Correio!!!
O grito do carteiro ecoou casa adentro!
Ao abrir o envelope Marcos viu que se tratava de um convite para uma “Festa de Arromba” destinada aos amantes da Jovem Guarda de sua cidade.
Sacudindo a memória pensou com seus botões: “Eu Daria a Minha Vida” para participar desse acontecimento. Afinal, “Eu sou Terrível”, não tenho um “Coração de Papel”, mas amo meu passado com muita “Ternura”!
De imediato procurou reunir novamente a turma dos cinquentões/sessentões, pois, assim como ele, essa gente também amava Roberto Carlos, Erasmo, Wanderléa, Renato e seus Blue Caps, Leno e Lilian, Os Vips e tantos outros ídolos musicais dessa época.
No rápido diálogo ao telefone com um desses componentes, o “Papo Firme” foi o seguinte:
- Olha, bicho, prepare-se para reviver os embalos do “iê, iê, iê”... E pode vir quente que eu já estou fervendo, pois o baile vai ser uma brasa, mora!
Só que, nessa festa dos “Velhinhos Transviados”, havia uma exigência básica: todos os convidados deveriam se apresentar à caráter. Isto obrigou Marcos a tirar do velho baú, o sonho que adormecia. Estava lá, quase intacto, o kit da Jovem Guarda composto de: medalhão, camisa brilhosa, jaquetão preto, cinto de fivela larga, calça boca-de-sino; alguns anéis e um par de botas com saltos ligeiramente altos.
Pronto! Era tudo que ele precisava para reincorporar o “Negro Gato!”.
Porém, ao tentar se travestir, percebeu, apavorado, que suas medidas estavam desajustadas dentro do velho kit. Olhou para o topete, para a pança, para os músculos, para o traseiro e viu que a quilometragem e a Lei da Gravidade haviam alterado seu leiaut, ou seja, ficou careca, barrigudo, flácido e com a bunda reta que nem uma tábua.
Mas pensou: tudo bem, corpo meu, “Tu não presta, mas eu te amo...”.
E foi com esse apelo à auto-estima que o “Lobo Mau” ressurgiu das cinzas!
Até porque, examinando bem, segundo ele mesmo, nem tudo ali estava perdido. O “Gatão” ainda dispunha de outras armas secretas para conquistar os “Babys” do lugar. A primeira era que, embora coroa, ele ainda tinha molho. A segunda era o seu olhar que julgava ser estonteante. Na falha dessas duas primeiras estratégias, com certeza ninguém iria resistir à sua voz... Ela tinha o tom aveludado! Finalizando a tática, ele ainda apostava no seu “Estúpido Cupido” que, mesmo estando sem muita alegria nas últimas décadas, pelos cálculos, à base de duas doses de cuba-libre e tira gosto de amendoim, ele ainda conseguiria dar u-m-a... d-u-... Bom, essa era uma “Prova de Fogo!”, “Tremendão” é que ele não poderia deixar de ser!
Na garagem, o “Carango” (um zelado Carmanguia), já estava “Barra Limpa”. O aceso ao local do baile era o mesmo das tertúlias anteriores: iniciava com a descida pela “Rua Augusta”, de preferência a 120 km por hora. Em seguida, avançava o sinal, parava na contra mão e com isso deixava de ser mais um “Alguém na Multidão”.
Finalmente ele chegou ao local do baile!
Na entrada estavam presentes “O rádio e a televisão; cinema, mil jornais, muita gente, confusão!”. As “Gatinhas Manhosas e as Coisinhas Estúpidas”, enlouquecidas, o assediavam chamando de Pão, ao mesmo tempo em que tentavam roubar-lhe um beijo.
Com o ego nas alturas, Marcos subiu ao palco e, assumindo o microfone, rasgou com o conjunto os sucessos da época: Menina linda, Doce de Coco, A Primeira Lágrima, Até o Fim, Namoradinha de Um Amigo Meu, Pobre Menina, entre tantos outros.
No retorno ao dancing encontrou-se com seu “Tijolinho”, Rose, que ainda hoje se mantém como o seu “Primeiro Amor”.
Isolados, no centro da roda que se formara, os dois passaram a exibir tudo que sabiam em termos de passes do iê, iê, iê! O público foi ao delírio e pediu bis!
A festa rompeu a madrugada e o sonho parecia não acabar!
Em determinado momento, porém, os sons e as imagens começaram a ficar cada vez mais inaudíveis... Desaparecendo... Nebulosas... Quase sumindo... Sumindo... Su...
De repente...
- Hei, Painho, acorde, já é tarde!
Eu tenho um trabalho da faculdade para ser feito e preciso acessar a internet no seu computador!
- Hã? O quê? Onde? O que está acontecendo? E a música? Filha, cadê o baile?
- Baile? Pirou de vez, velho? Sei lá dessa história de baile!
O que eu vi mesmo foi o senhor dormindo e delirando nessa cama. Dizia também umas palavras meio doidas como “É uma brasa! Bicho! Meu tijolinho, Amapola...” e outras mais. O que significa isso, painho, o senhor estava xingando maínha?
- Claro que não, filha, estava só “Pensando Nela”, morou?
- Morou? O que é isso?
- Nada, nada! “Esqueça”, filha.
São apenas “Detalhes”... “Detalhes tão pequenos de nós dois” dos quais você é um doce fruto deles!
Por Roberto Jamacaru
4 comentários:
Muito, muito bom! Amei deveras e embarquei nessa festa de arromba sonhada pelo Marcos que Roberto criou.
Gostei tanto que me imaginei participando da festa.
São tantas recordações...
Abraços
Amigas Stela e Elinalva
Obrigado pelo embarque nessa imaginação,gosto de voar! Incentivos valorizam a criação.
É... mesmo que não conheceu o Movimento da Jovem Guarda, quando ouve alguma canção ou comentário a respeito se apaixona por ele.
Nada melhor, então, que recordá-lo.
Abraços
Roberto
Sintonizei!
Demais o seu texto.
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