa isso, painho, o senhor estava xingando maínha?

- Claro que não, filha, estava só “Pensando Nela”, morou?

- Morou? O que é isso?

- Nada, nada! “Esqueça”, filha.
São apenas “Detalhes”... “Detalhes tão pequenos de nós dois” dos quais você é um doce fruto deles!


Por Roberto Jamacaru

4 comentários:

Stela disse...

Muito, muito bom! Amei deveras e embarquei nessa festa de arromba sonhada pelo Marcos que Roberto criou.

Elinalva Bastos disse...

Gostei tanto que me imaginei participando da festa.
São tantas recordações...
Abraços

Roberto Jamacaru disse...

Amigas Stela e Elinalva

Obrigado pelo embarque nessa imaginação,gosto de voar! Incentivos valorizam a criação.
É... mesmo que não conheceu o Movimento da Jovem Guarda, quando ouve alguma canção ou comentário a respeito se apaixona por ele.
Nada melhor, então, que recordá-lo.
Abraços

Roberto

Claude Bloc disse...

Sintonizei!
Demais o seu texto.